Se você ganha pouco ou muito, pouco importa. Saiba apenas se cuidar para não cometer os 10 erros mais comuns que podem levá-lo a perder todo o seu dinheiro. Na verdade, basta cair em apenas uma dessas armadilhas para viver um colapso financeiro.
Os problemas vão desde gastar demais e tomar decisões equivocadas sobre os investimentos – o que você já ouviu muito –, mas passam também pelo mau hábito de fazer sua contabilidade apenas na cabeça ou não saber que seus documentos podem estar sendo usados por bandidos.
“Grande parte dos endividados faz planos em cima do salário bruto, esquecendo-se de que nele há descontos e cobrança de impostos. Com essa conta de cabeça, realiza compras e acaba gastando mais do que ganha. Para quitar as dívidas, a pessoa ainda recorre ao cheque especial ou ao rotativo do cartão, ficando mais endividado”, afirma o economista e planejador financeiro Conrado Navarro, da empresa de consultoria Dinheirama.
Segundo ele, o brasileiro não tem a cultura de se organizar financeiramente e de se preocupar com detalhes, como negociar os preços. “É preciso pedir descontos e ainda anotar tudo que gastou. Não é necessário comprar um caderno de contabilidade para isso. Nem que seja usada numa sacola de pão, o importante é anotar os gastos”, acrescenta.
A segunda maneira de ir à falência é abusar dos cartões de crédito e de lojas. Muitas pessoas chegam a ter mais de dez opções, tudo para aproveitar ofertas.
Só que ter tanto dinheiro de plástico à disposição é uma forma de perder o controle das finanças. Quando paga uma compra no cartão, o consumidor tem a falsa sensação de que não gastou. E ao chegar no limite de um, começa a usar outro para continuar consumindo. É aí que mora o perigo.
“O consumidor fica sem condições de pagar e cai no rotativo, pagando juros sobre juros que variam de 12% a 15% ao mês. As taxas são muito expressivas, e o cliente fica sem noção de que o seu saldo devedor só vai crescendo. Por exemplo: uma dívida de R$ 1 mil no cartão, no crédito rotativo, transforma-se em R$ 5 mil em 12 meses. Em dois anos, ela pula para R$ 20 mil”, alerta Navarro.
Fazer dos investimentos financeiros uma aventura radical é outra questão para se preocupar. Aplicações ousadas na Bolsa de Valores podem ser lucrativas, no entanto numa situação inusitada pode fazer você quebrar. As atitudes arriscadas variam de colocar todo o seu dinheiro em ações de uma só empresa ou fazer vendas dos papéis com a intenção de recomprá-los quando estiverem em baixa.
Trabalho extra só para pagar as dívidas
Trabalho durante o dia. E uma atividade extra durante a noite. Tudo para pagar as dívidas que foram se acumulando. Para deixar as contas atrasadas em dia, o casal Sidiney e Cintia Gonçalves resolveu montar um churrasquinho na garagem da sua casa, em Laranjeiras Velha, na Serra. Os problemas dos dois eram como os de várias pessoas: cartão de crédito, cheque especial, empréstimos e financiamento habitacional. “Isso tudo aconteceu porque gastávamos mais do que recebíamos. Agora, nossa situação está mais controlada. Eu tinha uma chapa e um freezer, então decidi montar um churrasquinho. E ter um negócio próprio é até bom, pois é uma forma de você aprender a se organizar”, conta. O espaço de lanches de Sidiney virou a atração do seu bairro. “Funcionamos de quarta a sábado, e abrimos aos domingos de jogos dos times cariocas”, afirma.
Recorra a um consultor para ficar no azul
Sua vida está entrando em uma overdose de dívidas? Procure ajuda profissional. Há consultores financeiros pessoais que podem ajudá-lo a sair da crise e a reerguer a cabeça.
O economista Antônio Marcos Machado é “personal financeiro” há seis anos e fala que a melhor maneira de fugir da inadimplência é buscar auxílio logo no início do endividamento.
“Nessa fase, ainda dá tempo de encontrar soluções mais rápidas. É melhor se desfazer de um bem, como o carro, pagar as dívidas, do que recorrer a um empréstimo e ficar ainda mais atolado em contas”, explica.
Segundo Antônio Marcos, um consultor financeiro pessoal trabalha não só a questão da gestão do orçamento, mas também, seu equilíbrio emocional, seu relacionamento familiar e sua capacidade de concentração no ambiente profissional. “Isso é muito importante para que ele possa exercer sua profissão com a necessária atenção no sentido de não ocorrerem erros, retrabalhos e até mesmo acidentes”, conta.
