terça-feira, 16 de agosto de 2011

Vídeo mostra atropelamento de professora da PUC em SP

Câmera flagra atropelamento de professora da PUC em SP
Desde aperto na fiscalização da CET, número de atropelamentos não caiu.
Em uma semana, mais de 2 mil multas foram aplicadas na região central.


As imagens das câmeras de segurança do prédio onde morava a professora da PUC Maria Angélica Victoria Soler, de 74 anos,  mostram o momento do atropelamento que a matou. Ela foi sepultada nesta segunda-feira (15). Segundo os moradores de Santa Cecília, bairro na região central de São Paulo, os acidentes no local são frequentes, principalmente devido à falta de sinalização.

Uma semana depois de a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) aumentar a fiscalização contra os motoristas que não respeitam os pedestres, o número de multas aumentou, mas o de atropelamentos não caiu. Na primeira semana do mês, os bombeiros registraram 713 atropelamentos na capital paulista. Na semana passada, quando a CET aumentou a fiscalização, a quantidade de atropelamentos ficou em 704, o que representa uma queda de apenas 1,2%.

Mas o número de motoristas multados não foi pequeno. Segundo a CET, foram aplicadas mais de 2270 multas entre a última segunda-feira (8) e sábado (13) na região central da cidade e na Avenida Paulista.

O enterro de Maria Angélica Victoria Soler foi no Cemitério do Araçá. Ela era paraguaia, mas vivia no Brasil. Parentes e amigos lembram que a aposentada sempre fez questão de usar a faixa de pedestres. “Uma pessoa que venceu um câncer com tanta dificuldade vai morrer atropelada na porta de casa por um motorista irresponsável”, diz Carlos Eduardo Chicolli, filho da vítima.

O delegado Marcos Galli Casseb, do 77º Distrito Policial (Santa Cecília), informou que foi instaurado nesta segunda (15) o inquérito para apurar a morte da professora. Ele disse ainda que não foi feito o teste de bafômetro no motorista porque ele não apresentava sinais de embriaguez.





'Ela era uma guerreira', diz filho de professora da PUC que foi atropelada
Maria Angélica Victoria Soler foi sepultada às 17h20 desta segunda-feira.
Ela morreu após ser atingida por carro em rua no Centro de SP.
Familiares e amigos compareceram ao sepultamento da professora Maria Angélica Soler no Cemitério do Araçá (Foto: Marcelo Mora/G1)

A professora paraguaia Maria Angélica Victoria Soler, de 74 anos, travou e venceu a luta contra um câncer de mama há 15 anos, resistiu bravamente à ditadura do general Alfredo Strossner, que presidiu o Paraguai com mão de ferro de 1954 a 1989, mas não sobreviveu à violência do trânsito de São Paulo. Ela morreu na noite de sábado (13) após ser atropelada quando atravessava a Alameda Barros, próximo à Rua São Vicente de Paulo, na região central da capital. O corpo dela foi sepultado por volta das 17h20 no Cemitério do Araçá, na Avenida Doutor Arnaldo, na região da Avenida Paulista.

"Ela venceu um câncer de mama. Ela era uma guerreira. É trágico perder uma pessoa querida desta maneira", afirmou o filho da professora aposentada, o administrador de empresas Carlos Eduardo Chicolli Careaga, que teve de interromper às pressas uma viagem a passeio para a Eslováquia, no leste europeu.

Carlos Eduardo não tem dúvidas que a mãe foi atropelada quando atravessava na faixa de pedestres. "Era o que ela sempre nos dizia, para atravessar na faixa. E com certeza ela estava na faixa, como sempre fazia", disse, emocionado.

