terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Índios isolados do resto do mundo chamam atenção na amazônia. Veja

Agentes da Funai fazem contato com índios de tribo isolada na Amazônia.




Sozinhos na Amazônia

Fotos de índios no Acre chamam a atenção para tribos na Amazônia e têm repercussão internacional

Reuters O Globo Online; Jornal Hoje
RIO - Chamaram atenção do mundo para a situação precária das poucas tribos isoladas ainda existentes e para o perigo com que se deparariam ao eventualmente entrar em contato com o mundo exterior.
As imagens, que ganharam destaque na imprensa internacional, foram feitas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) no mês passado, no Acre, mas divulgadas somente na quinta-feira. Elas mostram duas aldeias no meio da mata, cada uma com várias construções cobertas de palha. Elas correram o mundo e apareceram nos sites do "New York Times" e do argentino "La Nacion". Na página da "CNN", a manchete dizia: "Tribo indígena isolada vista na Amazônia".


Segundo especialistas, os índios, que aparecem nas imagens empunhando arcos e flechas, seriam provavelmente os membros remanescentes de uma tribo maior que se viu obrigada a ingressar mais profundamente na floresta, montando acampamentos cada vez menores.
- Em vez de formar uma tribo "perdida", esses índios devem ter mantido vários canais de comunicação com outros grupos ao longo dos últimos anos - disse em entrevista à Reuters Thomas Lovejoy, um especialista em questões amazônicas que preside o The Heinz Center, em Washington.


" Em vez de formar uma tribo "perdida", esses índios devem ter mantido vários canais de comunicação com outros grupos ao longo dos últimos anos "
- Acredito haver uma questão ética, a questão sobre se alguém conseguiria, no final, protegê-los de qualquer tipo de contato. E a resposta para isso é 'não'. A resposta certa é ter um tipo de contato e de mudança de forma que as próprias tribos possam administrar isso - completou Lovejoy.


A área da fronteira entre o Brasil e o Peru revela-se um dos últimos refúgios do mundo para grupos desse tipo, já que se encontram ali cerca de 50 das cerca de 100 tribos isoladas existentes no mundo todo.


Esses grupos enfrentam um perigo crescente na forma da expansão das fronteiras econômicas, em especial do lado do Peru, que tem demorado mais para criar reservas capazes de proteger as populações indígenas.


O sertanista José Carlos Meirelles, que mora há 20 anos na região, estava no helicóptero de onde foram tiradas as fotos. Ele disse, em entrevista ao "Jornal Hoje", da Rede Globo, que essas tribos estão aumentando, apesar dos conflitos com peruanos que atravessavam a fronteira em busca de madeiras nobres.

- E essa questão está fora da nossa alçada. É uma questão internacional. Não é a Funai que vai resolver, mas o governo brasileiro.


Meirelles disse ainda que essas tribos deveriam ser deixadas isoladas o máximo possível.

- Enquanto eles estiverem nos apontando flechas, tudo estará bem. No dia em que se comportarem direitinho, estarão exterminados.


Contato sempre foi prejudicial
Historicamente, o contato com o mundo exterior mostrou-se catastrófico para os índios brasileiros, que hoje somam cerca de 350 mil indivíduos, um número muito menor do que os 5 milhões da época da chegada dos europeus.


- Em 508 anos de história, de milhares de tribos que existem, nenhuma delas adaptou-se bem à sociedade no Brasil - afirmou à Reuters Sydney Possuelo, ex-autoridade da Funai que criou o departamento da fundação responsável pelos índios isolados.
Índios tentaram atingir avião com flechadas
Nos últimos anos, porém, tribos como os inanomâmi conseguiram conquistar uma proteção maior ao tornarem-se mais politicamente organizados e formarem laços com grupos conservacionistas estrangeiros.

- Não se trata de tomar essa decisão no lugar deles. Trata-se de dar-lhes tempo e espaço para que tomem essa decisão por si próprios - afirmou David Hill, do grupo Survival International.

No Peru, por exemplo, mais de metade dos murunahua morreu em virtude de gripe ou de outras doenças após terem entrado em contato com o mundo exterior pela primeira vez em 1996, como resultado da expansão da fronteira econômica, afirmou Hill.

Ver integrantes de tribos isoladas não é algo muito raro, ocorrendo uma vez a cada alguns anos na área da fronteira entre Brasil e Peru.

Agentes da Funai fazem contato com índios de tribo isolada na Amazônia


Os primeiros contatos com os korubos terminaram em morte. Em pleno século 21, o Brasil ainda tem cerca de dez mil índios que vivem longe de qualquer contato com o resto do mundo.

