‘Temos medo de encontrar com ele’, alega irmão de Mércia.
Três meses depois do assassinato de Mércia Nakashima, o ex-namorado da advogada leva uma vida normal, apesar de ser apontado pela polícia como o autor do crime, enquanto que a família dela, por outro lado, afirma estar ‘presa dentro de casa’.
Advogada Mércia Nakashima levou um tiro antes de ser jogada na represa
A reportagem do Fantástico encontrou o ex-namorado de Mércia, na sexta-feira (3), perto do escritório dele, especializado em questões trabalhistas, na periferia de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele não quis muita conversa. Estacionou um pouco mais adiante e não chegou a descer. “Estou acabando de chegar do serviço”, diz o ex-namorado de Mércia.
Ele conta que vai ao fórum e continua morando no mesmo lugar. “Agora mesmo eu vou reintegrar a posse de um imóvel. O cliente está vendendo esse terreno e o comprador quer ver se realmente foi reintegrado”, afirmou.
Mas, na casa da família de Mércia, a vida mudou muito. “Nós estamos presos. Nós ficamos dentro de casa, nós não podemos circular. Porque temos medo de encontrar com ele e com familiares dele”, afirma o irmão de Mércia, Márcio Nakashima.
Mércia desapareceu de Guarulhos, na Grande São Paulo, em 23 de maio. O veículo dela foi localizado submerso por bombeiros numa represa em Nazaré Paulista, no interior do estado, em 10 de junho. O corpo da advogada foi encontrado no mesmo local no dia seguinte.
Mizael e o vigia Evandro Bezerra Silva são réus no processo que apura o assassinato da advogada. Segundo o Ministério Público, o vigilante ajudou o ex dela a fugir da cena do crime. A suspeita se deve às ligações telefônicas trocadas entre os dois, de acordo com a investigação policial. Para o Ministério Público, Mizael matou a ex por ciúmes porque não aceitava o fim do relacionamento.
Antes da entrevista, Mizael tinha ido a uma empresa para trocar o rastreador do carro. “Está com problema e agora parou de vez. Não deu certo lá, aí eu vou arrumar em outro lugar”, afirmou. Ele queria um relatório sobre esse possível defeito do rastreador. A empresa se negou a fazer isso. E foi justamente esse equipamento que levou a polícia a descobrir que o carro de Mizael ficou parado mais de três horas em frente a um hospital, no dia do desaparecimento de Mércia.
A advogada Mércia Nakashima, encontrada morta em junho (TV Globo) |
Mizael diz que nesse período teve um encontro amoroso dentro do automóvel. Mas a polícia não acredita nessa versão, já que a suposta mulher nunca apareceu. Segundo as investigações, nessas três horas o carro na verdade ficou vazio, porque Mizael estava em outro local, com Mércia Nakashima.
Esta semana, um laudo do Instituto de Criminalística de São Paulo trouxe novas evidências contra ele. Peritos encontraram na sola de um sapato de Mizael uma alga compatível com uma espécie que existe na represa de Nazaré Paulista, onde o carro e o corpo foram encontrados, 19 dias depois do desaparecimento.
“É uma alga que só dá dentro da água. Então, comprova que ele entrou na água, para poder empurrar o carro”, afirma o delegado. O laudo, de 200 páginas, traz várias informações. Por exemplo: no carro de Mércia, havia inúmeros santinhos com orações para Santo Expedito, o santo das causas urgentes.
Também foram encontrados 41 CDs: 19 com assuntos relacionados à advocacia e 22 de música. O último que Mércia ouviu era de sucessos sertanejos.
Em outros dois CDs, um da cantora Beyoncé e um da dupla Victor e Leo, havia uma frase: “Para Mércia, com carinho, Bispo”. No CD da dupla sertaneja, também estava escrito: "Um dia, seus pés". É uma referência a uma música da dupla sertaneja.
Os peritos também descobriram como Mércia foi morta. Era ela quem dirigia o carro. O banco do motorista estava posicionado a 59 cm do volante - compatível com a altura da advogada, que tinha 1,55 m. O assassino estava ao lado.
Segundo os peritos, o banco do passageiro estava no último estágio dos trilhos, a 88 cm do encosto - uma indicação de alguém maior que Mércia estava sentado ali. A advogada foi baleada a curta distância, dentro do carro. O câmbio estava desengatado e o freio solto, facilitando para que o veículo fosse empurrado para a represa.
Baleada, Mércia desmaiou e morreu afogada. Para a polícia, Mizael é o assassino. “Eu não tenho dúvida desde o primeiro dia que eu o vi na minha delegacia, quando eu fiz uma pergunta para ele, no final do depoimento: quem poderia ter feito, sumido com a Mércia? Ele olhou pra mim assustado e começou a chorar. Ali, eu vi que ele estava mentindo”, diz o delegado Antonio de Olim.
Segundo a perícia, o sapato de Mizael foi entregue limpo e lavado. Mesmo assim, foi possível identificar, além da alga, vestígios de sangue e de osso. Mas, devido à pequena quantidade, não foi possível fazer o exame de DNA. Ou seja, não dá para afirmar que são de Mércia.
Segundo a polícia, Mizael matou Mércia por ciúmes e por não aceitar o fim do relacionamento. Ele já foi indiciado e denunciado à Justiça.
Atendendo a um pedido do Ministério Público, um juiz de primeira instância determinou em duas ocasiões que o acusado fique preso até o julgamento. Mas a desembargadora Angélica de Almeida, de uma instância superior, o Tribunal de Justiça de São Paulo, decidiu mantê-lo em liberdade.
Uma decisão importante deve sair em duas semanas. Além de Angélica de Almeida, outros dois desembargadores vão determinar se Mizael responderá ou não o processo em liberdade.
À reportagem do Fantástico, o doutor Bispo - como costuma se apresentar - disse que está ajudando os advogados dele na estratégia de defesa. Ao responder se tem receio de ser preso, Mizael afirmou: “Eu sou inocente, confio na Justiça”.
Não há previsão para a data do julgamento. Em crimes como o assassinato de Mércia, a pena pode chegar a 30 anos de cadeia. “Vai ser um consolo saber que a Justiça está sendo feita, saber que não vai ficar impune. Serve de consolo”, diz o irmão de Mércia, Márcio Nakashima.
Do G1 SP, com informações do Fantástico
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