sexta-feira, 11 de maio de 2012

Deserto de Atacama. Lugar de extremos, tem salina enorme e vale que lembra Marte


Deserto de Atacama. Lugar de extremos, tem salina enorme e vale que lembra Marte

Muito provavelmente, a bateria do seu celular e a tela da sua TV de plasma foram produzidas com lítio retirado do 3º maior depósito de sal do mundo.
Uma visão impressionante: o encontro de forças da natureza - o deserto e o mar. Iquique é uma cidade espremida entre a areia e as águas geladas do Oceano Pacífico. Imponente, a grande duna, el Cerro Dragon, se estende ao longo de quatro quilômetros. Em alguns trechos, ela alcança até 500 metros de altura.

Mas o Atacama se estende por outros caminhos. São paisagens diversas e inesperadas. O extremo norte é uma espécie de reserva natural de animais que são os parentes andinos dos camelos. Simpáticos, estão acostumados a viver em climas adversos.

Nos lugares mais distantes, altos e frios do deserto, muita gente sobrevive da criação de ovelhas, de lhamas e alpacas. O Globo Repórter chegou até uma dessas comunidades. Nela, são mais ou menos 300 alpacas. Elas são de duas espécies diferentes e podem ter até 20 tonalidades. No início elas ficam um pouco assustadas com a nossa chegada, mas logo se acostumam e ficam à vontade.

Nessa época do ano, as alpacas já começam a namorar, mas a procriação só acontece normalmente a partir de dezembro. Jaime é pastor e seis meses por ano ele mora em uma casa longe de tudo. É uma vida simples e dura. Um trabalho que passa de pai para filho.

Hoje, esses animais são a principal fonte de renda das comunidades dessa região. É em povoados como esse, tranquilo, silencioso e que parece parado no tempo, e onde vivem no máximo seis famílias, que são feitos os produtos com a lã da alpaca. Cada mulher trabalha sozinha na sua casa.

É o caso de Dona Felipa, de 52 anos, que faz gorros, cachecol e mantas, em um processo totalmente artesanal. Para se ter uma ideia do trabalho dessas artesãs, elas levam um mês para preparar uma echarpe. Mas é lindo.

Dona Felipa mora em um dos 13 vilarejos que pertencem à Comuna Geral dos Lagos. Lá, vivem cerca de 20 artesãs, todas descendentes de índios, que tentam preservar a cultura e a forma de viver dos antepassados. É um lugar distante.

As paisagens são tirar o fôlego - literalmente. Um dos efeitos da altitude é a falta de oxigênio. Quase cinco mil metros acima do nível do mar. Em um momento, a temperatura chegou a -10°C. O vento é assustador. O lago mais alto do mundo é o Chungará. É um dos lugares mais bonitos do mundo.


São 22 quilômetros quadrados de superfície d'água emoldurados pelo vulcão Parinacota e uma cadeia de pequenos vulcões. O lago Chungará abriga mais de 130 espécies de aves e mamíferos. De repente, um condor passa por cima, rasgando o céu. O lugar é tão bonito que até nos perguntamos se não é uma miragem. Assim é em todo o Atacama. Mesmo nas áreas aparentemente mais áridas e sem vida, o inesperado surge no meio do caminho, como a neve, que esse ano surpreendeu e mudou muito a paisagem. Em alguns pontos chegou a dois metros de altura. O branco que quase cega também confunde. Como imaginar que se está no deserto com esse cenário? A explicação é simples: chamamos de deserto a região seca que se eleva até três mil metros acima do nível do mar. Mas é essa paisagem branca que envolve o deserto, que traz água, vida e vegetação.


Existem trechos que têm muita neve. O pessoal trabalha no meio da estrada, porque senão não é possível passar. A grande dificuldade é a altitude, 4,2 mil metros. O ar fica rarefeito e a pressão na cabeça é muito forte. Se não caminharmos lentamente, não aguentamos. A respiração fica difícil, parece que vamos desmaiar. Há uma sensação de tontura.