Na margem, cinco korubos, que vivem escondidos na mata, afastados da civilização. No barco, um linguista tenta conversar com eles.

A distância entre os dois grupos não chega a quinze metros. Mas se for medida em tempo, são 500 anos, no mínimo. Esses índios vivem de forma parecida com os que Cabral encontrou.

Há dois anos a descoberta de uma tribo perdida no Acre foi manchete no mundo todo. A Funai calcula que mais de dez mil índios ainda vivem escondidos nas florestas brasileiras.

Alguns grupos estão quase extintos. Dos akuntsu, de Rondônia, sobraram cinco pessoas. Mas o vale do rio Javari, na fronteira do Amazonas com o Peru, ainda preserva quatro grandes grupos isolados.

“Nesta região está a maior concentração de povos isolados do Brasil, inclusive confirmados. Pode ser do mundo também”, diz Elias Bigio, coordenador de índios isolados – Funai.

Esta floresta protegida, quase do tamanho de dois estados do Rio de Janeiro abriga mais de oito mil índios. Metade vive completamente afastada da civilização.

Os primeiros contatos com os korubos terminaram em morte. Imagens mostram o resgate dos corpos de quatro índios. Quem apontou o local foi um dos treze madeireiros que participaram da emboscada.

"Eles morreram muito com madeireiros, seringais. Como eles também mataram muitas pessoas na região”, comenta Rieli Franciscato, coordenador da Frente de Proteção do Vale do Javari - Funai
Eles atacam com bordunas. Por isso ganharam o nome de caceteiros. Em 1996, depois de uma briga que terminou na morte do marido da índia Maiá, uma parte dos korubos fugiu da aldeia e foi morar na beira do rio Itacoaí.

A Funai dessa vez conseguiu se aproximar deles e montou uma base a cinco quilômetros dessa tribo. Um ano depois os korubos mataram mais um sertanista.

“Só de funcionários da Funai, aqui morreram sete funcionários nessas tentativas de contato", diz Rieli Franciscato, coordenador da Frente de Proteção do Vale do Javari – Funai.

Nós fomos até uma aldeia. Vinte e sete pessoas moram em duas malocas cobertas por folhas. A tribo cresceu, está cheia de crianças. A vida não mudou muito. Os homens ainda usam bordunas pra se defender; zarabatanas e arcos pra caçar. Só falam idioma korubo.

Quem manda é a temida Mayá. É a própria cacique quem corta cabelo na tribo. Ela usa um capim afiado para raspar a cabeça no estilo korubo. Uma vez Maiá foi até Manaus fazer tratamento de saúde. Ficou assustada. “Muitos, muitos brancos”, afirma.

Agora ela usa saia para evitar os mosquitos. Cuida de duas panelas velhas, como tesouro. O que mais deseja é um motor, para a canoa da tribo.

Naquela conversa na beira do rio, o linguista Sanderson contou aos cinco índios que os parentes que fugiram da tribo há quatorze anos estavam bem; os isolados disseram que se lembravam de Maiá, mas achavam que ela estava morta.

“Não acreditaram que eles estavam vivos e com a gente ainda por cima. O principal objetivo deste diálogo com os korubos é prevenir eles sobre os riscos que eles têm, por que como eles aparecem todo verão na margem dos rios, os korubos isolados podem contrairn uma doença e se isso se dissemina, pode vir a morrer todo mundo”, diz Sanderson Soares, linguista UNB - Funai.

Os conflitos violentos ficaram no passado. O perigo que ameaça essas pessoas agora são as doenças, principalmente a hepatite e a malária.

Tawan já foi um guerreiro temido. Agora procura ajuda para a filha, no posto da Funai. Tuxi teve cinco surtos só no primeiro semestre. Chorava muito, com dores, vômito e diarréia. No grupo de Maiá, só oito não tiveram malária este ano.

Há dois anos, exames feitos em dois mil e setecentos índios revelaram que 88,7% tiveram hepatite A e 56,4% já foram contaminados pela hepatite B. Mas a Funai quer mais apoio da recém criada Secretaria de Saúde Indígena.

“É para que ela faça trabalho junto aos povos contatados e à população ribeirinha não indígena que vive naquela região, se tivermos esse povo que vive no entorno protegido, estaremos protegendo também os povos isolados”, declara Elias Bigio, coordenador de índios isolados – Funai.

A Secretaria Especial de Saúde indígena informou que, no mês passado, uma equipe de médicos foi ao vale do javari para vacinar os índios.

A partir de abril do ano que vem a secretaria assume totalmente o atendimento aos indígenas que ainda está sob a responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde.

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