Um trator desgovernado atropelou duas crianças que voltavam da escola, no final da manhã de ontem, em Jardim Tropical, na Serra. Renata Muniz Bastos, 9 anos, que morava a poucos metros do local do acidente, morreu na hora. A colega Raiana Cristina do Espírito Santo, 10 anos, ficou ferida em estado grave. O condutor do trator não tinha habilitação.
A polícia afirmou que Ezequiel Gomes da Penha, 28 anos, perdeu o controle da direção quando descia a ladeira da Rua C. Ele jogou o veículo para a direita para não cair no barranco e acabou atingido as crianças e derrubando um poste. A concha do caminhão acertou Renata. Em seguida, Raiane foi atropelada, e o trator capotou.
O barulho da colisão chamou a atenção de todos na rua. A mãe de Renata - a ajudante de cozinha Zilene Muniz Bastos, 33 - aguardava a criança para almoçar e ficou desesperada ao saber do desastre.
"Está doendo muito, é uma dor que não para. Não acredito que minha filha morreu. É um pesadelo!", dizia ela, que teve que ser levada em ambulância ao posto de saúde do bairro. Uma tia de Renata chegou a desmaiar. O pai da criança também ficou em estado de choque e foi hospitalizado.
Testemunha
A dona de casa Maria das Graças, 46 anos, assistiu ao momento do acidente. Ela conta que o trator desceu a ladeira rapidamente. "Vi que as duas meninas estavam na escada, ao lado do barranco, e gritei para tentarem subir, mas não deu tempo. Eu queria salvá-las, mas não pude. A cena não sai da minha cabeça", destacou.
Moradores disseram que o trator já seguia desgovernado por alguns metros e que vinha de Central Carapina, bairro próximo. Chamou a atenção dos moradores o fato de o operador do trator carregar uma bicicleta na concha do veículo.
Hospital
Socorrida inclusive por parentes, Raiana foi levada, em estado grave, para o Hospital Infantil e Maternidade Azir Bernardino Alves, em Vila Velha. Familiares informaram, por volta das 23h de ontem, que a criança já havia sido submetida a uma cirurgia e deveria fazer outra ainda ontem à noite.
O condutor do trator também ficou ferido no acidente. Preso às ferragens, Ezequiel teve que ser retirado por uma equipe do Corpo de Bombeiros. De lá, foi levado ao Hospital Dório Silva, na Serra, de onde foi liberado horas depois.
Colega de trabalho de Ezequiel, Vanderlei Félix contou que ficou impressionado com a gravidade da batida. "Não acreditei quando o vi andando no hospital. Só pode ter sido milagre."
Raiana mudou de turno para estudar com Renata
Muito conhecidas pelos vizinhos, Renata - que sonhava em ser modelo - e Raiana eram queridas na rua em que moravam. Além de vizinhas, as meninas que foram vítimas do desastre com o trator em Jardim Tropical eram muito amigas. A amizade era tanta que Raiana mudou de turno na escola para conseguir estudar junto de Renata, na 4ª série, pela manhã. "Ela estava feliz por estar na mesma sala da melhor amiga", contou Rosymary Moreira, diretora da Escola Municipal Olivina Siqueira, em Jardim Tropical.
Ela lembrou que as garotas eram muito afetuosas e estavam sempre alegres. Chorando, a diretora afirmou que uma funcionária da escola foi até o local do acidente depois que viu viaturas do Corpo de Bombeiros e ambulâncias passarem pelo bairro. Essa servidora teria ficado em estado de choque.
À tarde, as aulas foram canceladas, e professores e funcionários iriam ao velório e a casa das vítimas para prestar solidariedade. O sepultamento de Renata foi marcado para as 10 horas de hoje, no Jardim da Paz, na Serra.
Versão
"Preferia que tudo isso tivesse acontecido comigo"
Os ferimentos no rosto, na cabeça e no braço não eram nada para o carregador de areia Ezequiel da Penha Eduardo, 28 anos. Muito abatido e falando pouco, com voz muito baixa, ele afirmou que preferia que todo o sofrimento causado às famílias das vítimas fosse apenas para ele. A entrevista foi dada na Delegacia de Delitos de Trânsito, em Vitória, onde Ezequiel foi submetido ao teste do bafômetro. O resultado apontou que ele não havia ingerido bebida alcoólica.
Como tudo aconteceu?Não sei, foi tudo muito rápido. Eu não vi as meninas.
O que passou pela sua cabeça no momento em que tudo aconteceu?Pensei que fosse morrer.
Você tem filhas?Sim, duas. Uma de 10 anos e outra de 2.
"Renata tentou se proteger"
Renatinha e a Raiana dormiram na casa de uma amiga, com outras meninas, e depois foram para a escola. Minha filha, Analícia, 10 anos, havia chegado em casa uns 5 minutos antes. Eu estava na janela quando vi o trator vindo, desgovernado. Raiana tentou correr e acabou arremessada pela pá. Já Renatinha se encolheu no barranco, para se proteger, mas acabou atingida. Parecia que eu estava assistindo a um filme de terror."