No caminho, a equipe cruza, por acaso, com uma médica brasileira, a endocrinologista Makiko Kubota, que dá um conselho importante. “Tem que dar os dez passinhos, parar, respirar com o nariz, soltar com o pulmão. Devagarzinho, você consegue.”

Logo depois a equipe encontra outros brasileiros, todos jovens, que dão outra dica bem diferente. “Estou aqui há quatro dias e é como se estivesse em casa”, garante um. “A gente mascou coca.”

Lá não é proibido. As folhas de coca são usadas exatamente para combater o mal da montanha: a altitude. Se não é ilegal, por que não experimentar também? É só mascar. São um pouco amargas.

Quase no final da trilha, a equipe encontra outro grupo de brasileiros. Todos são cariocas. “A gente já está há dez dias”, conta uma jovem.

De férias pela América do Sul, eles estão em busca de lugares exóticos, de cenários diferentes dos nossos. Como a lagoa Miscanti. A equipe do Globo Repórter enfrentou neve, altitude, e agora o frio de lascar, mas valeu a pena. A lagoa Miscanti é um dos cartões postais do Atacama. Chegar lá perto é perigoso. A neve tomou conta de tudo e não dá para chegar perto. É até difícil acreditar que se está em pleno Atacama, sempre um lugar de extremos. Depois da neve em excesso, a equipe passa à secura máxima: um chão de puro sal.

A salina em pleno deserto, tão grande que se perde até de vista, é o maior depósito de sal do Chile e o terceiro do mundo. Ela é importante também. É uma reserva natural de flamingos. Tem mais um detalhe: no local existe a maior produção de lítio do planeta. Muito provavelmente a bateria do seu celular e a tela da sua TV de plasma foram produzidas com lítio retirado desse lugar.

A laguna de Chaxa é extremamente salgada e uma reserva de flamingos. Três espécies vivem no local. Eles vão em busca de comida, um micro-organismo rico em betacaroteno, e que dá às aves a coloração rosada das penas. Os flamingos mais jovens geralmente têm as penas mais claras.

Outro pássaro comum na região é o caití, que tem um bico interessante. Mas os donos do espaço são mesmo os flamingos. Eles são protegidos por lei. A reserva parece um palco, onde eles apresentam uma espécie de balé gracioso e sedutor: a marcha nupcial. Machos e fêmeas andam em cortejo. É um espetáculo que pode durar horas.

Em um lugar tão grandioso como esse, é fascinante observar os detalhes. O sal forma estruturas rochosas e porosas. Um desenho simples e bonito. É o deserto. Um lugar onde os elementos brincam com a nossa imaginação e parecem nos transportar para cenários de outros planetas.

O deserto pode ser observado dos mais diversos ângulos, e com um pouquinho só de boa vontade é possível chegar a lugares como o Vale de Marte. Olhando em volta, não é sequer necessário dizer o motivo do nome. A paisagem é espetacular. Para onde se olha tem um detalhe diferente. Os pesquisadores da Nasa acreditam que o Vale de Marte seria o lugar da Terra mais parecido com o planeta vermelho.
Assim na terra como no céu. Perto dali, o Vale da Lua nos leva para outra galáxia. Um lugar onde parecemos sentir o silêncio. O sol se põe. Um jogo de luz e sombras colore tudo. A sensação é mesmo que estamos em outro mundo.

Entre pedras e areia, natureza brota e encanta no Deserto do Atacama
O Atacama, no Chile, é um deserto de contrastes e extremos. A região abriga uma cidade fantasma que exibe lembranças de um tempo de luxo.



