sábado, 14 de agosto de 2010

Terremoto de Lisboa, 1755: uma tragédia dantesca na história da Europa

O comerciante francês Jacome Ratton costumava ir à missa na igreja do Carmo, no centro de Lisboa. Naquela manhã, ele não foi. De sua janela via “o céu risonho como quase sempre é nas felizes regiões da Europa do sul” – como relatou anos mais tarde. Não percebeu a agitação dos animais de tração, os cães em disparada pelas ruas, os pássaros em louca revoada. Três minutos antes das 10 horas ouviu-se um tremendo ruído e na cidade levantaram-se enormes colunas de poeira. Estremecia a terra e em menos de um minuto ela engoliu o cais da alfândega. A poeira era tão densa que como um nevoeiro espesso impedia que se enxergasse a dois passos de distância. Era intensa também na casa de Ratton, ou no que sobrara dela. “Ao sentir o primeiro abalo – diz ele – me ocorreram muitas reflexões para salvar a minha vida e não ficar sepultado debaixo das ruínas da própria casa ou das vizinhas, se descendo as escadas fugisse para a rua.

Mas tomei o partido de subir ao telhado nas vistas de que abatendo a casa eu ficasse superior às ruínas.” Ratton era jovem, tinha 19 anos, e pôde suportar ser jogado de um lado para outro, antes de cair junto com o teto e as paredes que sustentavam sua casa. Arrastando-se, pulou para o jardim fugindo em corrida cega. Teve tempo de evitar uma rachadura que engoliu uma carroça e seus cavalos, até que o cheiro fétido de enxofre, vindo do Tejo, o paralisou. O rio, “um mato confuso de mastros entrelaçados e um horroroso cemitério de cadáveres” – segundo outro observador da época – ululava. Gania. Foi assim, com a garganta sufocada de fumaça, arranhões e machucados pelo corpo e as vestes em pedaços, que discerniu, por entre nuvens de fumaça e poeira, o rosto de ensangüentados familiares. A seus pés, uma jovem soluçava, apertava no seio sujo uma criança morta.

Irradiações da Tsunami
Ratton não foi o único a entender o que estava acontecendo. Houve vários observadores do fenômeno entre os membros da comunidade britânica. Com a tradicional fleuma inglesa, um deles assim narrou os acontecimentos: “Eu vivia numa casa próxima ao centro da cidade. O meu quarto ficava no terceiro andar. Aí estava sentado quando senti a casa tremer com suavidade, aumentando gradualmente com um barulho precipitado, como o som de carruagens. Isso foi o que de início imaginei ser a causa do barulho e tremor. Mas, ao observar os quadros no meu quarto a bater contra as paredes, levantei-me e percebi que era um terremoto. Nessa altura, o movimento era tão violento que eu me mantinha em pé com dificuldade. Toda a casa rachava a minha volta, as telhas, as paredes despedaçavam-se. Ouvi aterrorizado os gritos e choros vindos de todos os lados. Então, resolvi mudar de roupa e sair também.

Tinha me vestido até a cintura e estava a enfiar o casaco e o colete quando senti o segundo abalo. Agarrei meu chapéu e, tirando a minha cabeleira do suporte, desci dois lanços e meio de escadas, mas parei de repente ao ouvir cair telhas e grandes pedras. Isso me fez refletir que, ao fugir de uma casa a cair, corria o risco de ficar sepultado sob as ruínas de muitas outras nas ruas estreitas. Por isso, resolvi ficar onde estava, numa escadaria de pedra em caracol. Enquanto aqui permaneci, os degraus sobre os quais eu estava ergueram-se do chão e eu esperava morrer esmagado a todo o momento. Durante este período ouvi uma voz triste, abaixo de mim, gemendo e chamando por socorro, até que o tremer da casa me permitisse ajudar. Foi o que fiz assim que tive uma oportunidade e descobri que a pessoa em aflição era nossa governanta, que fugira logo ao primeiro abalo, levando consigo um criado, sendo, porém, surpreendidos à porta da rua pela parede que os feriu, deixando-os soterrados nos destroços”.

Durante três dias, enquanto a cidade queimava, saques e assassinatos foram freqüentes. Os sacrilégios também, uma vez que ladrões não faziam cerimônia em roubar as ricas igrejas de Lisboa. Grupos de bandidos roubavam e estupravam quem cruzasse seu caminho. Desertores espanhóis percorriam o que sobrara das casas levando o que servisse para vender. Os famintos ameaçavam atacar os que tinham algum alimento, de forma que a comida era sempre consumida às escondidas. Havia um clima de total insegurança entre os sobreviventes.