Ele evitou comentar sobre o motorista que atingiu a mãe dele. Segundo relatos de testemunhas, o motorista, um empresário cujo nome não foi divulgado, estaria embriagado e dirigindo em alta velocidade. "É o que estão dizendo, que ele tinha bebido, mas não posso afirmar nada. Não sei o que vai acontecer. Afinal, as nossas leis são bem falhas", lamentou.
Carlos Eduardo, filho do professora
aposentada (Foto: Marcelo Mora/G1)

Pouco antes de ser atropelada, Maria Angélica havia feito uma visita a uma amiga dela, a dona de casa Rosane Pereira Mainieri, em um prédio vizinho. "Ela passou a tarde comigo. E depois soube que ela havia sido atropelada. Ela nos foi tirada por essa violência no trânsito. É muito triste tudo isso", contou.
De acordo com a amiga, a violência no trânsito era preocupação constante para a professora aposentada. "Conversamos, inclusive, sobre os últimos casos de repercussão com morte no trânsito. Ela era muito cuidadosa. Conhecendo a professora como eu conhecia, ela ter atravessado na faixa de pedestre, sim", disse.

Segundo a dona de casa, no local onde a amiga foi atropelada já ocorreram vários acidentes. "Já pedimos para colocar semáforo, uma rotatória, mas dizem que neste local não é preciso", afirmou. Rosane disse que o circuito de segurança do prédio onde mora flagrou o momento em que o carro do empresário passava pela rua e que, logo depois, atropelaria a professora aposentada. As imagens já foram entregues à polícia, informou.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), foi solicitada perícia ao veículo envolvido e exame necroscópico para a vítima. O caso foi registrado como lesão corporal culposa (quando não há intenção).
Taxistas Jaime Silva e Nilton Barbosa: 'Falta
civilidade' (Foto: Marcelo Mora/G1)

Guerreira, engajada, atuante, mas ao mesmo tempo dócil, gentil e educada. Não faltaram elogios à Maria Angélica provenientes de amigos, professores quem trabalhou, ex-alunos e até taxistas de um ponto próximo à Pontíficia Universidade Católica (PUC), na Zona Oeste de São Paulo. "Desde 1992, quando foi criado o ponto, que ela pegava táxi com a gente. Todo mundo do ponto a conhece. Ela deixou de ser passageira e passamos a compartilhar da vida dela e ela da nossa. Era muito dócil", relatou o taxista Jaime Ribeiro da Silva, de 55 anos, que foi ao enterro se despedir da amiga.

Convivendo diariamente com o trânsito caótico e violento de São Paulo, Silva pediu providências urgentes. "As leis precisam ser alteradas. Não me entra isso na cabeça, de a pessoar beber e depois ir dirigir", declarou. "Falta civilidade", completou Nilton Barbosa, de 54 anos, coordenador do ponto de táxi onde Maria Angélica pegava condução praticamente todos os dias.

Perfil
Nascida em 1936, em Assunção, no Paraguai, ela iniciou o curso de graduação em história, em 1962, na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Sedes Sapientiae. Em 1965, quando estava no último ano do curso, começou a dar aulas em um colégio noturno que as religiosas do Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Sedes Sapientiae mantinham para alunos carentes.

Fez especialização em história moderna na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Sedes Sapientiae (1969 a 1970) e doutorado em História Social, na USP (1973 a 1982). Passou a trabalhar na PUC-SP em 1971, quando a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Sedes Sapientiae foi totalmente integrada à universidade.

Até se aposentar, em 2006, passou pelos cargos de coordenadora, vice-coordenadora e chefe de departamento na graduação em história. Além disso, foi uma das idealizadoras do Núcleo de Estudos da Mulher, do Programa de Estudos Pós-Graduados em História, em 1991.

CET
Desde o início da semana passada, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) intensifica a fiscalização aos motoristas que não respeitam a faixa de pedestres. Conhecido como Programa de Proteção ao Pedestre, a ação da Prefeitura visa diminuir o número de atropelamentos.

Na fase de orientação, ocorrida entre maio e junho, houve diminuição de 69% nos acidentes em relação ao mesmo período de 2010 (quatro ocorrências neste ano contra 13 no ano passado), de acordo com a companhia. No total, 154 agentes de trânsito foram deslocados para fazer a fiscalização das regiões contempladas, em três turnos.

Inicialmente, a CET aplica multas a quem parar sobre a faixa de pedestres apenas na região da Avenida Paulista e no Centro. Após uma avaliação dos resultados nesses pontos, a fiscalização será ampliada para outras regiões da cidade.



Do G1 SP

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