terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ditadura da magreza já atinge meninas de dez anos, constata estudo

Crianças e adolescentes estão cada vez mais vulneráveis à ditadura da magreza, que diz que bom, bonito e saudável é ser magro. Um estudo feito nas escolas públicas e particulares do Recife mostrou que 90% dos alunos se achavam acima do peso e faziam regime. O que assusta é a idade: todos entrevistados tinham entre 10 e 14 anos.


Autoconhecimento, vaidade e até luxúria. São muitos os significados relacionados ao espelho ao longo da história humana. Mas essa espécie de objeto mágico pode revelar muito mais quando diante dele está um adolescente. Hormônios a mil, corpo em mutação e uma insegurança emocional característica da idade fazem com que meninas e meninos enxerguem o próprio corpo de um modo muito diferente do que ele realmente é. O fato foi constatado por uma pesquisa de doutorado recém apresentada na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cujas principais conclusões apontam para o risco de distúrbios alimentares graves na faixa etária analisada.



"O que mais chamou atenção foi a insatisfação com a própria imagem. Calculamos o índice de massa corpórea dos estudantes e, mesmo com peso adequado, a grande maioria se achavam gordos. Esse é um dos indícios mais perigosos para o desenvolvimento de distúrbios alimentares. Um dos sintomas é a distorção da autoimagem", explica a pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ana Márcia Cavalcanti.

Além de anorexia e bulimia, o estado nutricional prejudicado desses jovens vai inicialmente comprometer o peso e, posteriormente, a altura, levando a uma diminuição das defesas do organismo, que possibilita o desenvolvimento de uma série de outras doenças.

Para os especialistas, o surgimento dos transtornos alimentares está diretamente ligado ao comportamento dos pais. "É função dos pais prover nutrição, controle, orientação e dar autonomia ao filho, de acordo com a idade. Se alguma coisa está errada com a criança é porque houve falha da função paterna", ressalta a psicóloga e terapeuta familiar, Juliana Leal.

bullying
O estudo também mostra que parte da preocupação exagerada que os alunos entrevistados têm com o corpo está relacionada com bullying, que é quando a criança é constrangida ou sofre violência física ou psicológica no ambiente escolar.

"Os alunos reclamaram das chacotas e das brincadeiras desagradáveis que os colegas faziam com relação à forma física. É preciso formalizar medidas para combater esse problema", alerta Ana Márcia Cavalcanti.

De bem com o espelho

Faça elogios ao seu filho sempre que possível, toda vez que ele fizer algo bem feito

Nunca compare seu filho com outras crianças. Quando esse tipo de comparação for feita por outras pessoas, diga ao seu filho que ele é especial e único à sua maneira

Não humilhe seu filho, tanto por meio da crítica quanto da falta de respeito

Não minimize os problemas enfrentados pelo filho na infância e adolescência. Converse e oriente

Dê importância e respeite as opiniões da criança, mesmo que você não concorde

Não brigue com seu filho em público. Nada derruba mais o moral, a imagem de uma criança ou de um adolescente do que criticá-lo na frente de amigos ou familiares

A crítica deve ser dirigida ao comportamento da criança. Quando o menino relapso nos estudos ouve do pai "você é um vagabundo, não presta para nada", ele acredita e não se preocupa em mudar de atitude. Um comentário como "Neste ano você não está estudando nada, hein? Mas, se se esforçar, ainda dá para passar", pode ter uma resposta muito mais positiva

E não esqueça de adotar uma alimentação saudável em casa. Na hora das refeições, fique atento para rotina alimentar do filho

Elogiar atitudes ajuda a autoestima
A baixa autoestima é um requisito para a evolução de doenças como anorexia e bulimia, por isso algumas atitudes dos pais podem fazer muita diferença nesse processo.

