Muitas igrejas têm usado as redes sociais para promover um boicote. No Facebook, um dos posts diz que a novela vai adorar "Ogum" e que os evangélicos não devem dar audiência ao folhetim
Salve Jorge, a nova novela Rede Globo, estreou há menos de uma semana e já se encontra no meio de uma grande polêmica. Evangélicos estão usando a internet para promover protestos contra a série. O motivo é que a trama fala de São Jorge, que, no candomblé, é reconhecido como Ogum. Muitas igrejas têm usado as redes sociais para promover um boicote. No Facebook, um dos posts diz que a novela vai adorar "Ogum" e que os evangélicos não devem dar audiência ao folhetim. Outra mensagem sugere: "Na hora da novela, leiam a Bíblia".
No Estado, o pastor presbiteriano Helmar Henrique é um dos que defendem o boicote. "Condenamos qualquer tipo de ligação com o misticismo. O fato é que devemos preservar o absolutismo de Jesus. Ele é único", diz. O pastor acredita que a proibição é necessária, pois existe todo um contexto ético, religioso e moral que a trama prejudica.
Pastor da Igreja Batista Renovada e presidente da Associação de Pastores Evangélicos de Vila Velha (Apevive), Pedro Carlos de Souza, tem a mesma opinião. "A nossa orientação é no sentido do esclarecimento. A veneração a Ogum mostra um outro caminho totalmente diferente do nosso".
Polêmica
Em seu blog, o bispo Edir Macedo, fundador da igreja Universal do Reino de Deus, criticou a trama. "Como posso aceitar dentro da minha casa algo que vai frontalmente contra um mandamento direto do meu Deus?", questionou.
A Globo diz que a novela não trata sobre São Jorge e sim cita o mito do guerreiro. E que a única referência ao santo é o fato de ele ser o padroeiro da cavalaria da trama.
Análise do teólogo e especialista em Religião do jornal A GAZETA, Vitor Nunes
Toda essa polêmica faz parte da teoria de determinados grupos da sociedade que pretendem direcionar mensagens de acordo com os seus interesses. Assim, criam uma pressão social sobre a emissora que transmite o produto. Essa situação só torna evidente a necessidade de ampliar o diálogo inter-religioso no país. O fechamento de grupos em seus discursos limita a chance de se conhecer outras questões. O sincretismo religioso faz parte da nossa cultura. Só devemos tomar um posicionamento crítico a respeito de um tema como esse se o conhecemos. Senão, a negação torna-se uma decisão que não foi construída por conta própria. Sou a favor de um debate social. É importante assistir para que possamos apontar as razões para não assistir. Na época do Brasil Colônia, os escravos mesclaram suas práticas religiosas ao catolicismo. Deu-se o sincretismo, que é uma realidade presente da sociedade. As pessoas ainda não têm consciência de que precisamos de tolerância religiosa. Temos que respeitar a crença de cada um. A novela é apenas uma vitrine, não a convocação a uma devoção.
Autora: "Vejo interesses comerciais"
Após a polêmica, a autora da novela, Glória Perez, decidiu falar. "Não vejo protesto de evangélicos. O que vejo são interesses comerciais apelando para o fundamentalismo. E penso que, em casos assim, o pessoal da imprensa deveria seguir o sábio conselho do Millôr Fernandes: ‘Não se deve ampliar a voz dos imbecis’", disse ela.
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