Carregador de areia é transferido para presídio
O carregador de areia Ezequiel da Penha Eduardo, 28 anos, foi autuado em flagrante pelos crimes de homicídio consumado e tentativa de homicídio com dolo eventual. Ele não tem carteira de habilitação, o que, para a polícia, significa que ele assumiu o risco de dirigir sem ser habilitado para isso. Se for condenado, Ezequiel poderá pegar até 20 anos de prisão.
"Se não bastasse a falta de habilitação foi o Ezequiel quem desceu uma ladeira íngreme conduzindo um veículo de tamanha potencialidade, haja vista que o trator pesa 18 toneladas", completou a delegada Cláudia Dematté, adjunta da Delegacia de Delitos de Trânsito.
Ele frisou que, pelo fato de o trator não ter nenhum tipo de licenciamento e emplacacamento, o carregador de areia jamais poderia trafegar em via pública com o veículo. Depois de receber atendimento médico no Hospital Dório Silva, na Serra, por volta das 15 horas, Ezequiel foi levado à Delegacia de Delitos de Trânsito, em Vitória, onde prestou depoimento. De lá, foi transferido para um presídio da Grande Vitória.
Acusado dirigia veículo pela 3ª vez
O carregador de areia Ezequiel da Penha Eduardo, 28 anos, afirmou em depoimento que ontem foi a terceira vez que dirigiu o trator. Ele explicou que saiu da região chamada de Cajueiro - que fica perto de Cariacica - e foi para o areal de Furnas, localizado em Jardim Tropical, na Serra.
De acordo com o relato feito à polícia, mesmo sem ter habilitação, ele aceitou fazer o serviço porque estaria obedecendo ordens superiores do gerente da empresa Mineração Machado, Isaac Menezes Pereira, 28. A empresa tem sede em São Diogo, também na Serra, e atua no ramo de mineração, extração de areia e pedras.
No início da tarde, o gerente prestou depoimento à polícia na Delegacia de Delitos de Trânsito, onde assinou um termo circunstanciado. Segundo a delegada Cláudia Dematté, Isaac vai responder pelo crime de ter dado um veículo para um condutor não habilitado, como prevê o Artigo 310 do Código de Trânsito.
Empresa
A advogada da Mineração Machado, Vanessa Santa Bárbara, informou que o gerente da empresa não sabia que o funcionário não era habilitado. Ela explicou que o deslocamento dos tratores de um areal para outro é feito por vias vicinais, em estradas de terra, nunca por área urbana. Por isso, destacou a advogada, não há necessidade de o veículo estar emplacado.
"Vamos apurar com todo o rigor as razões pelas quais o funcionário estava em via urbana. Todos os fatos vão ser investigados", garantiu.
Apoio
A empresa lamentou a fatalidade e destacou que todo o apoio financeiro já foi dado à família da Renata para custear o velório e o enterro da menina. Além disso, uma assistente social está fazendo o acompanhamento da Raiana e da família no hospital. Quanto ao funcionário, todo o apoio jurídico está sendo dado ao carregador de areia, inclusive, para agilizar a soltura dele. A advogada acrescentou que o funcionário tem cerca de três anos de empresa.
Vanderlei Félix - que trabalha na mesma empresa na atividade extração de areia - disse que Ezequiel trabalhava em Colatina, no Noroeste do Estado, antes de se mudar para a Grande Vitória. Ele afirmou que também não sabia que o colega não tinha habilitação. (A GAZETA - Amanda Monteiro e Deborah Hemerly)
Infelizmente não podemos prever o que nos acontecerá no futuro, mas se pudéssemos, com certeza mudaríamos o percurso da vida das pessoas que amamos, para tê-las mais tempo ao nosso lado. Compartilho minha solidariedade aos pais da Renata que neste momento estão sofrendo. Que Deus a tenha e lhes dê o conforto.
ResponderExcluirdiquen e a cupa ador da mãe vai ficar na conta de quen eu sou pai não sei oque esta mãe esta passando mas posso imaginar oque ela deve estar passando , deixamos de viver pelo nossos filhos paramos de curti pelos nossos filhos agora me fala quen e que vai pagar pos isso a segurança no trabalho abrange não só o ezecutor do trabalho mais quem esta em vouta tambem e triste esta fato mais se as empresas responsaveis por obras de urbanisação não teren mais compromisso com a segurança quen vai chorar no final somos nos pais
ResponderExcluirEste caso é revoltante.Só pensar que duas crianças inocentes voltavam da escola e vir um cara sem controle com um trator,sem experiência, e de quebra sem habilitação deixe uma sem vida e a outra gravemente ferida,interrompendo suas vidas, sonhos,deixando duas famílias completamente desesperadas com muita triteza, pois não existe uma dor maior do que perder um filho.Espero que a justiça seja feita, este "motorista" deve ficar preso por justa causa e a empresa que o contratou processada.
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