terça-feira, 1 de maio de 2012

Jim Jones, o pastor do diabo e a maior tragédia religiosa de todos os tempos

A Tragédia de Jim Jones, 30 Anos Depois.
Publicado originalmente 22/11/2008
No dia 18 de novembro de 1978, um fanático religioso levou mais de 900 seguidores ao suicídio coletivo, numa das maiores tragédias com motivação religiosa da história.

Há exatos 30 anos, no dia 18 de novembro de 1978, ocorreu uma das maiores tragédias com motivação religiosa de todos os tempos. Naquela data, 909 seguidores da seita Templo do Povo, comandada pelo fanático James Warren Jones (o Jim Jones), cometeram suicídio coletivo na comunidade agrícola conhecida como Jonestown, na Guiana. O corpo de Jones foi encontrado junto ao de seus fiéis, com um ferimento a bala na cabeça.

O episódio foi o ponto culminante de uma história iniciada anos antes, quando Jim Jones, nascido no estado americano de Indiana, começou a reunir seguidores – em sua maioria, pessoas pobres e marginalizadas, muitas delas negras, que foram atraídas com promessas de uma vida melhor ao lado do pregador. O sonho de uma comunidade alternativa se concretizou em 1977, quando Jones e os adeptos da seita migraram para a Guiana. Jonestown era uma comunidade auto-suficiente, à semelhança do kibutzin israelense, estabelecida no meio da selva amazônica.

Isolados, seus moradores viviam à margem do mundo, na Guiana (América do Sul). Viviam isolados, sem qualquer contato com o mundo exterior, sob pena de castigos que podia chegar a espancamentos públicos. Era absolutamente proibido opinar acerca das regras estabelecidas e uma das rotinas obrigatórias eram as longas pregações do líder.

Conta-se que os seguidores eram obrigados a satisfazer todos os caprichos de Jones. O dirigente podia escolher suas mulheres entre as seguidoras e interferir diretamente na maneira como as crianças deveriam ser educadas. O mundo só tomou conhecimento de que algo de muito grave acontecia na América do Sul quando o congressista americano Leo Ryan foi executado durante uma visita à seita. Ele foi até Jonestown a pedido de seus eleitores, acompanhado por dois jornalistas, e passou alguns dias conhecendo as instalações e o modo de vida imposto por Jones.

Procurado por fiéis que desejavam desesperadamente sair dali, o deputado conseguiu transporte aéreo para levar um grupo de volta aos Estados Unidos. Antes do embarque, contudo, os homens de Jones mataram todos a tiros numa emboscada.

Jim Jones apercebeu-se que o fim da seita estava próximo, pois àquela altura o governo americano já montava uma força tarefa para acabar com a comunidade e libertar os fiéis, já considerados prisioneiros de um fanático. O falso pastor, então, reuniu todo rebanho para o último sermão. Falou dos inimigos, dizendo que a morte era melhor que a rendição aos infiéis. A certa altura, num ato extremo, exigiu que todos ingerissem um refresco com cianeto, um veneno mortal. Adultos, crianças e idosos obedeceram de bom grado, na expectativa de que a morte lhes abrira aporta para uma vida nova. Três seguidores de Jones, que conseguiram fugir antes do suicídio coletivo, sobreviveram para contar em detalhes as histórias de horror de Jonestown.

Vídeo: Fantástico - O Suicídio em Massa dos Membros da Seita de Jim Jones 28/11/1978


Sobrevivente diz que perdoa
Jim Jones




De volta ao templo domedo. Esta semana, fez 30 anos que mais de 900 pessoas, comandadas pelo fanático Jim Jones, cometeram suicídio coletivo, tomando refresco envenenado. O clima na seita era de terror permanente. Jim Jones – paranóico, bêbado, drogado – tinha controle completo sobre seus fiéis.


Os repórteres Álvaro Pereira Júnior e Américo Figueiroa viajaram ao local do massacre, num ponto perdido na selva da Guiana, em busca de vestígios das vidas que um dia existiram ali.


Nos Estados Unidos, localizamos uma das pouquíssimas sobreviventes da seita. Ela fugiu para a floresta e escapou do horror.


