domingo, 6 de maio de 2012

Surtos em estudantes em Araripina. Histeria coletiva? possessão?

Em Pernambuco, alunos têm surtos e desmaios em aula

Imagens mostram surto de alunos em escola do no sertão de Pernambuco
Segundo a direção, dos 360 alunos matriculados na Escola Vitalina Maria de Jesus, 13 já passaram mal. E o curioso é que todos sentiram os mesmos sintomas.
A aula estava no fim quando alguns jovens começaram a passar mal. Já era noite, e só a luz de um celular conseguiu iluminar o que acontecia: cinco estudantes em surto, ao mesmo tempo. Em imagens exibidas com exclusividade pelo Fantástico é possível ver três deles. Uma menina é amparada, enquanto as pessoas em volta seguravam seus braços. Outra jovem parece fraca e também é socorrida. Tudo aconteceu em frente a uma escola, na zona rural de Araripina, cidade de 80 mil habitantes no sertão de Pernambuco.

Os jovens são alunos da sexta série e o surto aconteceu na em uma sala no dia 25 de abril. E não foi o primeiro caso no colégio. Os surtos começaram há pouco mais de um mês.

Segundo a direção, dos 360 alunos matriculados na Escola Vitalina Maria de Jesus, 13 já passaram mal. E o curioso é que todos sentiram os mesmos sintomas. Primeiro, vem uma forte sonolência, depois os braços e as pernas ficam dormentes e, de repente, eles desmaiam.

Edivânia, de 21 anos, conta o que sentiu: “eu comecei com uns arrepios de frio e as mãos endurecendo”. Outra aluna passou pelo mesmo: “a gente fica nervosa e fica com medo mesmo. E acaba desmaiando”.

Jacira, de 15 anos, teve quarto surtos. O pai conta que ela chegou a ficar violenta: “Ela se trancou no banheiro. Uma amiga dela foi socorrer, e ela pegou a amiga e jogou na parede”.

A causa dessa estranha reação coletiva é um mistério. Algumas meninas foram levadas ao hospital, mas os médicos não encontraram nada de errado. “Depois de serem atendidas, elas ficam em observação e pouco tempo depois já estão bem”, diz a médica Audryan Cavalcante.

A Secretaria de Saúde do município testou a água e a merenda da escola. Não encontrou pistas para o mal estar dos jovens. Mas os médicos sabem que pode ser um distúrbio emocional. “É possível que o fato de uma ter se sentido mal possa ter influenciado, sugerido as outras a referirem os mesmos sintomas”, aponta uma médica.

A tese é de que os alunos estejam sofrendo de uma histeria coletiva, um fenômeno psicológico. Começa quando uma pessoa se sente mal e os amigos que convivem com ela acabam absorvendo sintomas como dor de cabeça e tontura. Ninguém está realmente doente, mas todos sentem o mesmo mal estar.

“Isso é muito comum de acontecer em escolas, fábricas, em vilarejos pequenos. Então, uma pessoa tem um sintoma, outra pessoa vê e se impressiona com aquilo. E e acha que aquilo pode ser contagioso e começa a apresentar a mesma coisa”, explica o psiquiatra Daniel de Barros.

Só uma avaliação médica cuidadosa pode confirmar um diagnóstico de histeria coletiva, mas o caso de Pernambuco tem algumas características do fenômeno, segundo o psiquiatra. Um exemplo: a maioria entre os jovens afetados é de mulheres.

“Elas são mais sugestionáveis e podem se impressionar um pouco mais com o sintoma que a amiga está apresentando”, aponta o especialista.

A hipótese de histeria coletiva também surgiu em outros casos. Em 2007, 600 meninas de um internato no México ficaram, de repente, com dificuldade para andar. E dar alguns passos virou um sacrifício.

Em 2011, nos EUA, pelo menos, 15 jovens de um colégio começaram a ter tiques nervosos graves e inexplicáveis. Os tiques se espalharam entre amigas em poucas semanas.

No Brasil, em 2010, cerca de 20 alunos de uma escola em Itatira, Ceará, começaram a ter surtos e ficavam agressivos. As aulas foram suspensas por um mês. Quando recomeçaram, as manifestações haviam desaparecido.

Em casos de histeria coletiva, o mal estar geralmente é temporário. “O ciclo em uma pessoa é rápido, mas dependendo do tamanho do grupo isso pode durar dias mesmo. Às vezes, semanas e meses. Quanto mais tranquila e mais sossegada ela fica, já sabendo que isso não é nada sério, menor a chance ela tem de desenvolver esse sintoma”, afirma o psiquiatra.


Em junho de 2010 vimos através de noticiários de TV e internet o caso de “estranhos” fenômenos acontecendo com aproximadamente 25 jovens em uma cidade, mas especificamente em uma escola no interior do Ceará (Itatira).



Caso de Itatira - Histeria coletiva surge de vontades recalcadas, diz psicóloga
No início de junho de 2010, dezenas de jovens passaram mal em uma escola de Itatira, no interior do Ceará, após uma suposta visão do espírito de um colega morto. Eles entraram em transe e muitos tiveram que ser levados para o hospital.

Segundo o psiquiatra Adalberto Barreto, da Universidade Federal do Ceará, e o padre Hélio Correia de Freitas, que é parapsicólogo e acompanhou o caso no local, os estudantes podem ter sofrido um ataque de histeria coletiva.

A psicóloga Kátia Gandolpho Cunsolo confirma que o caso tem características típicas desse tipo de problema. Ela explica que a histeria coletiva é uma espécie de explosão de sentimentos, de vontades reprimidas, que é disparada em várias pessoas ao mesmo tempo.

"O material recalcado vem disfarçado sob a forma de um sintoma corpóreo. É uma espécie de teatro corporal", explica Kátia, que se especializou em psicanálise – a corrente da Psicologia que se baseia nos estudos do médico Sigmund Freud.

Os sentimentos recalcados, segundo a psicóloga, ficam guardados no inconsciente porque não foram exprimidos. "Uma ideia que não foi verbalizada, que não foi simbolizada. Um medo, uma tristeza, uma angústia. Esse medo não tem nome e escapa pela via do corpo."


Casos históricos
Várias ocorrências de histeria coletiva foram registradas ao longo da história. Em 1518, em Estrasburgo, hoje no território da França, centenas de pessoas começaram a dançar de forma descontrolada. A epidemia, batizada de "Praga da Dança", acabou matando muitos de exaustão.

Outro caso mundialmente conhecido ocorreu em um colégio de freiras no México, em 2007. Lá, cerca de 600 alunas começaram a apresentar dificuldades para andar. Depois de muitos exames físicos, a conclusão foi de que as regras rígidas da escola acabaram desencadeando a histeria coletiva.

Segundo Kátia, esses casos são cada vez menos comuns, pois as pessoas já não têm tantos sentimentos reprimidos. "Hoje existe uma possibilidade maior de nomeação dos afetos, e as pessoas têm mais liberdade de expressão."

Problemas espirituais
Para o psicólogo clínico Julio Peres, doutor em neurociências pela USP, é necessário levar em consideração a possibilidade de os jovens do Ceará terem sofrido um problema ligado à sua espiritualidade, e não um transtorno psiquiátrico.

"É possível que tenha havido uma experiência espiritual. O DSM IV [manual de diagnóstico de saúde mental utilizado em vários países do mundo reconhece a existência de problemas espirituais e religiosos", afirma.

(Fonte: Portal G1)

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