Ela afirma que, se uma pessoa já vendeu tudo o que tem e está numa situação complicada, a saída é tentar fazer negociações com os credores. “Porém é importante tomar cuidado com os prazos longos. Parcelar uma dívida em quatro ou cinco anos pode piorar a situação”, acrescenta.
O tempo ideal para que um “personal financeiro” ajude a família a fazer a reorganização é de seus meses. “Fazemos entrevistas mensais, observando o cumprimento de metas e objetivos traçados. A confiança tem que ser mútua. Se existem dívidas, elas devem ser apontadas integralmente, bem como a identificação dos credores. Isso facilita a elaboração de um plano de ação”, destaca.
O custo de um consultor é bem salgado. Varia de R$ 120 a R$ 200 a hora. Entretanto trata-se de um bom investimento para quem deseja se livrar das dívidas e ter uma vida financeira equilibrada.
1 - Contabilidade mental. O erro mais comum e um dos mais graves é a contabilidade mental. A pessoa que só se lembra do seu salário bruto e programa todas as suas compras em cima desse valor está rumo à falência pessoal. E quem continua a pensar desse jeito pode entrar num caminho muito difícil de voltar. O problema é que em cima do rendimento mensal entram descontos e impostos, e a pessoa recebe um pouco menos do que imagina. Sem saber o real valor do seu salário líquido, muita gente gasta acima do que deveria e acaba entrando no cheque especial. Outras ainda precisam acessar diversas linhas de crédito para conseguir recursos para pagar tudo que comprou. Fazer contabilidade mental é um erro gravíssimo. É importante olhar para o contracheque e identificar sua verdadeira renda e programar gastos e investimentos em cima do salário real.
2 - Abusar do cartão de crédito. Uma das principais causas de endividamento excessivo dos consumidores é o abuso com o cartão. As vantagens de ter um dinheiro de plástico na carteira são imensas. Prazos de até 40 dias para pagar as contas e possibilidade de parcelar compras sem juros estão entre as facilidades. É justamente com o objetivo de obter descontos e promoções exclusivas para clientes que muita gente decide contratar diversos cartões. Esse, no entanto, é um atalho para a falência. Ter diversos cartões pode levá-lo a comprar bens e contratar serviços que não estariam a sua disposição caso você tivesse apenas um cartão. Além disso, ao contratar diversos cartões, você passará a receber várias faturas diferentes. Dessa forma, será muito mais fácil perder o controle do volume total de gastos. A situação piora quando a pessoa começa a pagar o mínimo do cartão. A dívida vai aumentando cada vez mais, tornando-se impagável.
3 - Pagar as contas com cartão de crédito. Além de ter diversos cartões de crédito, muita gente prefere pagar dívidas com essa ferramenta. Essa atitude cria uma falsa ilusão de que a pessoa está com mais dinheiro. O problema é que, dessa forma, fica mais fácil cair nas garras do endividamento. Quando o saldo do cartão fica muito alto, a pessoa se vê obrigada a usar o crédito rotativo do cartão ou o limite do cheque especial para não ficar inadimplente. Essa é, no entanto, a pior decisão que uma pessoa pode tomar. Tente pagar as contas mensais com o seu salário. Usar o cartão de crédito para pagar as faturas e usar o dinheiro para comprar outros produtos é cair numa grande armadilha e ficar com uma dívida que não tem volta.
4 - Fazer investimentos inadequados. Investir todo o dinheiro em uma única aplicação de risco – uma empresa da Bolsa, um negócio ou um imóvel – é um dos principais motivos para a ruína das pessoas. Se todo seu portfólio de investimentos está concentrado em ações de empresas aéreas, por exemplo, uma eventual greve de aeronautas pode lhe causar um enorme prejuízo. Portanto, é recomendável sempre diversificar a carteira de investimentos como forma de mitigar os riscos. E não adianta distribuir o dinheiro entre ações da Petrobras, Vale e siderúrgicas. Se a economia global continuar a passar por maus bocados, todas as empresas produtoras de commodities tendem a ser bem prejudicadas. Uma diversificação bem-feita tem que levar em consideração esse tipo de risco específico de cada ação. Um jeito inteligente de diversificar o portfólio acessível mesmo para investidores inexperientes inclui a compra de fundos de renda fixa e mesmo a popular poupança.
