RIO - Não, Seu Madruga não morreu em um acidente de avião com o resto do elenco de "Chaves", como diz uma das lendas urbanas sobre o seriado. Infelizmente, o ator Ramón Valdés, eternizado na pele (e osso) do pai da Chiquinha, faleceu, sim, mas de câncer, há 22 anos. Essa é uma das coisas que se descobrem em "Seu Madruga: vila e obra", uma quase-biografia escrita pelo carioca Pablo Kaschner.
Nos 14 capítulos, contados em ordem decrescente em alusão aos eternos 14 meses de aluguel devidos ao Sr. Barriga, Pablo vai quitando a saudosa dívida deixada por Madruga, com reprodução de frases e diálogos memoráveis; declarações de fãs desconhecidos e famosos (há até uma da candidata à Presidência Dilma Roussef). Há ainda entrevistas sobre o personagem com Edgar Vívar, intérprete do credor barrigudo; Carlos Seidl, dublador de Seu Madruga responsável, em grande parte, por seu sucesso no Brasil; e um bate-bola fictício com o próprio "chimpanzé reumático".
- É curioso um personagem que não faz esforço para ser simpático ser o mais querido pelos fãs - diz o autor.
Mas a obra de Pablo, que em 2006 já lançara o livro "Chaves de um sucesso" (resultado de sua monografia em Jornalismo na UFRJ), vai além de Seu Madruga. Ele mostra como o velho lobo do mar se confundia com a própria vida de Ramón Valdés. Tanto que, no México, o nome do personagem é Don Ramón. Roberto Gómez Bolaños, criador e intérprete de Chaves, disse "simplesmente seja você mesmo" quando deu o papel ao comediante.
Com depoimentos das filhas de Monchito, como também era conhecido Ramón, o livro mergulha no paradoxal universo "madruguiano": o mesmo velho ranzinza que não ão hesitava em desferir golpes em Chaves e Quico foi o autor de lições como "a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena".
De origem pobre como o preguiçoso caloteiro, Ramón também teve que se virar em trabalhos provisórios como os de carpinteiro, pintor e outros bicos, antes de ser descoberto por Bolaños. Com mais de cem filmes no currículo, foi em "Chaves" que ele conseguiu sair da sombra do irmão Germán Valdés "Tin-Tan", de carreira mais bem sucedida que Ramón. Avesso à fama, o humilde ator não tirava calça jeans surrada e camisa desbotada por nada.
- Ele é uma espécie de Macunaíma mexicano com um quê de Mazzaropi, o ignorante que quer dar a volta por cima - define Pablo.
Talvez o jeitinho brasileiro seja a razão de ele ser tão pop no país, com games que parodiam clássicos, como "Super Magro World" e "Madruga Craft". Pablo mostra que o personagem também é rock n' roll e inspirou o nome de ao menos 15 bandas brasileiras, entre elas a carioca Dom Ramon e a paulista Madruga Core.
O Globo
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