domingo, 14 de agosto de 2011

Luta contra o câncer. Artistas dão força para Gianecchini


Herson Capri, Elba Ramalho e Neguinho da Beija-Flor sofreram da doença.
Ator de 38 anos recebeu diagnóstico de linfoma e está internado em SP.


O ator Reynaldo Gianecchini, de 38 anos, recebeu esta semana diagnóstico de linfoma, um tipo de câncer. Ele está internado no Hospital Sírio-Libanês, na região central de São Paulo. Ao anunciar que estava com câncer, Gianecchini disse que está “pronto para a luta”. "Conto com o carinho e o amor de todos vocês", escreveu o ator.

Artistas que sofreram da doença falaram sobre como receberam a notícia dos médicos e mandaram recados a Gianecchini. “O pior do câncer, na minha maneira de entender, é quando o médico te dá a notícia que você está com câncer”, conta o cantor Neguinho da Beija-Flor, que teve câncer de intestino em 2008.

“Eu fiquei meio tonta com o resultado e questionei o médico. Eu disse ‘vem cá, não é um equívoco, não é um erro?’”, lembra a cantora Elba Ramalho, que teve câncer de mama em 2010. “Aí, você chora o primeiro dia, chora o segundo dia, mas no terceiro dia você diz ‘bom, eu vou ter que lutar contra esse malandro aqui’”, diz Neguinho.

“Eu levei um baque e aí você pergunta ‘por que eu’? Mas por que não eu, né?”, diz a apresentadora Ana Maria Braga, que teve câncer em 2001. “É um momento que a gente se encontra com a gente mesmo. A gente se encontra com uma fragilidade muito grande. Nós somos fracos, sim. Nós temos a possibilidade de ficar doente”, diz o ator Herson Capri, que teve câncer de pulmão em 1999.

"A nossa mente comanda o nosso corpo como ninguém. E eu tenho certeza que a sua é muito poderosa. Um beijo carinhoso e fique com Deus", afirma Ana Maria. “Sorte para você Gianecchini, estou torcendo e rezando”, deseja Elba Ramalho. “Giane, eu tenho certeza absoluta que você vai sair dessa. E vai sair de cabeça erguida e muito bem. A gente está torcendo por você. Um abração”, diz Herson Capri.

Doença do ator
O câncer que Gianecchini vai enfrentar não é raro: a mesma doença atingiu 9,1 mil pessoas no ano passado no Brasil. E, segundo o Instituto Nacional de Câncer, deve transformar outros 9.130 brasileiros em pacientes agora, em 2011. “O linfoma é uma doença democrática. Ele atinge homens, mulheres, recém-nascidos, até idosos”, diz Carlos Chiattone, professor de hematologia e oncologia da Santa Casa.

Uma doença que pode atingir a todos - e de dezenas de maneiras. Uma doença que está crescendo a cada ano, sem que a medicina saiba exatamente por quê. “O termo linfoma se aplica a um número grande de doenças. A gente diria hoje em torno de 50 diferentes tipos de doença. E com comportamentos muito variáveis. Por isso que as manifestações dos linfomas podem ser distintas de um paciente para outro, bem como o prognóstico”, explica o professor.

A doença pode ser dividida em dois grandes tipos: os linfomas de Hodgkin, que têm características bem marcantes e chance mais alta de cura, e os não-Hodgkin, que atacam o corpo de formas diferentes e têm variados graus de agressividade.

Os não-Hodgkin são os mais comuns. E foi exatamente essa forma de linfoma que atingiu Reynaldo Gianecchini. Foi também um linfoma não-Hodgkin que a presidente Dilma Rousseff enfrentou em 2009, quando ainda era ministra.

A doença se manifesta assim: o sistema linfático é parte do sistema imunológico, responsável por defender o corpo contra as doenças. Os linfonodos são nódulos espalhados pela rede de vasos que transportam as células de defesa. Servem para filtrar todos os corpos estranhos. O aumento dos linfonodos pode levar à compressão de órgãos como o fígado, o baço, o cérebro e a medula óssea, e comprometer o sistema de defesa. Como as células circulam por todo o sistema imunológico, o câncer também pode se espalhar pelo organismo.

