domingo, 26 de setembro de 2010

O caminho que transforma seu filho num adulto mal-educado

Faça uma pesquisa e comprove: pais e mães de todo o mundo acham que seus filhos são perfeitos. É quase um pré-requisito. Mas a verdade é que nem todos os rebentos são anjinhos. E, dependendo da forma como são criados, vão se transformar em adultos egoístas, despreparados para lidar com seus sentimentos, incapazes de assumir responsabilidades pelos próprios atos.

E não dá para dizer que o problema é a ausência dos pais. A questão mesmo é a culpa que eles sentem por estar fora de casa, e as tentativas de suprir essa ausência com concessões, tudo para evitar que o filho se sinta frustrado. Para a psicóloga e psicanalista Fernanda Ferrari Arantes, membro do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae, o grande desafio dos pais é administrar esse sentimento de culpa, sem deixar que ele se reflita na educação dos filhos.

"Uma criança pode ficar bem sem os pais por algumas horas, mas não sem limites. Saímos de uma sociedade muito autoritária, vivida por nossos pais, para uma outra, em que parece ser "proibido proibir". As regras familiares deixam de existir e o "não" desapareceu", analisa.

E alerta: os pais precisam voltar a exercer sua autoridade sobre os filhos. "Há uma grande confusão entre o que é autoritarismo e o que é autoridade. O autoritarismo implica em arbitrariedade, opressão. Já a autoridade refere-se àquele que é conhecedor de algo, que tem soberania sobre alguém", ressalta.

Seu filho deve saber quem manda, mas também deve ser chamado a participar e discutir algumas regras. "Algumas regras não são passíveis de discussão, porque envolvem riscos, como atravessar a rua. Mas existem outras que podem ser construídas junto com a criança. Se for preciso estipular que a criança só comerá pipoca uma vez por semana, ela pode participar, escolhendo o dia em que fará isso. Assim fica mais fácil cobrar obediência", ensina.

E as Babás?
Nenhum pai deve se sentir culpado por deixar o filho aos cuidados da babá ou da escolinha, mas é importante lembrar que a função de educar continua sendo sua - nada de terceirizar a educação. "Basta ter presença quando chega, na comunicação com a babá e no estabelecimento de regras", explica Fernanda.

Vale aproveitar o tempo juntos para conversar, e também para deixar claras as regras da casa. Use o telefone, e deixe bilhetes pela casa para lembrá-lo de fazer o dever. E fique atento à escolha da babá. "Ela deve seguir as regras da casa", destaca a psicóloga Vera Rodrigues.

O pequeno Lucas Littig de Carvalho, de apenas 8 anos, é a educação em pessoa. Tudo com ele é na base do "por favor" e do "muito obrigado", comportamento que chama a atenção por onde Lucas passa. Tanto, que foi uma amiga da família quem o indicou para esta reportagem.

A mãe, a vendedora Karina Littig, 32 anos, também é toda elogios ao seu rapazinho. "Ele brinca, faz bagunça, como qualquer criança, mas percebo que tem um jeito bem mais tranquilo de tratar as pessoas", conta.

E não pense que tanta gentileza se deve a algum tipo de vigilância dos pais 24 horas por dia. Desde os 5 meses, Lucas fica na creche ou escola em período integral. Mas a mãe, que mora com ele sozinha, tem lá seus segredinhos. "Meu tempo livre é todo dedicado ao Lucas. Aproveitamos para conversar e brincar, e sempre procuro saber o que ele está sentindo e falar sobre comportamentos adequados", conta.

Fácil, não é. "Às vezes dá vontade de dar tudo o que ele pede, e até acho graça em algumas desobediências. Mas tenho que corrijir, explicar que não é possível ter tudo. Ele sabe que o amo e que estou ali para o que der e vier, mas sou mãe, e a última palavra é sempre minha, mesmo que ele esperneie", destaca.






