sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Gene ligado ao nanismo protege contra o câncer

Estudo de 22 anos sugere que as mutações que causam o nanismo podem também diminuir o risco de câncer e diabetes



Recentemente, um médico de Quito, Equador, fez uma descoberta intrigante: ele percebeu que alguns de seus pacientes nunca adquiriam certas doenças.

Esses pacientes tinham uma mutação genética que não lhes permite crescer mais do que 1,22 metros de altura, o comprimento de uma pessoa de 7 anos de idade. Porém, mesmo eles envelhecendo normalmente, nunca desenvolveram câncer ou diabetes.

Essa observação iniciou um estudo de 22 anos. Os pesquisadores monitoraram um grupo de 99 equatorianos com “baixa estatura grave”, cuja saúde foi comparada a de parentes próximos de estatura regular.

Esse estudo de 22 anos com pessoas anormalmente baixas sugere que as mutações que causam o nanismo podem também diminuir o risco de câncer e diabetes. Na pesquisa, o biólogo celular Valter Longo, da Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA, e o endocrinologista equatoriano Jaime Guevara-Aguirre acompanharam uma comunidade nos Andes. Durante os 22 anos, não foi registrado nenhum caso de diabetes e apenas um de câncer - que não levou à morte - entre os anões. Entre as pessoas de estatura normal, 5% tiveram diabetes e 17% sofreram de câncer.

O nanismo pode ser causado por vários fatores, incluindo genética, doença renal, ou hormônios. Os equatorianos do estudo têm uma mutação específica no gene receptor de hormônio de crescimento.

Embora suas glândulas pituitárias produzam suficientes hormônios de crescimento, eles não têm receptores. Essa incapacidade de se ligar aos receptores significa que um outro hormônio de crescimento, chamado fator de crescimento semelhante à insulina-1 não é bem produzido. Essa condição é conhecida como síndrome de Laron.

Os equatorianos afetados do estudo são descendentes de judeus espanhóis que fugiram para a América do Sul para evitar a Inquisição, e se converteram ao cristianismo. A mutação é prevalente nesse grupo genético.

Seus parentes de sangue desenvolveram diabetes como da população geral do Equador, e cerca de 20% deles morreram de câncer. No entanto, de todos os pacientes com nanismo, apenas uma teve câncer no período de 22 anos. Depois de receber tratamento para câncer de ovário em 2008, ela manteve-se livre da doença.

Os pesquisadores também analisaram informações detalhadas sobre a morte de 53 pessoas com estatura gravemente baixa que não faziam parte do estudo. Eles não encontraram nenhuma evidência de câncer ou mortes relacionadas a diabetes.

Apesar dessa resistência a diabetes ou câncer, a expectativa de vida dos sujeitos do estudo não aumentou.

Durante o curso do estudo, 9 dos 99 participantes com nanismo morreram. As causas mais comuns eram doenças relacionadas à idade, tais como doenças cardíacas e derrames. Comparado com seus parentes de altura regular, eles morreram com muito mais frequência de acidentes, causas de álcool e distúrbios convulsivos.

Ou seja, eles têm potencial para viver mais tempo se não morressem de causas estranhas, acidentes, e problemas relacionados ao álcool.

Uma pesquisa similar foi feita ano passado, com 65 brasileiros com uma forma de nanismo, e este estudo também registrou apenas uma morte por câncer.

Modelos de laboratório mostraram resultados similares em leveduras, células e camundongos. A deficiência do hormônio do crescimento parece ter algum efeito protetor. Os ratos que não tinham os receptores do hormônio do crescimento viveram 40% mais do que outros ratos e eram resistentes a diabetes e câncer.

Com os humanos, os resultados são mais complicados. Em comparação com o soro de seus familiares, as amostras dos equatorianos com nanismo tinham um intervalo menor de DNA. Seu soro podia proteger contra danos oxidativos no DNA. Como possível explicação, os pesquisadores acreditam que as células não crescem tanto ou se dividem, mas investem a sua energia em um mecanismo de proteção.

Outro paradoxo que intrigava os pesquisadores era que muitos dos equatorianos com nanismo tinham dietas pobres e cerca de 20% deles eram obesos. Era uma população com obesidade crescente, e ainda assim sem diabetes. Quando a glicemia de jejum dos pacientes foi medida, eles tinham cerca de um terço do valor de seus parentes e eram mais sensíveis à insulina.

Os resultados do estudo levantam questões sobre a relação entre os hormônios do crescimento e as doenças. As descobertas devem mudar certas práticas e guiar mais pesquisas. Por exemplo, no Ocidente, hormônios de crescimento têm sido utilizados ilegalmente como tratamentos anti-envelhecimento. Tratamentos hormonais de crescimento são usados para melhorar a pele, rugas, retenção de água muscular e para queimar gordura.

Há efeitos positivos, mas os pesquisadores agora se perguntam se essas pessoas que utilizam hormônios de crescimento como anti-envelhecimento terão maior risco de diabetes ou de tumores.
Ainda assim, segundo os cientistas, os subgrupos do estudo são casos extremos e talvez não possam ser aplicados globalmente. Há diferentes graus de deficiência de hormônio de crescimento, e as pessoas da pesquisa não os tem desde o nascimento. Mais estudos devem ser realizados até que possa haver algum resultado prático. [CNN]

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