sábado, 18 de junho de 2011

Indústria americana vende bolinhos do sono recheados de hormônio

Indústria americana vende bolinhos do sono recheados de hormônio
Além de açúcar, ovos, chocolate, o bolinho leva algo mais: uma substância produzida pela indústria farmacêutica. Ele contém doses altas de melatonina, um hormônio indutor do sono.

Com a vida acelerada, trânsito, trabalho e problemas, o estresse é uma das principais causas de insônia. Nos Estados Unidos e no Brasil, tem dimensões de uma epidemia. Um em cada três adultos tem problemas para dormir.

Quando a noite chega, a pressão do dia inteiro transforma o momento de descanso no pesadelo de quem não consegue dormir. As horas passam, as luzes da cidade iluminam a madrugada, e o sono não vem. Dez milhões de americanos usam medicamentos para dormir. Para essas pessoas, a indústria do país criou um produto surpreendente, feito de chocolate e recheado com o hormônio do sono. Eles são chamados de bolinhos da preguiça, bem parecidos com os tradicionais brownies da culinária americana.

Além de açúcar, ovos, chocolate, eles levam algo mais: uma substância produzida pela indústria farmacêutica. A embalagem traz um bonequinho inocente, com cara de quem está bem relaxado.

O bolinho contém doses altas de melatonina, um hormônio indutor do sono. A venda de melatonina sintética é permitida pelo FDA, a agência americana que autoriza a comercialização de alimentos e remédios. É possível comprar cápsulas de melatonina em qualquer farmácia dos Estados Unidos.

Os bolinhos de melatonina podem ser encontrados em várias lojas e são vendidos principalmente pela internet. Uma caixa com 12 custa o equivalente a R$ 42.

Alec Varipapa é o dono de uma loja, na Carolina do Norte. Ele explica que decidiu vender os bolinhos depois de experimentá-los. Conta que sempre sofreu com insônia e diz que agora encontrou a solução para o seu problema: "Tentei remédios para dormir, antidepressivos e tive efeitos colaterais sérios. Com o bolinho, fiquei relaxado, dormi e não senti nada de estranho no dia seguinte".

A concentração de melatonina varia entre as marcas de brownie. O hormônio sintético está presente também em bebidas energéticas, como um suco. A propaganda promete uma revolução no humor: uma fórmula de ervas e nutrientes que promove relaxamento total. Mas o anúncio não informa que o suco contém melatonina.
O estudante Marco Otero viu os energéticos, mas preferiu experimentar os bolinhos. "Eu tenho curiosidade por todo esse tipo de coisa, ainda mais se for legal. Alterou a minha referência de tempo. Tudo ficou mais devagar”, declara.

Nem todos têm o mesmo tipo de reação. A escritora Sarah Righ tem um blog sobre comida. Ela resolveu comer um bolinho e escrever um artigo sobre o produto. "Não senti efeito algum, e ainda caiu mal no estômago", diz.

David Seres é nutricionista da universidade Columbia. Para ele, o fabricante está tentando associar as sensações causadas pelo bolinho aos efeitos da maconha. Seria um artifício para vender mais? Segundo o especialista, o bolinho e a maconha não têm nada em comum. A embalagem avisa, em letras minúsculas, que os bolinhos não devem ser misturados com álcool nem podem ser consumidos por crianças.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária não permite o uso e venda de melatonina. E especialistas alertam para os riscos do uso desse hormônio em alimentos.

“O risco do uso da melatonina em alimentos é que a ingestão pode ser completamente descontrolada de uma substância que tem efeitos sobre o organismo. As consequências são exatamente a exacerbação de um sono excessivo durante o dia. Pessoas que têm quadro depressivo poderiam piorar esse quadro depressivo. E também mexe com a produção de estrogênio da mulher”, aponta a endocrinologista e nutróloga Lenita Zajdenverg, da UFRJ.

Em vez de melatonina, os médicos recomendam outra receita para dormir bem: evitar açúcar, álcool e café à noite, fazer esporte e não se entregar ao estresse. Por que não? De vez em quando, durante o dia, comer bolinhos de chocolates, sem melatonina.


Giuliana Morrone
Nova York, EUA

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