Em uma paisagem árida, o sol ilumina um enorme vazio. O Globo Repórter está no deserto. Tudo deveria ser sem graça e morto, mas não no Atacama. Há vulcões, lagos e solo fértil. Jatos de vapor jorram da terra. A vida brota no chão seco. Surge entre as pedras e aparece no ar. A natureza bruta resiste e encanta. São vestígios de um passado distante, um caminho aberto para o futuro. O frio é intenso e o calor, sufocante. Tudo junto, em um cenário mutante, coberto de cores e cercado por cordilheiras geladas que recortam o horizonte.


No Atacama, tudo é extremo e superlativo. É o deserto mais seco e mais alto do mundo. São quilômetros de pedra, areia e muitos contrastes. Uma imensidão de histórias, surpresas e desafios.


Um mar de areia e o céu. Mas não se engane. O areal gigante esconde mesmo muitos mistérios. A equipe do Globo Repórter cruzou o Atacama de uma ponta à outra durante 17 dias para tentar desvendar seus segredos. Localizado no norte do Chile, o deserto ocupa cerca de um terço do território do país. Atravessa quatro regiões e percorre as fronteiras com Argentina, Bolívia e Peru.


O dia está apenas começando. Os primeiros raios de sol tingem a Lua, que ainda brilha no céu. A aura alaranjada, no lento nascer do dia, anuncia uma demonstração da força da terra. Jatos de vapor de água são lançados das entranhas de um vulcão. São tão fortes e poderosos que podem atingir até dez metros de altura.


Um dos grandes espetáculos desse deserto é o gêiser, como o Gêiser del Tatio, o maior do Atacama. Esse fenômeno acontece sempre de madrugada, quando está amanhecendo, e é simples. A água que desce da cordilheira vai por baixo da terra e encontra a rocha fervendo. Aí acontece a evaporação. É lindo e sensacional, mas é perigoso. Não se pode botar a mão na água. A temperatura chega a 85ºC.



Como ainda é muito cedo, algumas pessoas assistem ao espetáculo e aproveitam para preparar um café da manhã improvisado. Ovos quentes, cozidos no calor de um gêiser. Não é todo dia que se pode fazer isso.


A equipe do Globo Repórter está a 4,3 mil metros de altitude. A temperatura é de -10ºC. Perto do gêiser, é quente. Mas se der dois passos, pronto, a sensação é de congelamento. Mas vale a pena. Compensa poder apreciar um espetáculo como esse. A repórter Glória Maria se encanta. “É lindo, lindo, lindo.”


O amanhecer gelado no altiplano reserva ainda outra surpresa. À primeira vista parece um coelho selvagem, mas não é. O bicinho gracioso é a biscacha, um roedor típico dos Andes. Ele é muito ágil e rápido. Percebe quando está sendo observado. A cor meio indefinida se confunde com a paisagem. Quando se sente em perigo, ele consegue escapar facilmente. É preciso aprender e se adaptar para viver nessa região.


No deserto, nada é mais ou menos. Vive-se sempre situações extremas. Ou é muito frio ou muito calor. Isso se prova olhando para o céu. Em frente, está tudo cinza, escuro. As nuvens não significam chuva. São um sinal de que vai pintar um vento forte que pode causar até tempestade de areia. Do outro lado, outra manifestação do deserto: uma tempestade de areia. Nesse ambiente de tantos contrastes, a temperatura pode variar em mais de 30ºC no mesmo dia.


No pequeno vilarejo de Toconao, as casas são construídas com pedras vulcânicas. Elas funcionam como isolante térmico, tanto para o frio quanto para o calor. Apesar da chegada dos turistas e de novos hábitos, os moradores ainda tentam viver junto à natureza. Ou seria o contrário?


Lhamas, no meio da rua, andam tranquilamente, como se fossem animais de estimação. Isso só se encontra em povoados bem pequenos do Deserto do Atacama. As lhamas já se acostumaram a viver perto de gente. Sentem-se à vontade, não se assustam e não fogem. Mas, antigamente, esses animais eram selvagens e iam buscar comida em lugares como a lagoa de Tebinquiche, uma das mais espetaculares desse deserto.




