quarta-feira, 23 de março de 2011

Assalto a Mosteiro Zen, em Ibiraçu: tiros, tortura e facadas

Tiros, tortura e facadas em assalto a Mosteiro Zen, em Ibiraçu
"Nem sei se conseguirei voltar lá", desabafou uma das vítimas. Local foi invadido por seis homens. Eles estavam armados e encapuzados

Um funcionário e um residente do Mosteiro Zen Morro da Vargem, em Ibiraçu, Norte do Espírito Santo, foram feitos reféns e torturados durante um assalto na noite desta terça-feira (22). Por cerca de seis horas eles ficaram amarrados, sofreram cortes com facas e receberam coronhadas. Até tiros foram disparados para fazer "pressão psicológica" sobre as vítimas.

De acordo com o investigador da Polícia Civil de Ibiraçu, Peterson Simões Pimentel, seis homens, todos armados e encapuzados, invadiram o local por volta das 22h e anunciaram o assalto. As duas vítimas assistiam à televisão quando foram surpreendidas.

"Eles estavam em uma sala de televisão que fica em cima do refeitório quando foram rendidos por dois homens armados, cada um com duas armas, que gritavam para eles 'perdeu, perdeu, perdeu' e, imediatamente, antes de qualquer reação, eles começaram a ser agredidos", conta Pimentel.

Para pressionar uma das vítimas tiros foram disparados. "Um dos reféns foi levado para fora e deram um tiro do lado dele para que o outro, que estava lá dentro, achasse que tivessem matado o colega", descreve o investigador.

Monge Daiju Bitti mostra buraco feito pelos
 bandidos na parede do quarto dele
A polícia estima que o número de integrantes da quadrilha seja de oito a dez pessoas. Enquanto uma parte deles realizava o assalto, outros davam cobertura do lado de fora. A todo momento os bandidos peguntavam sobre a localização de um cofre. As vítimas não souberam informar o que os assaltantes questionavam. De acordo com a polícia, o mosteiro nem sequer possui um cofre.

Uma quantia em dinheiro, não informada, foi levada. Uma pick-up Chevrolet Montana, televisores, computadores, notebooks, equipamento de ar condicionado, uma cadeira massageadora japonesa e até panelas também foram roubadas. O grupo ainda tentou levar duas motos, que foram abandonadas próximo à entrada do local. Quartos foram revirados e almofadas rasgadas.

Cerca de cinco minutos após a saída dos bandidos, uma das vítimas conseguiu se soltar e libertou o colega. Em seguida, eles correram até a portaria do mosteiro e a polícia foi acionada. Uma equipe da Polícia Militar e uma da Polícia Civil estiveram no local logo após o assalto. O funcionário e o residente - que mora temporariamente no mosteiro - foram atendidos no pronto-socorro de Ibiraçu.

Segundo assalto em cerca de quatro meses

O abade do mosteiro, monge Daiju Bitti, diz que não entende a razão da violência e lembra que este já é o segundo assalto em cerca de quatro meses. "É a segunda vez que ocorre esse evento. A primeira a gente manteve em sigilo, até para ver se ajudava nas investigações. Mas foi um nível de violência muito grande, um grupo altamente armado, grande. Muito espancamento, pressão psicológica e violência mesmo, de quebrar costela".

O monge destaca que os assaltos ocorreram em momentos em há poucas pessoas no mosteiro. À noite o local não é aberto à visitação. Nesta terça-feira apenas as duas vítimas rendidas estavam presentes. O próprio monge, que raramente se ausenta, estava em um compromisso em Vitória e foi avisado durante a madrugada sobre a ação dos bandidos.

Participação de ex-policiais e ex-funcionários não é descartada

De acordo com o investigador Peterson Pimentel, devido aos dois assaltos terem acontecido de forma similar, é provável que integrantes da quadrilha tenham participado também da ação de dezembro.

Segundo relato das vítimas à polícia, os assaltantes se tratavam por patentes militares. Além disso, o grupo demonstrava organização e planejamento nas ações. Devido a esses detalhes a polícia não descarta a participação de um policial ou ex-policial no assalto.

"Segundo as vítimas - lembrando que este não foi o primeiro assalto e a gente crê que se não todos, alguns estão envolvidos nos dois - eles se tratam com patentes da Polícia Militar ou do Exército, como sargento, cabo, tenente. Não quer dizer que necessariamente tem que ser um policial ou ex-policial. Mas segundo a vítima, nos dois assaltos, eles tinham um senso de organização e um comando muito grande, o que nos leva a crer que possa ser um ex-policial, alguém que tenha uma noção de segurança".

As informações que os bandidos tinham sobre o funcionamento do mosteiro - sabiam até que a pick-up possuía um dispositivo que abria o portão, sem precisar acionar a portaria - também levam a crer que ex-funcionários possam ter colaborado com os bandidos.

Vítima traumatizada

Já em casa, após passar pelo Departamento Médico Legal (DML) para exame de corpo de delito, uma das vítimas falou rapidamente com a reportagem, mas não quis gravar entrevista. O funcionário do mosteiro, professor de educação ambiental, diz que está muito abalado após as agressões e ameaças que sofreu. No início da tarde desta quarta-feira (23) ele ainda não havia voltado ao mosteiro. "Nem sei se conseguirei voltar lá", desabafou.

Ainda durante a manhã desta quarta uma equipe da Divisão de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio partiu de Vitória e esteve na Delegacia de Ibiraçu. Até o fechamento desta matéria, nenhum dos assaltantes havia sido preso.


LETÍCIA GONÇALVES - GAZETA ONLINE

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