domingo, 3 de fevereiro de 2013

Morreu Bruno Portella Fricks, a 237ª vítima do incêndio de boate de Santa Maria

Número de mortos em incêndio de boate de Santa Maria sobe para 237
Incêndio na boate Kiss ocorreu na noite do último domingo (27).
Bruno Portella Fricks estava no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Bruno Portella Fricks se formou no ano passado
e comemorava seu aniversário na boate
 (Foto: Facebook)
O número de vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, subiu para 237 na noite deste sábado (2). Bruno Portella Fricks, que estava internado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, não resistiu aos ferimentos. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul. O incêndio atingiu a casa noturna na noite de domingo (27).

Bruno morava em Santa Maria e era formado em administração de empresas pela Universidade Federal de Santa Maria e era torcedor do Grêmio. Ele estava internado na UTI do Hospital de Clínicas. Sua namorada, Jéssica Duarte, também estava na festa e está internada em Porto Alegre.

Jéssica Duarte da Rosa, 20 anos, estuda na Universidade Federal de Santa Maria e estava na boate Kiss para comemorar o aniversário do namorado Bruno Portella Fricks, 22 anos. Ela continua internada em estado grave em hospital de Porto Alegre

Como aconteceu 

O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.

Sem conseguir sair do estabelecimento, pelo menos 236 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.

A tragédia, que teve repercussão internacional, é considerada a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos últimos 50 anos no Brasil. Jéssica Duarte da Rosa, 20 anos, estuda na Universidade Federal de Santa Maria e estava na boate Kiss para comemorar o aniversário do namorado Bruno Portella Fricks, 22 anos. Os dois estão internados em estado grave em hospitais de Porto Alegre.

Corpo de 237ª vítima de incêndio na Kiss é velado em Santa Maria
Jovem Bruno Portella Fricks se formou em administração em 2012.
A namorada Jéssica Duarte segue internada em hospital de Porto Alegre.


O corpo do administrador Bruno Portella Fricks, a 237ª vítima do incêndio da boate Kiss, está sendo velado neste domingo (3) no Cemitério Santa Rita, em Santa Maria. O jovem teve a morte confirmada às 22h de sábado (2) em Porto Alegre, onde estava internado no Hospital das Clínicas com graves queimaduras. O enterro será na segunda-feira (4) às 10h.

Além dos familiares, amigos da faculdade, do trabalho e vizinhos se despedem de Bruno. Natural de Júlio de Castilhos, morava em Santa Maria desde os dois anos de idade. "Fiquei no hospital e na quinta-feira, quando contamos que o Grêmio tinha ganhado o jogo no dia anterior, ele sorriu", lembrou emocionada a tia Tânia Pires Fricks. Bruno está sendo velado com o caixão aberto, coberto por uma bandeira do Grêmio.

Elogios não faltam para descrever o jovem. O pai de Jéssica Duarte, namorada do administrador, está bastante abalado. A filha, que estava com Bruno na festa, continua internada na UTI no Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, em estado grave. O casal comemorava cinco anos de namoro na festa universitária que ocorria na boate, além do aniversário de Bruno. Ele havia completado 22 anos no dia 21 de janeiro.

"É um menino decente, estudioso, trabalhador. Não se envolvia com nada errado", descreveu Claudio. Sobre o estado da filha, se agarra à esperança: "Não sei se existe filho perfeito, mas a minha filha é. Nunca me deu motivo para preocupação. É uma garota exemplar".

Bruno trabalhava em uma empresa de logística em Santa Maria havia seis meses. "A Jéssica me ligou 4h30 dizendo que estava no hospital aqui de Santa Maria, toda queimada, e perguntando pelo Bruno. Disse que tinha ocorrido uma tragédia na boate e gritava: 'pai, avisa os pais do Bruno, eu me perdi do Bruno", lembrou Claudio.

Naquela noite, Claudio ligou para os pais do administrador avisando sobre a tragédia. Ele ficou sabendo que o genro estava consciente quando chegou no hospital e perguntava pela namorada. "A Jéssica teve queimaduras nos braços, nas costas e nas pernas. O estado do Bruno era mais grave, ele teve queimaduras no rosto. Mas na terça e quarta-feira, os médicos nos falaram que ele havia melhorado e, dentre os que estavam internados em Porto Alegre, era o que mais estava correspondendo ao tratamento. Na quinta-feira o quadro se inverteu", disse o sogro com pesar.