"Morram, morram com alguma dignidade. Vamos acabar logo com isso. Acabar logo com essa agonia". Quem fala é o fanático Jim Jones, o líder da seita templo dos povos. Em um ponto perdido na selva da Guiana, ele comandava o suicídio coletivo de seus mais de 900 seguidores. O dia é 18 de novembro de 1978.


Como essa gente chegou a uma situação tão dramática? Quem era Jim Jones? Quais marcas trazem hoje os poucos sobreviventes do massacre?


Trinta anos depois, o que restou de Jonestown, a vila que Jim Jones mandou erguer em plena selva? Essa é uma das regiões onde foi encontrada a maioria dos corpos.


Filho de pai alcoólatra, que não trabalhava, Jim Jones era obcecado, desde a infância, por morte e religião. Nos anos 50, fundou o ‘Templo dos Povos’ em Indiana, Estados Unidos, depois de fazer um curso de pastor por correspondência. Na época, ele defendia uma sociedade cristã igualitária, "onde não há ricos ou pobres. Onde não há raças".


Com idéias assim, não havia lugar para Jones na conservadora Indiana. Em 1962, ele veio parar em Belo Horizonte, onde viveu, com a família, cerca de um ano. Era um vizinho misterioso. “Era muito fechado, ele não batia papo com ninguém”, lembra a aposentada Terezinha Machado.


De volta aos Estados Unidos, Jim Jones e seus seguidores, na grande maioria negros, se mudaram para a Califórnia. Primeiro para o interior, depois para a rebelde San Francisco.


Leslie Wilson, uma das poucas sobreviventes, tinha só 13 anos quando se juntou ao Templo dos Povos. “Minha irmã, Michelle, se envolveu com drogas. Então uma amiga da minha mãe disse que havia um lugar que oferecia tratamento de reabilitação para dependentes", ela conta.


Carismático, Jones se aproximou de políticos, virou até secretário de habitação. Mas era um tirano no templo, onde exigia ser chamado de pai e o Deus era ele mesmo. "Vêem Cristo em mim", ele dizia.


No altar, se vangloriava por fazer sexo com mulheres e homens da seita. “Ele dormia com homens, e se gabava disso no púlpito", lembra Leslie.


Em 1977, Jim Jones descobriu que sua farsa começava a desmoronar. Uma revista iria revelar que a seita tomava dinheiro e propriedades dos fiéis. Era uma central de terror, violência, isolamento, falsos milagres, abusos psicológicos e sexuais. Em questão de horas, apavorado com as denúncias da revista, ele ordenou a fuga para a Guiana. Sem dar satisfação para amigos e parentes, os fiéis obedeceram.


Nesse país pobre da América do Sul, alguns seguidores construíam, havia três anos, uma vila de 12 quilômetros quadrados: Jonestown. A mãe, o irmão, a irmã, o marido de Leslie, e o filho do casal, Jakari, de 3 anos, e mais dois sobrinhos se mudaram para a comunidade.


Leslie, desconfiada, chegou só dois meses depois, movida por uma intuição. "Se você não for agora, nunca mais vai ver seu filho", afirma Leslie.


Passados 30 anos, nós refizemos o caminho até o Templo dos Povos. Partimos da capital, a pequena e violenta Georgetown. Começa agora a nossa jornada por terra, mar e rios até o interior do país, até o que restou dotemplo de Jim Jones.


Viajamos uma hora de carro. Depois, debaixo de chuva, 45 minutos em um pequeno barco. Mais uma hora de carro e chega a última etapa: seis horas e meia em uma voadeira, floresta adentro.


É curioso imaginar o que aquelas pessoas, que vinham de uma das regiões mais urbanizadas e ricas do mundo, a Califórnia, sentiram ao desembarcar na selva da Guiana.


Chegamos finalmente ao vilarejo mais próximo de Jonestown: Port Kaituma. Guias locais nos levam por mais dez quilômetros sem asfalto até a terra prometida de Jim Jones. Nesta região, ficava o chamado “pavilhão”, que é onde as pessoas se reuniam para as cerimônias principais em Jonestown.


Ainda existem vestígios da comunidade: o que restou de um caminhão na selva da Guiana, um pedaço de um torno, uma secadora de grãos, um forno. O refeitório ficava mais ou menos nessa área.