O terremoto de Lisboa do 1º de novembro de 1755 foi uma das maiores tragédias do século 18. Sua repercussão no mundo ocidental foi registrada por escritores como Voltaire e filósofos como Kant, afora os milhares de relatos de médicos, físicos e pessoas comuns que sobreviveram até os dias de hoje. Ninguém jamais soube exatamente o número de mortos, mas a lembrança do horror conserva-se intacta.

Autora:  Mary Del Priore
Mary Del Priore é historiadora, autora de O mal sobre a terra: uma história do terremoto de Lisboa de 1755, entre outros 17 livros



Em 1755, o terremoto atingiu na manhã de 01 de novembro, o feriado católico de Todos os Santos. Relatos contemporâneos afirmam que o terremoto durou entre três e meio a seis minutos, causando fissuras gigantescas de cinco metros de larga a aparecendo no centro da cidade. Sobreviventes correram para o espaço aberto do cais por segurança e viram como a água recuou, revelando o fundo do mar cheio de destroços de navios e cargas perdidas há tempos. Cerca de quarenta minutos depois do terremoto, um tsunami enorme envolveu o porto e o centro da cidade, avançando acima do rio Tejo, "tão rápido que várias pessoas andando a cavalo ... foram obrigados a galope o mais rápido possível a lugares mais altos por medo de serem levados." O  tsunami  teve sequencias de duas vagas. Nas áreas não afetadas pelo tsunami, o fogo logo se alastrou, e os incêndios duraram cinco dias ....


Choques do sismo foram sentidos por toda a Europa, tanto quanto na Finlândia e África do Norte, e de acordo com algumas fontes, mesmo na Groenlândia e no Caribe. Tsunamis tão alto quanto 20 metros  varreram a costa do Norte de África, e atingiu a Martinica e Barbados outro do lado do Atlântico. Um tsunami de três metros (dez metros) bateu na Cornualha, na costa sul inglesa. Galway, na costa oeste da Irlanda, também foi atingida, resultando em destruição parcial do "espanhol Arch seção" da cidade ... parede.
Execuções na sequência do terramoto de Lisboa. Pelo menos 34 ladrões foram enforcados
 na sequência caótica do desastre.


A família real escapou ilesa à catástrofe, D. José I de Portugal e da corte tinham deixado a cidade, depois de assistir à missa ao amanhecer, cumprindo o desejo de uma das filhas do rei para passar as férias longe Lisboa. Depois da catástrofe, D. José desenvolveu um medo de viver dentro das paredes, e o tribunal foi acomodado em um grande complexo de tendas e pavilhões nas colinas da Ajuda, em seguida, nos arredores de Lisboa. claustrofobia O rei nunca quis, e foi só depois da morte de José que sua filha de Maria I de Portugal começou a reconstruir o Palácio Real  da Ajuda, que ainda está no local do antigo acampamento de tendas. Como o rei, o primeiro-ministro Sebastião de Melo (Marquês de Pombal), sobreviveu ao terramoto. Quando perguntado o que era para ser feito, Pombal teria respondido, "enterrar os mortos e curar os vivos", e definir a organização de ajuda e os esforços de reabilitação. Bombeiros foram enviados para extinguir as chamas em fúria, e as equipes de trabalhadores e cidadãos comuns foram ordenados a remover os milhares de cadáveres, antes que doenças pudessem se espalhar. Ao contrário dos costumes e contra a vontade da Igreja, muitos cadáveres foram carregados em barcaças e jogados no mar para além da foz do Tejo. Para evitar transtorno na cidade arruinada, o Exército Português foi implantado e forcas  foram construídas em pontos altos ao redor da cidade para deter os saqueadores Mais de trinta pessoas foram executadas publicamente. 


O tipo eo primeiro-ministro lançou imediatamente os esforços para reconstruir a cidade, a contratação de arquitetos, engenheiros e organização do trabalho. Em menos de um ano, a cidade foi limpa de detritos. Keen ter um novo e perfeitamente ordenado da cidade, o rei encomendou a construção dos quadrados grandes, retilínea, grandes avenidas e ruas alargadas - os novos lemas de Lisboa. Quando o Marquês de Pombal foi questionado sobre a necessidade de ruas tão largas, ele teria respondido: "Um dia eles serão pequenos."



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique a vontade para comentar, só lembramos que não podemos aceitar ofensas gratuitas, palavrões e expressões que possam configurar crime, ou seja, comentários que ataquem a honra, a moral ou imputem crimes sem comprovação a quem quer que seja. Comentários racistas, homofóbicos e caluniosos não podemos publicar.