Até mais ou menos 50 anos atrás, toda a vegetação que cresce nas margens dessa lagoa, a maior do Atacama, era o principal alimento para as lhamas, animal típico dessa região. Hoje, tudo mudou. A lagoa é uma atração para quem vai conhecer o Atacama. Primeiro porque ela fica em um cenário deslumbrante. No fundo, ergue-se a Cordilheira dos Andes. Depois, uma surpresa: quando se olha, parece uma lagoa profunda, mas não é. É possível atravessar de uma margem para a outra tranquilamente. Essa lagoa tem, no máximo, 45 centímetros de profundidade.


As águas são dez vezes mais salgadas do que as do mar e refletem de forma cristalina uma paisagem que não mudou com o tempo. Mas, se a imagem permanece intacta, a cultura dos primeiros habitantes dessa região está ameaçada de desaparecer. Um exemplo é a pequena comunidade de Catarpe.


A vida moderna vem modificando os hábitos e a rotina dos moradores do Atacama. Até bem pouco tempo atrás, quase todas as famílias viviam em casas. Hoje, tudo mudou. As pessoas só vão para lá nos fins de semana, para preparar a terra para plantar.
A dona de casa Juana Gutierrez Ferrofino nasceu e cresceu no local. Mas, como a maioria, saiu em busca de emprego na cidade grande. Hoje trabalha para preservar as tradições de seu povo.


Dona Juanita, de 71 anos, e o agricultor Gerardo Cruz Morro, de 72, não perceberam que o tempo passou. É um casal raro. Não tem filhos, não tem vizinhos. Vivem só um para o outro.


A casa não tem luz elétrica, nem água encanada. Mas tem terreno para um pequeno cultivo e para os animais. Eles criam ovelhas, perus e galinhas. É tudo muito simples. Para chegar à cidade mais próxima, eles precisam caminhar mais ou menos dez quilômetros. Mas garantem que são felizes assim, isolados do mundo e cercados de terra árida por todos os lados. Para eles, é uma paisagem familiar que não cansa o olhar.


O lugar surpreende. O que de longe parece ser uma vegetação, de perto se revela o colorido natural da pedra. Milhões de anos de erupções vulcânicas transformaram esse lugar em uma festa de cores. Para onde se olha, tem uma combinação diferente. Tem verde, vermelho. Esse é o lugar mais colorido de todo o Deserto do Atacama. É o Vale do arco-íris.


Majestosas e testemunhas de um passado distante, as pedras têm cores variadas por causa dos minerais que existem na terra. Cobre, prata, ferro, alumínio, enxofre, carvão, entre muitos outros. O Atacama é riquíssimo em muitos minerais. Um desses minérios fez história: o salitre, que provocou uma espécie de corrida do ouro há mais de 130 anos.


Quando se pensa em cidade abandonada, em cidade fantasma, geralmente o que vem à cabeça é aquela velha imagem de filme americano de faroeste. Mas, no Atacama, não é cenário, não é truque de cinema. Existe de verdade. Um exemplo é Humberstone.


A cidade foi construída por mineradoras inglesas em 1872. Tudo foi planejado para dar muito conforto a seus funcionários. 


Igreja, praça... até uma piscina olímpica, feita de ferro, onde se realizavam competições. No auge da extração, Humberstone abrigou mais de quatro mil moradores. Mas com a descoberta de salitre artificial na Europa, a decadência foi inevitável.


Na cidade fantasma do Deserto do Atacama, muita coisa foi mantida praticamente como no passado: um teatro, por exemplo, com capacidade para 350 pessoas, e onde grandes artistas já se apresentaram, vivia lotado. Era cheio de vida. Hoje ele está vazio e silencioso. Faz parte de uma cidade fantasma, que é uma espécie de museu a céu aberto e um patrimônio da humanidade.


As ruas desertas são como fantasmas das lembranças de um tempo de luxo e riqueza. Uma história real que ficou no passado sem final feliz.
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