No auge, Jonestown fervilhava. Quase mil pessoas trabalhavam seis dias por semana, 10 horas por dia, tentando cultivar uma terra estéril. Faltava comida. A higiene era nenhuma. "Usávamos jornal em vez de papel higiênico", conta a sobrevivente.


A única fonte de informações era o serviço de alto-falantes. Nele, só se ouvia a voz de Jim Jones, 24 horas por dia. Cada vez mais paranóico, sob o efeito de álcool, anfetaminas e tranqüilizantes, o pastor via perigo e traição em todos os cantos. A quem desejava ir embora, disparava acusações de blasfêmia.


O grupo viveu cerca de um ano esquecido na selva, até que recebeu a visita de um deputado, Leo Ryan, e de jornalistas da Califórnia. Eles investigavam denúncias de que Jonestown era um campo de concentração e de trabalhos forçados. No começo, Ryan, recebido com festa, ficou fascinado. Disse ter a impressão de que aquilo era a melhor coisa da vida de muitas daquelas pessoas.


"Era tudo uma farsa", revela Leslie.


Jim Jones tinha ordenado que todos vestissem suas melhores roupas e parecessem felizes, mas os visitantes começaram a receber bilhetes com pedidos de ajuda para fugir. Era sábado, 18 de novembro. Os jornalistas questionaram Jim Jones. Com a fala arrastada, ele disse que era tudo mentira.


Instala-se a confusão. "Devolva meu filho", grita uma mãe.


Um fanático tenta esfaquear o deputado. É contido, mas deixa a marca do próprio sangue na camisa de Leo Ryan. O cenário é de caos. A comitiva leva consigo 15 pessoas que abandonavam o templo.


Enquanto isso, Leslie, o filho Jakari e outros sete dissidentes fogem pela mata. A família dela não queria ir embora. Leslie disse para a mãe que iria a um piquenique. “Ela perguntou ‘um piquenique?’, e me olhou desconfiada. Então, eu disse: ‘Eu te amo muito’. Ela respondeu: ‘Eu te amo também’".


O deputado e os fugitivos chegam à pequena pista de Port Kaituma. "Um trator começou a se aproximar dos aviões. E eu ouvi pop, pop, pop”, lembra o jornalista sobrevivente Charles Krause.


O deputado Leo Ryan é assassinado, assim como três jornalistas e uma das pessoas que tentavam fugir de Jonestown. Foram 11 feridos e cinco mortos.


Em Jonestown, o pastor anuncia: o deputado está morto. "Por favor, tragam a medicação". A medicação é, na verdade, refresco misturado com cianeto, um veneno mortal. Julgando-se sem saída, Jones viu como último recurso o suicídio de todos os fiéis.


Todas as 303 crianças recebem a dose de veneno – muitas dadas pelos pais. Algumas mães hesitam. "Mãe, mãe, mãe, mãe, não faça isso", pede o pastor.


Agora, os adultos tomam o veneno. "Rápido, rápido, rápido! Se não podemos viver em paz, vamos morrer em paz”, gritava o pastor.


Jim Jones é um dos últimos vivos. "Não cometemos suicídio", ele diz. "Cometemos um suicídio revolucionário contra um mundo desumano".


Logo em seguida, silêncio. Jim Jones não tomou veneno. Morreu com um tiro na cabeça. Disparado por quem, até hoje não se sabe. Leslie, que perdeu seis parentes no massacre, diz que perdoa Jim Jones. “Eu o perdôo por ser o maníaco que era”, diz Leslie Wilson.


Mas a culpa por fugir sem a família a persegue até hoje. “Será que a minha mãe pensou que eu os abandonei? Que deixei para trás meu irmão e minha irmã? Será que eles pensaram isso de mim? Essa culpa me corroeu por dentro durante anos”, conta Leslie.


Agora, o governo da Guiana fala em construir um monumento aos mortos. Semana passada, limparam parte doterreno e até placas foram instaladas. A idéia é que o suicídio em Jonestown não desapareça da história.


Mas as autoridades podem ter certeza de que mesmo que o monumento jamais seja construído, o mundo nunca vai esquecer do que aconteceu no dia 18 de novembro de 1978.


Foram mais de 900 mortos. Uma carta anônima, escrita por um membro da seita pouco antes de morrer, resume os momentos finais. "A escuridão paira sobre Jonestown em seu último dia na Terra".


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