A GAZETA - Elaine Vieira



Os maiores problemas dos pais na educação dos filhos atualmente



1. Excesso de consumo
Para o próprio John Robbins, de acordo com artigo publicado no Huffington Post, o problema passa longe do que alguns erroneamente classificam como "excesso de amor". Ele aponta a cultura de consumo como verdadeira responsável pelo problema. "O que estraga as crianças é o fato de que as ensinamos a preencher seu vazio a partir de fora, comprando coisas e fazendo atividades, em vez de aprender como se preencher por dentro, fazendo boas escolhas e desenvolvendo a criatividade", escreve.

2. Ausência forçada do pai
Segundo Mirian Goldenberg, antropóloga e autora de "Toda mulher é meio Leila Diniz" (Ed. BestBolso), a ausência da figura paterna é o maior problema para a geração atual de crianças. E essa ausência, muitas vezes, é causada pela própria mãe, ainda que ela seja casada com o pai. "Muitas mulheres vivem a maternidade como um poder que não querem compartilhar e percebem os homens como meros coadjuvantes — ou até mesmo figurantes — em um palco em que a principal estrela é a mãe", diz Mirian. "No entanto, não existe absolutamente nada na 'natureza' masculina que impeça um pai de cuidar, alimentar, acariciar, acalentar e proteger seu bebê, assim como não há uma 'natureza' feminina que dê à mãe a autoridade de se afirmar como a única capaz de cuidar do recém-nascido".

3. Competição entre os pais
A pedagoga Maria Angela Barbato Carneiro, coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar da Pontifícia Universidade de São Paulo, vê vários fatores que podem estragar as crianças, mas ressalta um deles: a mudança na estrutura familiar. Muitos pais que trabalham fora se eximem de suas responsabilidades como educadores e não têm nenhum controle sobre os filhos. "As crianças se aproveitam e os pais competem entre si, para ofertar coisas aos filhos", comenta.


4. Tentativas de compensação
A ausência dos pais por conta de trabalho não é necessariamente um problema em si. O erro, alerta o pediatra antroposófico e neonatologista Sergio Spalter, é tentar suprir essa ausência com concessões que visam evitar 100% a frustração da criança. A criança aprende, assim, que para conseguir qualquer coisa basta chorar. "O problema é que, na vida futura, muitas vezes não haverão concessões, e uma pequena frustração poderá significar um grande problema para aquele jovem, que passará a desistir dos desafios", diz Spalter.

5. Excesso de fast food
A nutricionista Daniela Murakami, da Nutrir e Brincar - Assessoria e Consultoria em Nutrição Infantil, destaca um lugar onde facilmente se pode estragar uma criança: a mesa. Pais que optam pela comida fácil, rápida e pouco nutritiva das redes de fast-food ou de congelados para agradar seus filhos (e ter menos trabalho) podem estar plantando uma semente perigosa. "Esses 'mimos' são um risco para a saúde das crianças, pois elas passam a ingerir alimentos muito calóricos, com alto teor de gordura, sódio e açúcar refinado e não aceitam alimentos importantes, como frutas, verduras e legumes", explica. "Sentar-se com maior frequência à mesa e ter suas refeições com os filhos, pedir a ajuda da criança para preparar algum alimento, fazer um piquenique saudável no parque são formas 'inteligentes' de mimar as crianças, sem, contudo, estragá-las", completa ela.

6. Insegurança dos pais
Cada geração tenta reparar os erros da geração anterior - e, assim, a geração atual de pais, criada ouvindo muito "não", tem uma dificuldade em impor limites aos filhos. Perdidos na idealização de uma infância plenamente feliz, eles querem conselhos e orientações de médicos e da escola para tomar qualquer atitude com a criança. "Que lugar sobrou para os pais? Eles são meros executores dos conselhos e recomendações da escola e do médico? Isso fala de uma falta de confiança na própria experiência, no saber adquirido justamente quando eles eram crianças", explica Adela Stoppel, professora do curso de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae. Para Adela, ser pai implica assumir certos riscos, se responsabilizar pelas decisões sobre a educação de filhos, colocar em prática convicções pessoais, ideais e crenças. "Nossos filhos esperam que nós lhes digamos o que achamos e o que não achamos bom com base em nossa própria experiência", conclui.

Fonte: Ig

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