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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Síndrome de Leber. Doença rara deixa gêmeos cegos


Gêmeos relatam drama de perder a visão repentinamente por doença rara
Os britânicos Daniel e Michael Smith, de 20 anos, têm síndrome de Leber, que afeta apenas 150 pessoas no país.


Os gêmeos britânicos Michael e Daniel Smith, de 20 anos, estavam começando a vida universitária, quando repentinamente começaram a perder a visão.

Eles sofrem de uma rara doença genética incurável, a síndrome de Leber, que causa a morte das células no nervo ótico, impedindo o envio de informações entre os olhos e o cérebro.

Michael foi o primeiro a perceber que havia algo errado, logo depois da semana de calouros da escola de medicina que havia decidido cursar.
Gêmeos britânicos Michael e Daniel Smith, de 20 anos, perderam a visão no início da faculdade. (Foto: BBC)

"Um dia, eu não conseguia mais ver os rostos das pessoas, ou as palavras na tela do projetor. A partir daí, a cada manhã, minha visão ficava muito pior. Em duas ou três semanas, perdi de 80 a 90% da minha visão", disse Michael à BBC.

Seu irmão gêmeo recebeu a notícia com surpresa. "Michael e eu fomos inseparáveis por 19 anos até que nós dois saímos de casa para começar a universidade. Aí, apenas uma semana após nos separarmos, ele me telefona para dizer que algo estava estranho, ele não conseguia reconhecer as pessoas e não sabia o porquê", contou Daniel.


"Aquela conversa ainda me assombra. Os médicos acharam que ele tinha um tumor no cérebro, mas depois diagnosticaram a doença genética."

"Nuvem negra"
Daniel foi então informado de que, devido ao fato de eles serem gêmeos idênticos, ele tinha 60 a 70% de chance de também sofrer uma perda de visão.

"Foi muito difícil saber que uma nuvem negra estava pairando sobre a minha cabeça nos dois primeiros anos de universidade (de engenharia aeronáutica, em Bristol). Pelo menos agora, me sinto aliviado por saber onde estou", diz ele, que viu sua visão se deteriorar nos últimos três meses.

A síndrome de Leber normalmente se manifesta na adolescência ou juventude, mas em casos raros pode aparecer na infância ou mais tarde na vida adulta. Por razões desconhecidas, a doença aparece com mais frequência em homens que em mulheres.
Devido a sua raridade - apenas 150 pessoas sofrem da doença na Grã-Bretanha -, não há muitos estudos sobre a síndrome.

Bicicleta
Apesar das dificuldades causadas pela cegueira, os irmãos decidiram continuar seus estudos, mas Michael precisou abandonar a medicina para se dedicar à geografia, na Kings College London.

"Dez anos atrás, teríamos de abandonar a universidade, mas hoje há programas de computador e recebemos apoio para alunos com deficiências, então contamos com ajudantes durante a aula", disse Daniel à BBC.

Os gêmeos também vão pedalar 570 quilômetros, de Londres até Amsterdã, na Holanda, juntamente com outros ciclistas para arrecadar dinheiro para a ONG Blind in Business, que os ajudou desde o diagnóstico.

"Perder a visão tão jovem e ver meu irmão perdê-la também tornou necessário um processo intensivo de reabilitação, funcionalmente e emocionalmente, que colocou muita pressão na família."

"O desafio de bicicleta é nossa forma de dizer 'obrigado' pela ajuda."


Da BBC



Família brasileira é referência mundial para pesquisa inédita sobre doença rara que provoca cegueira

Cientistas brasileiros, americanos e italianos pesquisam em 300 membros da mesma família as causas e possíveis fatores de prevenção da Síndrome de Leber


Pesquisadores da Universidade Federal de SP (Unifesp), das Universidades da Califórnia e Milão uniram forças para realizar um projeto de pesquisa e descobrir a causa de uma doença que provocou cegueira em 30 parentes, em sete gerações de uma mesma família no Brasil.

A doença genética é chamada de Síndrome de Leber, e é transmitida da mãe para os filhos. A família capixaba Moschen, que reside em Colatina, ES, reúne o maior número de portadores do mal de que se tem notícia.

A missão, chefiada pelos cientistas Alfred Sadun (EUA) e Rubens Belfort (SP), conta com o patrocínio da Allergan.