5 - Não ter um dinheiro separado para as emergências. Viver sem uma reserva para emergências também é uma maneira de se preparar para cair na falência caso algum problema ocorra. Alguém que gasta todo o dinheiro que ganha vive de uma forma tão arriscada quanto praticantes de esportes radicais. Se algum dia essa pessoa perder o emprego ou a fonte de renda, poderá ficar também sem o imóvel que ainda não foi quitado e terá de aprender a conviver com uma súbita e drástica redução no padrão de vida. Além disso, a pessoa deve estar preparada para possíveis casos de doença e morte na família que provocam a necessidade de dinheiro. Em geral, especialistas em finanças pessoais recomendam que as pessoas guardem o equivalente a três a seis meses o valor da renda mensal para eventuais emergências. Caso a pessoa tenha uma renda mais inconstante – freelancers, consultores ou artistas, por exemplo – é necessário constituir uma reserva ainda maior para os períodos de vacas magras.
6 - Não saber que você pode estar sendo vítima de um golpe. Ignorar a possibilidade de furto de seus dados pessoais é outro motivo que tem levado muitas pessoas a falência. Nos Estados Unidos, cerca de 10 milhões de pessoas têm informações pessoais roubadas a cada ano. Esses dados podem ser utilizados para sacar todo o dinheiro que você guarda no banco, para tomada de empréstimos em seu nome ou para a realização de pagamentos eletrônicos. Não digitar senhas e outras informações importantes em computadores de terceiros, evitar incluir dados pessoais em falsos e-mails de empresas que solicitam seu recadastramento e não abrir arquivos executáveis que eventualmente chegam a sua caixa de mensagens são alguns dos cuidados a serem tomados. É importante ter cuidado também com golpistas que oferecem falsos investimentos financeiros com promessa de alta rentabilidade.
7 - Comprar um imóvel que está acima do padrão de vida. Ao escolher uma casa para viver, saiba quem não necessariamente a maior é a melhor. As prestações do crédito imobiliário, os impostos sobre a propriedade, despesas com manutenção e gastos com serviços públicos vão comprometer boa parte do orçamento mensal de uma família. Além disso, há sistemas de amortização do financiamento imobiliário - como a tabela Price - que preveem prestações crescentes ao longo do tempo. Essas armadilhas levam muita gente a perder o controle sobre a dívida - e acabar com a casa retomada pelo banco perdendo boa parte do dinheiro já desembolsado. Ter mania de grandeza na hora de escolher imóveis já levou até mesmo milionários à falência. Entre eles, estão o cantor Michael Jackson ou o ator americano Nicolas Cage. A melhor opção é o imóvel que combine com seu perfil e que possa ser parcelado por bancos que oferecem juros mais atrativos e descontos para clientes que pagam as mensalidades antes do vencimento.
8 - Passar por um processo de divórcio complicado. Separar-se do cônjuge, para muita gente, implica em abrir mão de metade dos bens acumulados durante a vida (em caso de comunhão total de bens) ou após o casamento (em caso de comunhão parcial). Se você não quer ter prejuízo financeiro em caso de fracasso no matrimônio, é necessário estabelecer em um contrato antenupcial o regime de separação dos bens. Nesse caso, o outro cônjuge só terá direito a reclamar parte de seus bens caso você morra. Se houver divórcio, o regime de separação de bens garantirá a integridade de seu patrimônio. Segundo a atual jurisprudência, haverá divisão de bens apenas na hipótese de casamentos que duram várias décadas e quando um dos cônjuges comprova passar por um momento de dificuldades financeiras. Nesse caso, a Justiça poderá decidir que você deve ajudá-lo.
9 - Fingir que não está endividado. Muita gente foge dos seus compromissos financeiros e fingem não ter nem problema. Só que se as dívidas começam a aumentar, muitas delas deixam de ser pagas e alguma empresa ou banco que lhe concedeu crédito tenta entrar em contato, não é hora de fugir. O melhor a fazer é explicar a situação financeira em que você se encontra, expor os motivos que o levaram à inadimplência e tentar renegociar parte dos débitos. Muitas vezes será possível conseguir a redução dos juros ou o alongamento dos prazos de pagamentos, o que poderá lhe dar tempo para organizar as finanças. Não adianta nada deixar as contas se acumularem na gaveta. A situação pode piorar se o nome foi inscrito na lista dos devedores, como na Serasa e no SPC. Ficar inadimplente compromete ainda mais a situação, já que será difícil ter acesso a outros tipos de créditos, mais baratos, para quitar as dívidas.
10 - Adotar estratégias arriscadas na Bolsa. Na crise de 2008, muita gente ganhou dinheiro ao apostar na queda das ações. O que esses investidores faziam era alugar ações de outros e as vender imediatamente com a expectativa de recomprá-las por um preço menor no futuro – com lucro. O problema é que essas operações - conhecidas como short-selling nos Estados Unidos e venda a descoberto no Brasil – costumam ter uma relação entre risco e retorno desproporcional. Ao comprar uma ação e apostar em sua alta, o máximo de dinheiro que alguém vai perder é o do próprio valor do papel. No entanto, nas vendas a descoberto, não há limites de perda, já que a ação pode subir indefinidamente. O melhor jeito de evitar o risco de quebrar com o operações de short-selling é não fazê-las.