Segundo Claudio, Jéssica e Bruno se conheceram ainda no colégio e logo começaram a namorar. No último Natal, Tânia conta que a família brincava com o casal sobre casamento. "Ele sempre foi um menino muito alegre e arteiro", comentou a tia.

Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, deixou 237 mortos na madrugada do último domingo (27). O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco. De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento por investigadores:
- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso.
- Era comum a utilização de fogos pelo grupo.
- A banda comprou um sinalizador proibido.
- O extintor de incêndio não funcionou.
- Havia mais público do que a capacidade.
- A boate tinha apenas um acesso para a rua.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido.
- Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros.
- 90% das vítimas fatais tiveram asfixia mecânica.
- Equipamentos de gravação estavam no conserto. 

Jovem de Santa Maria cria ONG para fiscalizar boates

No dia seguinte ao incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, que matou 237 pessoas há uma semana, o estudante Giordano Goellner, de 23 anos - ele próprio frequentador assíduo da casa noturna - disse a si mesmo que não deixaria a tragédia que abalou sua cidade natal passar em branco.

Junto com outros sete amigos, Goellner, que estuda Administração de Empresas na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), decidiu criar a ONG 'Andradas Viva', cujo objetivo é fiscalizar, com a ajuda das redes sociais, locais de grande reunião de público e verificar se tais estabelecimentos estão cumprindo as normas de segurança previstas na legislação.

"Nosso intuito é, com a ajuda de nossos colaboradores, saber se o estabelecimento comercial está adequado às normas básicas de segurança. Para isso, vamos contar com a ajuda da nossa página na Internet e das redes sociais", diz Goellner à BBC Brasil.

O nome da entidade, 'Andradas Viva', faz alusão à rua onde a boate Kiss está localizada, até então um dos principais pontos de encontro de vários jovens da cidade, incluindo inúmeros estudantes da UFSM que morreram no trágico episódio.
Conscientização
Além da fiscalização, que inicialmente se concentrará nas casas noturnas, Goellner explica que também quer conscientizar a população sobre seus direitos e pressionar as autoridades para a alteração de leis que, em sua opinião, estão "atrasadas".

''Até o incêndio na Kiss, eu, por exemplo, não sabia quais equipamentos de segurança uma boate precisaria ter", comenta Goellner.

"Também queremos pressionar as autoridades para mudar algumas leis retrógradas, em relação, por exemplo, aos prazos longos que donos de alguns estabelecimentos têm se adequar a certas normas, como alarmes de incêndio".

Sorte
Goellner conta que por pouco não foi uma das vítimas da tragédia em Santa Maria. Ele e sua namorada já haviam combinado de ir à Kiss na noite do último sábado, 26 de janeiro, mas mudaram os planos.
"Uma amiga nossa sentiu um mal estar e desistimos de sair". Entretanto, vários conhecidos do jovem morreram no incêndio. Um dos amigos de Goellner, que também é integrante da ONG e estava na boate no dia do incidente, conseguiu sair minutos antes de o fogo começar. "Ele, porém, perdeu 15 amigos", lamenta o jovem. "Não podemos mudar o passado, mas esperamos evitar que, no futuro, tragédias como essa voltem a acontecer", diz Goellner. "Queremos transformar nossa revolta em resultado", afirmou.

Vítimas
A Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul confirmou que o número de vítimas fatais da tragédia subiu para 237, com o anúncio oficial do óbito de Bruno Portella Fricks, de 22 anos, neste sábado.
Um total de 113 pessoas feridas no incêndio permanecem hospitalizadas, muitas delas em estado grave.
Cerca de quatro mil pessoas se reuniram para uma missa de sétimo dia neste sábado à noite, no Santuário Basílica Nossa Senhora da Medianeira de Todas as Graça, em Santa Maria.

Centenas de pessoas também se reuniram entre a noite de sábado e a madrugada deste domingo para uma vigília silenciosa nas imediações da boate Kiss, no centro de Santa Maria.

No sábado, o prefeito de Santa Maria, anunciou que a casa noturna Kiss será transformada em um memorial para as vítimas.


Luís Guilherme Barrucho *
Da BBC Brasil em São Paulo

* Colaborou Mariana Della Barba, da BBC Brasil em São Paulo

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