Os cientistas querem entender porque alguns portadores do gene defeituoso ficam cegos e outros não, e se fatores ambientais influenciam no surgimento dos sintomas.

A pesquisa pode trazer a curto prazo um profundo conhecimento sobre a doença. O grupo recebeu Alphagan P - solução oftálmica para o tratamento de glaucoma que chega este mês ao Brasil - para testar sua capacidade de neuroproteção, que evita a perda do campo visual.

'É muito provável que substâncias úteis nesta doença também se apliquem para evitar a cegueira causada pelo glaucoma, já que as lesões no nervo óptico são semelhantes e a neuroproteção pode ser ainda melhor na Doença de Leber', destaca Belfort.

O que motivou a pesquisa foi a luta de Maria Odete Moschen para devolver a visão ao filho e para desvendar o mistério da Neuropatia Óptica Hereditária de Leber (NOHL), doença que atinge membros de sua família há mais de um século.

O filho de Maria Odete, Pedro Henrique, apresentou aos 14 anos os sintomas da Síndrome de Leber. Inconformada, ela pesquisou exaustivamente a Internet e acabou encontrando a International Foundation of Optic Nerve Diseases (Ifond), uma organização da Califórnia destinada ao estudo das doenças do nervo ótico.

Maria Odete entrou em contato com a fundação, que apoiou a vinda de cientistas americanos para o Brasil a fim de estudar a rara doença.

A equipe rumou para Colatina, ES, onde examinou cerca de 300 pessoas do ramo materno da família de Maria Odete. Durante duas semanas, eles fizeram exames epidemiológicos, neuro-oftalmológicos e de biologia celular, levantando informações para subsidiar as pesquisas sobre a NOHL.

Em dezembro, os cientistas voltam ao Brasil com mais informações e conclusões sobre a doença e, quem sabe, com algum sinal de cura.

'Já conseguimos levantar dados que sem dúvida são originais e inéditos mostrando a importância dos pacientes evitarem o consumo de certas substâncias como o cigarro, por exemplo. Também já temos o maior banco de dados genéticos sobre a Síndrome de Leber, o que sem dúvida nos ajudará num futuro próximo a identificar formas de preveni-la', comenta Rubens Belfort, da Unifesp.

A medicina acreditava que a Síndrome de Leber se manifestasse exclusivamente em homens. No entanto, das 30 pessoas da família Moschen que apresentaram o problema cerca de um terço são mulheres.

De acordo com Maria Odete eles perderam a visão em menos de 3 dias e tinham, na ocasião entre 10 e 30 anos.

A doença, que ainda é pouco estudada devido a sua raridade, foi identificada também em países como Inglaterra e Austrália, mas de acordo com os médicos, a família Moschen é, por ser mais numerosa, a que mais apresenta pessoas com o problema, sendo, portanto importante fonte de pesquisa.

A saga da família Moschen é narrada por Maria Odete no livro A trajetória de um sangue. No livro ela relata a história da família a imigração italiana no Brasil, com a chegada da bisavó Maria Franchi, em 1895, e a disseminação da Síndrome de Leber entre as 7 gerações da família.
(Assessoria de Imprensa da Unifesp)


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Cegos são garçons em restaurante 'no escuro' em Israel

Centro Nalaga’at treina cegos e surdos para serem garçons e atores.
Eles também atuam em peça com enredo feito de seus próprios sonhos.