Fonte: Investopedia.com.
Análise
Foco agora é na dívida dos mais novos
Leonardo Coimbra - Da Cercred, empresa de cobrança
Os jovens começam a despontar também entre os endividados. Tudo porque a oferta de crédito no momento tem estimulado o consumo da juventude. O problema começa quando o jovem recebe oferta de crédito, decide utilizar o serviço, mas acaba contraindo dívidas superiores a seu orçamento mensal, devido à falta de planejamento financeiro. No primeiro semestre de 2010, a parcela de não pagadores de idade até 20 anos dobrou em relação ao ano passado, chegando a 8%. Eles se endividam principalmente por causa do cheque especial, do cartão de crédito, financiamento de veículos e compra de outros bens. A tendência é aumentar o número de jovens endividados, e as empresas já pensam em novas formas de cobrar as dívidas das pessoas com menos de 25 anos. Além das formas usuais de cobrança (telefone, carta, boleto, SMS, Ura e cobrança externa), as assessorias estão inovando, promovendo encontros e até cafés da manhã para renegociar os débitos com os devedores.
Jovens controlam dinheiro dos pais
Com 19 anos, Arthur Vicente do Nascimento é o principal responsável por controlar as finanças da família. Entre dois cursos, Administração e Automação Industrial, ele acha tempo para controlar as contas e fazer as compras da casa. Há quatro meses, ele começou a monitorar todos os gastos.
“Alguém sempre gastava mais do que deveria. Então, fiz uma análise da vida financeira da família, adaptei umas planilhas financeiras para e fiz um orçamento familiar. Agora, recolho todo mês o dinheiro de cada um para realizar a manutenção da casa. Isso ajudou a reduzir o endividamento. Ainda há muito o que melhorar, mas penso que assim vamos viabilizar soluções para possíveis dificuldades”, explica o estudante que mora com a mãe, o pai, um irmão e um primo.
Outro jovem preocupado com a saúde financeira da sua família é o assistente de gerente da Sá Cavalcante, Joseilson Santana, de 28 anos. Ele confiscou todos os cartões de crédito e o dinheiro de seu pai, José da Silva Sobrinho, de 62 anos.
“Ele era meio desorganizado com as finanças da casa. Não conseguia juntar dinheiro. No início do ano resolvi ajudá-lo. Então, fiz um relatório com a evolução dos gastos e percebi que meu pai estava perto de ficar endividado. Hoje, ele gasta menos, e uma parte do dinheiro é aplicada na poupança e em capitalização. Nossa meta é a construção da nossa casa. Só quando sobra algo, ele pode gastar.”
Dica de livro
Vamos falar de dinheiro? O livro traz respostas para perguntas sobre dinheiro, planejamento financeiro, investimentos e economia. Escrito em linguagem acessível, sem "economês", o livro traz dicas sobre as alternativas de investimento disponíveis.
Autor: Conrado Navarro
Preço: R$ 37,90
informações: www.dinheirama.com
Ao mês
15% de juros - É a taxa média mensal aplicada pelos cartões de crédito nas faturas que entram no rotativo. Então, cuidado. Se está endividado no cartão, procure um empréstimo com juros mais baratos, como o consignado, que tem taxas a partir de 1% ao mês.
Agora é com você...
Tenha uma ideia do tamanho de seu problema. A primeira coisa a fazer é anotar todos os gastos do mês, inclusive os gastos pequenos, para descobrir de onde cortar.
Quanto mais intenso for o corte de gastos, menores serão os desgastes no relacionamento familiar.
Venda bens para pagar as dívidas. Troque o carro por um mais barato e passe a morar num imóvel menor.
Troque juros altos por juros mais baixos. Por exemplo: saia do cheque especial para um empréstimo consignado.
Elimine o uso de cartões de crédito e proponha um acordo para a quitação do débito.
Elimine o uso de cheque especial e negocie o pagamento.
Aumente sua renda mensal montando um negócio próprio. Isso pode ser feito sem prejudicar sua atividade profissional.
Uma solução que parece fácil de resolver é não fazer novos empréstimos para pagar dívidas existentes. Se esses novos empréstimos também forem de juros altos a situação vai se agravar e levar à falência.
É importante que a pessoa que esteja em desequilíbrio financeiro lute por seus direitos, com base no Código de Defesa do Consumidor. Juros abusivos, taxas indevidas e descontos não reconhecidos devem ser contestados no Procon e até nos Juizados Especiais. (A Gazeta) Autora: Mikaella Campos
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