segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Preso, pai de Eloá vai acompanhar julgamento da cela em Alagoas

Preso, pai de Eloá vai acompanhar julgamento da cela em Alagoas

Um ano e dois meses depois de fugir de Santo André, Everaldo dos Santos foi preso na casa de parentes em Maceió.

Durante o sequestro de Eloá, o pai dela foi mostrado para todo o país ao passar mal. Acabou sendo reconhecido como o homem acusado de vários crimes em Alagoas. Procurado pela Justiça, ele fugiu de Santo André antes mesmo do enterro da filha, ao qual não compareceu, mas acabou preso pouco mais de um ano depois.
Everaldo dos Santos foi julgado em novembro de 2009 à revelia, sem a presença dele no fórum. Foi condenado a 33 anos de prisão pelos assassinatos do delegado Ricardo Lessa e do motorista dele, Antenor Carlota. Um ano e dois meses depois de fugir de Santo André, foi preso na casa de parentes em Maceió.

Everaldo dos Santos hoje cumpre pena em um presídio-modelo em Maceió. Ele também é acusado de outros três crimes de morte quando era cabo da Polícia Militar no estado de Alagoas. Hoje o pai de Eloá trabalha com artesanato na cadeia. Em São Paulo, era segurança em uma empresa e conhecido como Aldo José dos Santos.

O pai de Eloá diz que, durante o sequestro, conversou com Lindemberg. “Se eu tentasse entrar lá no apartamento, ele me matava, que ele iria matar a Nayara e iria matar a Eloá. Que se a Eloá não fosse dele, não seria de mais ninguém. Eu sabia, pelo homem que eu sou, que minha filha esperava eu arrombar aquela porta e entrar. Mas não tinha como eu entrar para defender a minha filha”, conta Everaldo dos Santos.

Com medo de ser preso, Everaldo não foi ao enterro da filha. “Não tive o direito de chegar perto do caixão da minha filha e me despedir dela. Eloá era uma pessoa maravilhosa, uma pessoa alegre e dada com todo mundo. Eu sinto muito não ter chegado lá e ter tentado resgatar minha filha dali. Perdi. Eu perdi”, lamenta o pai.



O pai de Eloá não vai ao julgamento. Vai acompanhar da cela o destino do ex-namorado da filha. Se for condenado por todas as acusações, Lindemberg pode pegar mais de cem anos de prisão. Por lei, ele só fica 30 anos na cadeia, mas todas as reduções e benefícios são calculados sobre a pena máxima.


Ana Cristina Pimentel mostra a foto da filha Eloá
Lindemberg é acusado de cometer 12 crimes, entre eles homicídio duplamente qualificado por motivo torpe, tentativa de homicídio (contra Nayara Rodrigues, amiga de Eloá também feita refém e que levou um tiro no rosto, e contra o sargento Atos Valeriano, que participou da ação), cárcere privado e disparos de arma de fogo. Se for condenado por todos os crimes, a pena pode ser superior a cem anos de prisão --Lindemberg está preso desde 2008.

Ao todo, serão ouvidas 19 testemunhas, sendo cinco de acusação e 14 de defesa. As testemunhas de acusação convocadas pelo Ministério Público são Nayara Rodrigues; Vitor Lopes de Campos e Iago Vilela de Oliveira, amigos de Eloá que estavam no apartamento dela quando Lindemberg o invadiu; Ronickson Pimentel, irmão mais velho da vítima; e o sargento Atos Valeriano, que participou da negociação para libertação das reféns e também foi baleado.

Já a defesa chamou 14 testemunhas, sendo quatro peritos criminais, um advogado, o delegado que presidiu o inquérito policial, dois policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) e seis jornalistas, entre eles Sonião Abrão e Roberto Cabrini.

Linha de acusação
Durante o julgamento, a promotora Daniela Hashimoto irá sustentar que Lindemberg é um jovem agressivo e possessivo, e que premeditou o assassinato de Eloá. “Ele foi até lá com a intenção de matar. A história começou dias antes daquele 13 de outubro [quando Lindemberg invadiu o apartamento]. Ele já vinha a ameaçando, tanto que 15 dias antes chegou a agredi-la, sempre com aquele papo de que ‘se não vai ser minha, não vai ser de mais ninguém’”, disse.

