RIO - O Instituto de Pesquisa Criminal da França anunciou nesta segunda-feira que mais 103 vítimas do acidente com o voo AF-447 da Air France foram identificadas. A aeronave, que fazia o trajeto Rio-Paris, caiu no Oceano Atlântico em junho de 2009 com 228 pessoas a bordo. Com isso, um terço do total dos passageiros do avião - se contabilizados os primeiros 50 corpos retirados do mar logo após a tragédia - já tem identificação.
Os últimos corpos foram retirados do mar a quase 4 mil metros de profundidade, graças a uma operação que teve a ajuda de um robô submarino. O presidente do grupo Entraide et Solidarité, dedicado à memória das vítimas do voo, Robert Soulas, disse que as famílias das vítimas ainda vão ser informadas sobre a identificação, e os corpos serão entregues nas próximas semanas. De acordo com ele, apenas um dos corpos resgatados não foi identificado. Outros 74 continuam no fundo do mar.
- Nossa expectativa é grande. Também não sabemos se ainda pretendem buscar os 74 corpos que estão no mar - afirmou ele, pai de Nelson Marinho de 40 anos, um dos 59 brasileiros que estavam no voo.
Uma nova etapa de buscas ainda deve ser avaliada pelo Tribunal de Grande Instância de Paris. Na última tentativa, que terminou em junho, foram gastos cerca US$ 8,2 milhões, de acordo com o Ministério de Transportes francês.
Em outubro, um advogado que representa parentes das vítimas do voo 447 da Air France divulgou que um juiz responsável pelas investigações sobre o acidente deu a impressão de que os pilotos não receberam boas informações dos controladores do avião . O juiz que investiga as acusações esteve reunido com os familiares. Para o advogado Thibaut de Montbrial, "as informações transmitidas pelos dispositivos não permitiram a tomada de boas decisões".
O Programa de Indenização 447 foi encerrado também em outubro, conforme divulgação do Ministério Público do Rio, do Ministério da Justiça, do Procon, da Air France e das seguradoras da companhia. O programa foi criado para agilizar a indenização aos familiares brasileiros e estrangeiros das vítimas do acidente com o voo 447. Segundo o MP, a decisão de participar do programa, que envolveu cerca de 70 beneficiários, não significou a perda do direito de resolver a questão por outros meios, como acordo direto com as empresas ou ação judicial, no Brasil ou no exterior. [O Globo]
A agonia do voo 447 passo a passo
quilômetros de onde foi emitida a última mensagem do Airbus e a cerca de 850 quilômetros de Fernando de Noronha. No dia 26 de junho, após o resgate dos 50 corpos encontrados junto aos destroços, o Brasil encerrou suas buscas.
Na França, a partir da análise do material, os investigadores concluíram que o avião se chocou de barriga com o mar, em vista das deformações encontradas nas peças. Eles perceberam também que as máscaras de oxigênio não caíram do teto, o que eliminaria a hipótese de despressurização. Os coletes salva-vidas não foram acionados, indicando que os passageiros não se prepararam para um pouso no mar. Para montar o quebra-cabeça com o cenário da queda do voo 447, no entanto, faltavam as peças fundamentais: as duas caixas-pretas. Sem o Cockpit Voice Recorder (CVR), que grava os diálogos na cabine do piloto, e o Data Flight Recorder (DFR), que registra os parâmetros de voo, seria impossível determinar as causas do acidente, diziam os peritos. Mas, como localizar as caixas-pretas no fundo do oceano?
Para isso, foi montada uma operação de guerra. No dia 10 de junho, o Emeraude, um dos seis submarinos nucleares franceses de ataque, juntou-se às buscas. Dotado de potentes sonares, vasculhou a área durante semanas. Mas a tentativa se mostrou infrutífera. No dia 10 de julho, quando as caixas-pretas já não emitiam mais sinais (que cessam depois de 30 dias), a França decidiu encerrar a ação. O mistério do 447 parecia condenado a permanecer no fundo do mar.
Mas uma segunda fase começou em 27 de julho, com o navio de pesquisa Porquois Pas, o submarino não tripulado Nautile, o robô Victor 6000 e alguns dos maiores especialistas do mundo nesse tipo de busca. Mais uma vez, a missão fracassou.
Em 2 de abril de 2010, uma terceira fase foi iniciada. Sem os sinais sonoros das caixas-pretas, no entanto, a tarefa correspondia a buscar uma agulha no palheiro. Apesar dos gastos crescentes, a missão se mostrou mais uma vez malsucedida.
No dia 22 de março deste ano, o navio Alucia partiu do Porto de Suape, em Pernambuco, para dar início à quarta fase de buscas. Levava a bordo dois submarinos robôs. As coordenadas que indicavam o local da queda do avião teriam sido revistas, e a operação passou a ser feita numa outra área, muito menor que a anterior e muito mais precisa. Finalmente, em 3 de abril deste ano, numa descoberta histórica, o submarino não tripulado localizou, a cerca de 4 mil metros de profundidade, destroços do Airbus A-330 e corpos de vítimas que ficaram presos à fuselagem. Devido às baixas temperaturas, os corpos estavam relativamente preservados.
A descoberta abriu caminho para que fossem localizadas as duas caixas-pretas. A primeira foi resgatada no dia 1 de maio, a uma profundidade de 3.900 metros. A segunda foi tirada dois dias depois. No dia 19 de maio, a França anunciou que elas estavam intactas. Depois de dois anos escondida no fundo do mar, a verdade sobre o voo 447 começa a emergir.
Paulo Marqueiro (oglobo.com.br)
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