Hadar, a jovem garçonete, guia o grupo que caminha com dificuldade, num trenzinho, até a mesa. Com cuidado, coloca cada um sentado em sua cadeira e explica o que há em frente. Diz que trará água, vinho e pão. Uma das pessoas começa a passar mal, e Hadar a coloca ao lado da parede, para que se sinta segura. A garçonete explica que tem um problema de visão que a impede de enxergar de noite. “Mas não é o caso de todos os garçons aqui. A maioria é cega.”
O Blackout é um restaurante no escuro, em que o cliente entra no mundo de quem o serve. Para não estragar a experiência, é proibido entrar com câmeras fotográficas e celulares. Os garçons caminham com um sino para não esbarrarem um nos outros, nem atrapalhar a desajeitada caminhada dos até 40 clientes que jantam ali a cada noite.
Situado num antigo depósito na região velha de Jaffa, em Tel Aviv, o Blackout é parte do projeto Nalaga’at, que integra e treina cegos e surdos em Israel. Além do restaurante, o local abriga um café com garçons surdos e um teatro com atores cegos-surdos. Atualmente eles empregam 70 deficientes.
“Acredito que todo mundo que vem aqui sai diferente. Acho que estamos fazendo uma revolução, porque não é só a vida dos cegos e surdos que muda, mas a de todo mundo ao redor”, explica a presidente-fundadora do centro, a suíça Adina Tal. Dramaturga e atriz, ela conta que nunca tinha tido contato com cegos e surdos até ser convidada a dar um workshop para deficientes. “Simplesmente não sabia como faria aquilo. Mas, quando cheguei, fui fumar e quem acendeu meu cigarro foi um cego. Aí comecei a entender a dinâmica e vi que eles têm sonhos e expectativas.”
Garçons 'ensinam' aos frequentadores como eles devem se comunicar com eles (Foto: Giovana Sanchez/G1)
Ela começou a ensaiar com o grupo, e em 2002 fez a primeira apresentação. Elogiados pela crítica, em dois anos eles estavam viajando pelo país e depois pelo mundo. “No começo me disseram que seria impossível. Eles precisam de interpretes e de muitos ensaios, pois só sabem que alguma coisa está acontecendo quando são tocados. Mas nós conseguimos. Hoje eles estão integrados no mundo, conseguem ter o sentimento de pertencimento. Até reclamam do salário [risos].”
O centro Nalaga’at foi criado em 2007, com o teatro -que hoje é responsável por 75% da renda do projeto- o Café Kapish e o Blackout. “No começo as pessoas achavam que estavam fazendo uma doação vindo aqui, pois não sabiam o que iam encontrar. E quando elas chegam e veem atores realmente bons, fazendo um bom trabalho, elas se surpreendem e falam para os amigos. Nosso marketing é todo de boca-a-boca.”
Café por mímica
À primeira vista, é um café normal. Mesas, cadeiras, garçons, música, meia-luz. Ao sentar, no entanto, o cliente percebe uma lousa com caneta e uma toalha com imagens de mímicas. Os garçons chegam para anotar os pedidos e se esforçam ao máximo para ler os lábios dos clientes. Em pouco tempo, todos no salão estão conversando por sinais e entrando no mundo dos surdos.
Ser garçom é o primeiro passo para quem chega no centro Nalaga’at. Alguns entendem os sinais em outras línguas, e muitos não precisam de tradutores. Kseniya Starisn, de 28 anos, explica por meio de uma intérprete que está há oito meses trabalhando no Café Kapish. “Minha vida mudou muito. Antes eu trabalhava na cozinha de um restaurante normal e eu era a única surda. Era muito difícil pra mim. Aqui conseguimos nos comunicar. É um lugar muito especial.”
O cardápio especial (Foto: Giovana Sanchez/G1)


Pão no palco
O centro Nalaga’at começou com o teatro. As peças são produções de até um milhão de shekels, o equivalente a cerca de R$ 600 mil. O roteiro em cartaz nesta semana, “Não só de pão”, aborda os sonhos dos deficientes. A peça começa com o grupo de 11 atores fazendo pão. Com a ajuda dos cinco intérpretes, eles colocam a massa para assar em fornos e falam de suas deficiências e das paixões e vontades de cada um.
No palco, enquanto o pão assa, eles podem dirigir carros, dançar no ritmo da música e escolher um penteado no salão mais famoso. Um mágico com uma varinha passa tocando os atores, num sinal para mudar de posição entre as cenas. A vibração de um tambor marca os atos. As falas são traduzidas em um telão para o inglês, o árabe e o hebraico. Um intérprete faz a linguagem dos sinais no canto esquerdo do palco.
Quando o olfato denuncia que o pão ficou pronto, os atores convidam o público para saborear seus sonhos junto com eles. Tradutores ajudam nos cumprimentos e, emocionada, a platéia deixa o mundo do silêncio escuro.
Pão feito pelos atores e dividido com o público no final da peçaPão feito pelos atores e dividido com o público no final da peça (Foto: Raphaela Moura/Globonews)
G1