quarta-feira, 20 de julho de 2011

Estudantes trocam faculdades no Brasil por cursos na Argentina

Estudantes trocam faculdades no Brasil por cursos na Argentina
Cursos mais baratos, custo de vida baixo e a facilidade para entrar são atrativos, mas é preciso atenção, já que alguns diplomas não valem aqui.

Universidade de Buenos Aires, fundada em 12 de agosto de 1821

Já são mais de 25 mil brasileiros nesta situação. Eles são atraídos por faculdades mais baratas ou até de graça. O custo de vida também é mais baixo, se comparado com algumas cidades brasileiras. Mas é preciso tomar alguns cuidados antes de cruzar a fronteira.

Rafael, por exemplo, foi ao país passar férias e decidiu ficar. Vai tentar ingressar no curso de relações internacionais. Mas o brasileiro tem um grande desafio: superar a barreira do idioma. Quem fala portunhol, a mistura improvisada de português com espanhol, pode não se sair bem no curso e depois no exercício da profissão.

Na Argentina não existe vestibular. São 103 instituições de ensino superior, 85% delas, públicas. A maioria em Buenos Aires. A ordem por lá é garantir acesso irrestrito à universidade. Segundo o governo, o país tem mais de um milhão e meio de alunos na faculdade, pelo menos 25 mil são estrangeiros.

Cursar desenho gráfico na UBA, a Universidade de Buenos Aires, não custa nada. Em São Paulo, a mensalidade pode custar R$ 2.500. Numa faculdade particular, na capital, 400 brasileiros estudam medicina. Dos 500 novos alunos que vão entrar 30% também são brasileiros.

O câmbio no país é favorável - um real vale mais de dois pesos. E as faculdades mais caras, como as de medicina, custam, ao final de sete anos, menos de R$ 14 mil.

Nahjla, de Goiás, não conseguia entrar numa faculdade pública e não tinha dinheiro para pagar uma universidade particular. Ela vai enfrentar oito anos de um curso difícil com uma desvantagem: vai ter que aprender castelhano.

Ione abriu uma empresa para ajudar os que precisam estudar bastante antes de ingressar numa faculdade argentina.

Não existe exigência, apenas fazer matrícula com identidade, certificado de conclusão do 2º grau. Depois de passar um ano cursando o período básico, exigido por qualquer faculdade, a dificuldade é outra. “Entrar é fácil, difícil é conseguir sair, porque é muito puxado”, diz Vanessa Soares, estudante.

Antes de fazer as malas, o estudante precisa saber das exigências do governo brasileiro. Tem diploma argentino que pode não valer no Brasil. Leia aqui as orientações do MEC. [Jornal Hoje]


Para médicos paulistas, ensino dos vizinhos é ruim

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) se diz preocupado com a formação de estudantes brasileiros no exterior. A entidade questiona a qualidade do ensino nos países vizinhos e cobra mais rigor do governo na revalidação do diploma. "É uma situação que não interessa ao nosso sistema de saúde e no qual o paciente, em última instância, sai como principal prejudicado", diz Isac Jorge Filho, coordenador da comissão de pesquisa e ensino médico do Cremesp.

Jorge Filho evita generalizar, mas lembra que a impossibilidade de fiscalização dos cursos por autoridades brasileiras transforma em incógnita a formação dos futuros profissionais. "Alguns dizem que vão estudar no exterior porque é mais barato. Não sei, a minha impressão é de que vão mesmo porque não conseguiram passar no vestibular."

Uma das maiores preocupações do Cremesp é com a suposta precariedade do ensino em algumas especialidades, além da falta de estrutura. "Chega a haver mil alunos por turma em Cuba. Sabemos de escolas na Bolívia em que os cursos teóricos são ministrados em garagens, literalmente. E a Argentina não tem as mesmas doenças tropicais que o Brasil", diz Jorge Filho.

Ele reconhece que o ensino médico no Brasil "tem piorado sensivelmente". Em outubro de 2009, um exame feito voluntariamente por 621 alunos do sexto ano de medicina no Estado de São Paulo teve resultados pouco animadores: 56% dos participantes foram reprovados, não tendo alcançado a nota mínima de 6 na prova objetiva. "Se as escolas fiscalizadas pelo MEC já são ruins, é preciso ser ainda mais cauteloso com as faculdades do exterior", argumenta.

Para o coordenador do Cremesp, a falta de investimentos em laboratórios e no corpo docente costuma explicar o baixo custo das faculdades de medicina nos países vizinhos. Valdir Carrenho, diretor da Isped, empresa que assessora estudantes brasileiros em universidades argentinas, confirma o contraste de remuneração: enquanto um professor no Brasil ganha cerca de R$ 100 por hora/aula em uma universidade privada de prestígio, o pagamento na Argentina fica em 50 pesos (uns R$ 25).

Carrenho rejeita, porém, que esse seja um fator preponderante na diferença de custo. "Hoje, faculdade de medicina no Brasil virou comércio. Como há mais demanda do que oferta, quem tem curso preenche todas as vagas, a qualquer preço. Na verdade, a medicina argentina está um passo à frente da medicina brasileira", afirma. Para ele, a reação do Cremesp e de outros conselhos regionais ocorre pelo desejo de "manter reserva de mercado", com menos concorrência para os profissionais.
 [andifes.org.br]



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