Para a promotora, Lindemberg só não cometeu o crime assim que chegou à casa de Eloá porque queria explicações dela sobre o motivo do fim do relacionamento.

Daniela disse ainda que o fato de Lindemberg ter tido a preocupação de retirar do apartamento o irmão mais novo de Eloá, Douglas, que era seu amigo, é mais uma indicação de que o crime foi premeditado --as gravações telefônicas da tentativa de negociação entre Douglas e Lindemberg serão usadas pela promotoria, bem como um laudo que comprovaria que as balas que mataram Eloá foram disparadas pela arma de Lindemberg.


O julgamento
O julgamento começa nesta segunda-feira, com o sorteio dos jurados --de um grupo de 25 pessoas, sete serão sorteadas para compor o júri, e a defesa poderá recusar até três membros, sem a necessidade de justificar a recusa, bem como a promotoria. A partir do momento em que as pessoas estiverem definidas, os jurados deverão fazer um juramento e, então, ficarão incomunicáveis. “Em Santo André não há dormitório para eles, como em São Paulo, mas um hotel já foi reservado. Cada um ficará isolado em um quarto sem TV, internet ou telefone, acompanhado sempre de um oficial de Justiça”, disse a promotora Daniela.

Depois da escolha dos jurados, serão chamadas as testemunhas convocadas pelo Ministério Público e, na sequência, as testemunhas da defesa. Após os depoimentos, o réu, então, será interrogado --Lindemberg, que até agora se recusou a falar, poderá permanecer calado. Após essa etapa, os debates são abertos, com uma hora e meia para a acusação e uma hora e meia para a defesa (além da réplica e da tréplica).

Entenda o caso
Lindemberg Fernandes Alves, então com 22 anos, invadiu o apartamento de sua ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, 15, no segundo andar de um conjunto habitacional na periferia de Santo André, na Grande São Paulo, no dia 13 de outubro de 2008. Armado, ele fez reféns a ex-namorada e outros três amigos dela, que estavam reunidos para fazer um trabalho da escola.

Em mais de cem horas de tensão, Lindemberg chegou a libertar todos os amigos, mas Nayara Rodrigues acabou retornando ao cativeiro, no ponto mais polêmico da tragédia --a polícia foi bastante criticada pela ação.

Em depoimento, Nayara afirmou que, após ter sido liberada, foi procurada por policiais que queriam que ela tentasse convencer Lindemberg a libertar Eloá pelo telefone. Então ela os acompanhou até o local do sequestro e foi orientada pelo rapaz ao celular a subir as escadas. Nayara disse que Lindemberg prometeu que os três desceriam juntos, mas, quando chegou à porta, viu que ele estava com a arma apontada para a cabeça de Eloá. Então, ele puxou Nayara para dentro do apartamento e não a libertou mais.

Mais tarde, policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) invadiram o apartamento, afirmando que ouviram um estampido do local. Em seguida, foram ouvidos tiros. Dois deles atingiram Eloá, um na cabeça e outro na virilha, e outro atingiu o nariz de Nayara. Eloá morreu horas depois. Lindemberg foi preso.

Imbróglio judicial
A primeira audiência do caso, realizada em janeiro de 2009, decidiu que Lindemberg iria a júri popular, inicialmente marcado para fevereiro de 2011. Foram quase dez horas de depoimentos --cinco testemunhas de acusação e nove de defesa. A primeira a ser ouvida foi Nayara Rodrigues, que afirmou que o ex-namorado de Eloá entrou no apartamento com a intenção de matar. Já Lindemberg permaneceu em silêncio.

A advogada de defesa, no entanto, pediu a anulação do interrogatório alegando cerceamento de defesa. E por reconhecer que houve falhas no procedimento, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) aceitou o pedido e anulou a audiência realizada em 2009.

O processo foi recomeçado em março de 2011. Todas as testemunhas foram ouvidas novamente. E em agosto de 2011, a Justiça de Santo André confirmou que Lindemberg deveria ir a júri popular.


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