"A puberdade é uma fase de mudanças físicas, que normalmente não são as esperadas pelas meninas, que ficam muitas vezes mais gordinhas e sem cintura, por exemplo. Isso gera a não-aceitação do corpo e cabe aos pais dar orientação e explicar todas essas mudanças", alerta a psicóloga e terapeuta familiar Juliana Leal.

Fazer elogios também é importante. Os pais devem valorizar quando a criança cumpre as responsabilidades e faz bem as tarefas. Mas não é legal minimizar os problemas. Pode não significar nada para os pais, mas uma espinha no rosto, por exemplo, afeta muito a vida do filho.

Além disso, os pais precisam encorajá-lo a defender suas ideias. "Se o filho volta da padaria com o troco errado, não o chame de burro ou brinque. Explique que ele pode voltar lá e reclamar, que tem direitos. Isso só se aprende com a família", destaca a psicóloga.


A GAZETA - Daniella Zanotti


Magreza das celebridades afeta relação das meninas com o próprio corpo

- Há apenas uma década, ossos aparentes e pernas finas eram sinais de saúde frágil e, possivelmente, um distúrbio alimentar. Hoje, a magreza é desejada por nove entre dez mulheres e já começa afetar profundamente a relação das meninas com o próprio corpo. Um estudo feito pelo médico britânico Aric Sigman mostra que as internações por anorexia e bulimia aumentaram 80% na Inglaterra nos últimos dez anos. E, cada vez mais, o problema atinge crianças e pré-adolescentes.

Uma pesquisa feita pela revista especializada 'British Journal of Developmental Psychology' mostra que quase metade das meninas com idades entre 3 e 6 anos se preocupam com o peso e tem medo de engordar. Sigman afirma que elas quase sempre citam modelos, atrizes e apresentadoras infantis como modelos de beleza. A tendência, para o médico, é preocupante, já que a exposição regular a mulheres magras demais pode mudar o cérebro das crianças e das adolescentes, deixando-as mais propensas a ter algum distúrbio alimentar.

- Como pai de meninas, me preocupo muito com o tipo de exemplo que estamos dando às nossas filhas. Dou aula e trabalho com mulheres racionais e inteligentes que estão cada vez mais obcecadas com a aparência. Isto já está virando questão de saúde pública. Apenas 40% das mulheres que desenvolvem anorexia ou bulimia se recuperam totalmente.

Em um estudo feito pela Universidade de Utah, nos Estados Unidos, cientistas puderam perceber que o cérebro de uma mulher ficava alterado ao ver fotos de outras mulheres extremamente magras. O córtex pré-frontal, que regula as emoções, ficava superestimulado, aumentando a sensação de tristeza e ansiedade. Outro, feito pela Universidade de Harvard, mostrou o impacto da televisão na autoestima das meninas. Quanto mais elas viam televisão, mais faziam dieta e se diziam insatisfeitas com o próprio corpo.


Erro no uso do IMC

Popular entre a população, o Índice de Massa Corporal (IMC), calculado usando o peso dividido pela altura ao quadrado, é utilizado de forma equivocada por crianças e adolescentes, segundo a nutricionista Ana Lúcia Caram. A doutora no assunto pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) esclarece que essa fórmula só é válida para adultos.

Para a faixa etária até 19 anos, há um gráfico aprovado pelo Ministério da Saúde que dá respostas mais corretas. “Nesse modelo, leva-se em consideração a idade, fundamental para uma análise adequada, porque o crescimento é muito variado e rápido entre os adolescentes”, explica Ana Lúcia.

Na percepção dela, uma resposta errada do IMC criado para adultos pode levar um adolescente a adotar dietas equivocadas e a se enxergar de forma ainda mais distorcida. “Geralmente é o pediatra que utiliza essas curvas. Mas quando ele vai crescendo, vai deixando de se consultar nesse especialistas. E o que vemos é o uso inadequado da fórmula do IMC, gerando muitas dúvidas na cabeça dos adolescentes”, destaca a nutricionista.(Correio Braziliense)

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