Nos últimos 25 anos, o número de casos desse tipo de linfoma duplicou no Brasil, e atingiu, principalmente, pessoas com mais de 60 anos. Mas as últimas décadas trouxeram também avanços importantes na medicina. E hoje o linfoma pode ser enfrentado com um arsenal muito eficiente.

“Esta é uma área da oncologia onde, a meu ver, nós tivemos o maior avanço nas últimas duas décadas. Nós passamos de um tratamento quase que empírico, o quimioterápico, para um sucesso extraordinário particularmente nos linfomas mais frequentes, onde hoje a gente tem uma possibilidade de cura bastante elevada”, avalia Carlos Chiattone.

Hoje, o sucesso do tratamento pode aumentar em cerca de 50% combinando quimioterapia e imunoterapia, que usa anticorpos para combater as células cancerosas. “O linfoma hoje em dia é um dos tipos de câncer mais curáveis do mundo”, garante Jairo Sobrinho, hematologista e consultor científico da Abrale.

A média de cura é de 60%, mas as chances variam muito de pessoa para pessoa. O importante, todos os médicos concordam, é descobrir o problema o mais cedo possível. Mas os sinais enganam muito, como explica a médica que está cuidando de Reynaldo Gianecchini.

“Os sinais da doença muitas vezes podem ser confusos, podem confundir o médico. Mas o que a gente chama mais atenção é que se alguém descobre que tem um gânglio, uma íngua aumentada na região do pescoço, na região da virilha, e que isso não tem uma causa infecciosa muito clara, que procure o médico para investigação. A gente sabe que quanto antes a doença é detectada, maiores são as chances de sucesso no tratamento”, diz Yana Novis - coordenadora de onco-hematologia do Hospital Sírio-Libanês.
Outros sintomas importantes são muito suor noturno, que chega a molhar a roupa, e perda excessiva de peso em pouco tempo.

União
Nove anos atrás, em 2002, um grupo de pacientes de São Paulo percebeu que era melhor se unir para enfrentar a doença. E desse esforço de união surgiu uma organização que hoje tem 14 sedes em todo o país e dá auxílio gratuito a mais de 30 mil pessoas. Pacientes que já receberam todo tipo de apoio, desde o psicológico até o jurídico. E, principalmente, receberam a mensagem, importantíssima no caso deles, de que quem enfrenta uma doença grave como a leucemia ou o linfoma definitivamente não está sozinho.

Pessoas como Márcio, Cristina, Adalzira e Maria Helena, conseguem se ajudar ajudando os outros. “Foi bem difícil. Eu me tornei muito mais bem humorada do que eu era, eu estou surpreendendo, inclusive as pessoas que ficam sabendo, que me ligam, os colegas. Eles dizem: ‘nossa, você está melhor do que eu pensei que você estivesse’. Porque só a palavra câncer assusta muito. Mas eu não estou disposta a me derrubar. Bola pra frente”, diz Adalzira Lovaglio de Jesus, funcionária pública em tratamento.
“Na maioria das vezes eu não me sinto doente. Eu me sinto perfeitamente saudável. Eu só lembro que estou doente quando eu sinto as reações da quimioterapia”, explica Maria Helena Silva, coordenadora de call center em tratamento.

“Eu estou já há seis anos fazendo um trabalho de remissão, controle agora anual. E estou próximo já de receber alta. Isso mudou a mim e a minha família toda. A minha esposa, que na época era minha namorada, que viveu tudo isso junto comigo. Hoje nós somos pessoas que sabemos ao que dar valor na vida. O que vale realmente é a saúde. Porque com saúde você consegue trabalhar, com saúde você consegue ter lazer, com saúde você consegue ser feliz”, conta o advogado Márcio Martinez.

Depois de 11 anos trabalhando com pacientes com câncer, a psicóloga da Abrale consegue entender a tempestade de emoções que se abate sobre a pessoa que recebe o diagnóstico. “A gente sempre quer ser único, a gente quer ser singular, quer ser incrível. Só que quando a gente está doente, a gente não quer. É a última coisa que a gente quer. Por isso é importante ter esse trabalho em grupo, receber o apoio, para você ver que você não está sozinho. O Gianecchini não está sozinho. Tem um bando de gente rondando ele”, avalia Marília Zendrone.


G1

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