quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Drogas para emagrecer. Anvisa vai tentar proibir medicamentos inibidores de apetite


Anvisa quer proibir a venda de emagrecedores, incluindo a famosa sibutramina



Combate à obesidade: apenas a substância orlistate,
que age no intestino, continuará com venda liberada
 (Stockbyte/Thinkstock)
A partir de março, a venda dos medicamentos inibidores de apetite pode chegar ao seu último capítulo no Brasil. É que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) propôs o cancelamento do registro dos remédios que contêm sibutramina, e dos anorexígenos anfetamínicos (anfepramona, femproporex e mazindol). A proposta será apresentada em audiência pública, no próximo dia 23, e depois será avaliada pelo conselho deliberativo do órgão, que dará o parecer final.

Se a medida for aprovada, esses medicamentos serão retirados do mercado imediatamente, afirma a chefe do Núcleo de Investigação em Vigilância Sanitária da Anvisa, Maria Eugênia Cury. "A avaliação da área técnica concluiu que os riscos para os pacientes são maiores que os benefícios. São substâncias que atuam no cérebro e podem comprometer o coração."

Usada no tratamento da obesidade e do sobrepeso, a sibutramina foi proibida na Europa e nos Estados Unidos, no ano passado. Também em 2010, passou a ser classificada no Brasil como remédio tarja preta para aumentar o controle sobre sua venda.

Polêmica
Apesar dos riscos, especialistas se dizem preocupados com a falta de alternativas. Só o orlistate (Xenical), que reduz a absorção de gordura no intestino, será liberado. "Mas ele só é eficaz para quem consume muita gordura, como os norte-americanos, o que não é o caso dos brasileiros", diz o endocrinologista Albermar Harrigan. Especialista na mesma área, Laerte Damaceno acrescenta: "Proibir a venda sem oferecer opções pode levar ao consumo clandestino dessas drogas".

A audiência pública acontecerá no auditório da Anvisa, em Brasília, às 9h do dia 23 de fevereiro, e poderá ser acompanhada ao vivo no site da agência (www.anvisa.gov.br). (Com a colaboração de Vitor Ferri)

"Mercado negro aumentará"
Mesmo com a possível proibição da venda da sibutramina, há pessoas que já fizeram uso e acreditam que a saída do produto do mercado pode trazer outro efeito colateral: o aumento do comércio clandestino. "Eu acho que não vai adiantar muito eles proibirem. Há um mercado negro por trás que só deve aumentar. As pessoas vão comprar por outros meios", opina a assistente social Patrícia Lemos, 40 anos, que usou sibutramina por dois anos. "Quando eu tomei, fazia um efeito legal. As pessoas têm que entender que elas precisam tomá-lo mediante um cuidado na alimentação e exercícios físicos. Nunca senti efeitos colaterais e nunca o usei sem prescrição", destaca Patrícia.


Proibição é arriscada, afirma associação
"Proibir o uso desses medicamentos é muito arriscado", afirma a presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), Rosana Radominski. Ela afirma que mais da metade dos pacientes obesos não consegue reduzir o peso apenas com mudanças de hábitos de vida, como melhoria da alimentação e prática de exercício físico.

"O número de obesos deve aumentar e, consequentemente, o consumo de outros medicamentos, usados para o tratamento das complicações, como diabetes e hipertensão", diz. Ela alerta, ainda, para o possível aumento de cirurgias bariátricas como solução para o problema.

O endocrinologista Albermar Harrigan, diz que a medida também pode fazer aumentar o uso de antidepressivos e anciolíticos para reduzir a ansiedade dos pacientes. "O uso desses medicamentos não é indicado, mas pode acabar virando alternativa".

Para cardiologista, remédios não são para todos

A preocupação da Anvisa de proibir os inibidores de apetite que atuam no cérebro tem motivos, diz o cardiologista Ricardo Kuniyoshi. "Eles estimulam o metabolismo e provocam a liberação de adrenalina, que é responsável por acelerar o ritmo dos batimentos cardíacos. Há relatos de pessoas jovens e saudáveis que tiveram arritmia devido ao uso da sibutramina". Para ele, o tratamento a base de medicamentos não pode ser para todos. "O problema é justamente a dificuldade de se controlar o uso indevido", diz.


Consumo

2 toneladas - Foi a quantidade de sibutramina consumida no Brasil, em 2009. O consumo de femproporex foi de mais de 3 toneladas. O Brasil é um dos maiores consumidoras de anfetaminas do mundo.


Como os medicamentos agem no organismo

Cérebro. A sibutramina e os anorexígenos anfetamínicos (anfepramona, femproporex e mazindol) atuam diretamente no cérebro (que comanda o sistema nervoso central), mais precisamente na região do hipotálamo, onde as sensações de fome e da saciedade são controladas

Diferenças.  Enquanto a sibutramina age dando sensação de saciedade, os anorexígenos funcionam inibindo o apetite

Anorexígenos. São considerados mais invasivos, pois bloqueiam a captação de dois hormônios responsáveis pela sensação de fome: a dopamina e a noradrenalina.

Além de provocar dependência, os anorexígenos anfetamínicos pode provocar efeitos colaterais como boca seca, dor de cabeça, insônia, nervosismo, depressão, alucinações, taquicardia e hipertensão

Sibutramina.  A sibutramina reduz a captação de noradrenalina (responsável pelo apetite) e de serotonina (que dá sensação de saciedade).

Entre os principais efeitos colaterais da sibutramina, estão o aumento da pressão arterial e a aceleração do ritmo dos batimentos cardíacos

Orlistate.  Comercializado com os nomes de Xenical ou Lipiblock, ele age reduzindo a absorção de gordura pelo intestino em até 30%. Por não atuar no sistema nervoso central, continuará sendo comercializado. O efeito colateral mais apontado é o aumento de flatulência

Indicação.  O tratamento com medicamentos é indicado para quem está com o peso mais de 40% acima do ideal, e que não tenha problemas cardíacos ou de hipertensão

Ação.  De acordo com especialistas, nenhuma dessas substâncias produz efeitos a longo prazo. Por atuarem diretamente nos órgãos, funcionam apenas durante o tratamento ou por pouco tempo depois.

A Gazeta - Priscilla Thompson





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