segunda-feira, 30 de julho de 2012

Massacre de Munique 1972. O dia mais triste da história olímpica


"Nenhum tipo de demonstração política, religiosa ou racial é permitida nas áreas dos Jogos Olímpicos." - Cartilha Olímpica: regra 50.2

Nos Jogos Olímpicos de 2012, cerca de 13.500 soldados britânicos estarão vigiando as ruas de Londres - ou cerca de 4.000 a mais do que estão servindo no Afeganistão. Isso exemplifica até onde o Comitê Olímpico Internacional (COI) e as cidades-sede vão para prevenir qualquer tipo de manifestação política - pequena ou grande - durante uma Olimpíadas.

As Olimpíadas serem um evento de duas semanas de disputas esportivas sem manifestações políticas significa pouco para os que desejam marcar uma posição, porque quando você está lá, por que não fazer em cima do pódio, com o mundo todo assistindo?

Países já boicotaram Jogos por razões políticas, e outros não foram convidados - a África do Sul é o maior exemplo. Ao longo dos anos, as fortes manifestações políticas ficavam no plano simbólico, até o dia 5 de setembro de 1972, quando um grupo de terroristas palestinos assombrou a Vila Olímpica e fez 11 atletas e técnicos israelenses reféns.

O impasse durou 16 horas, terminando com uma tentativa malfadada de resgate. Quando tudo terminou, todos os 11 reféns e mais um policial alemão estavam mortos. Houve um rumor de paralisar os Jogos logo depois da tragédia, mas o presidente do COI, Avery Brundage, resolveu que isso não podia acontecer.

"Estou certo de que o público vai concordar que não podemos permitir um bando de terroristas destruir a essência de cooperação internacional e de boa vontade que temos com o movimento olímpico", disse, para uma plateia de 80 mil pessoas presentes nas homenagens, dentro do Estádio Olímpico. "Os Jogos precisam continuar".

E assim continuaram.



SETEMBRO NEGRO: O Massacre de Munique no dia mais triste das Olimpíadas

O dia 05 de setembro de 1972 entrou para a história das Olimpíadas e do esporte mundial. Infelizmente pelo motivo mais sombrio: a morte de onze atletas israelenses em um ação terrorista que, pela primeira vez ,capitalizou a mídia como agente de exposição de uma operação

Foi nesta data, há exatos 38 anos, que oito terroristas palestinos razoavelmente treinados e muito dedicados invadiram a Vila Olímpica de Munique e sequestraram nove atletas israelenses, matando outros dois deles no início da operação. Na desastrada tentativa de resgate do atletas, todos os sequestrados morreram assim como cinco criminosos e um policial alemão-ocidental.

A vigésima Olimpíada da Era Moderna, conhecida até então pelo slogan "Jogos Felizes" e que marcaria época pelas sete medalhas de ouro de Mark Spitz na natação, se tornava um doloroso drama de 21 horas com um trágico desfecho.

Para entender tudo isto, o Almanaque Esportivo faz uma recuperação de todos os fatos envolvidos neste atentado terrorista que marcou os Jogos Olímpicos de Munique em 1972 na então Alemanha Ocidental. Sem dúvida, a maior tragédia olímpica já ocorrida na Era Moderna.

Munique


Antes, Durante e Depois.

PRÓLOGO

Em setembro de 1970 ocorreu uma frustrada tentativa de golpe de estado na Jordânia contra o Rei Hussein II, comandada pela então terrorista OLP (Organização da Libertação Palestina). Na ocasião, o rei jordaniano iniciou uma campanha contra militantes políticos palestinos no país. Aliás, Hussein II foi o único líder árabe a condenar veementemente a ação terrorista nos Jogos de Munique.

Em resposta à repressão de estado jordaniana, foi criada a organização paramilitar "Setembro Negro", comandada por membros da Fatah (organização comandada por Yasser Arafat), contando com o apoio de membros da As-Sa'iqa e OLP. O terrorista Mohammed Daoud Oudeh foi o mentor intelectual das ações da organização. De acordo com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, o "Setembro Negro" era um braço extremista da Fatah, que estava ciente de suas atividades.

Entre seu estabelecimento, em meados de 1971, até o "Massacre de Munique", como ficou conhecido o incidente nas Olimpíadas, o "Setembro Negro"capitaneou ações como cartas-bomba para autoridades diplomáticas israelenses, sequestro de aviões, tentativas de assassinatos contra oficiais jordanianos e ainda o assassinato do primeiro-ministro jordaniano Wasfi Tel em 1971. Depois do atentado em Munique, outras ações continuaram a ocorrer até seu desmantelamento no final de 1974.

O INCIDENTE

Às 4 horas da madrugada do dia 05 de setembro de 1972, oito terroristas do Setembro Negro entraram na Vila Olímpica vestindo abrigos esportivos e mochilas. Inadvertidamente, dois membros da delegação norte-americana ajudaram os mesmos a escalar os muros da Vila, que não tinha praticamente nenhuma segurança naquele local. Eles pensavam que, assim como eles, eram atletas voltando das festas após o horário previsto de fechamento da Vila Olímpica.

Ao invadirem o apartamento 1 do prédio destinado à delegação de Israel, foram vistos pelo juiz de luta-livre Yossef Gutfreund, que percebeu os atacantes com máscaras e gritou para alertar seus colegas. Além disto, ele usou seu corpanzil de 130kgs para detê-los à porta, o que permitiu a fuga do seu colega Tuvia Sokolovsky.

Subjulgado, Gutfreund foi ferido pelos atacantes, enquanto o também treinador Moshe Weinberg levou um tiro no rosto. Este levou os invasores para o apartamento 3 repleto de lutadores e halterofilistas, pulando o apartamento 2 (o qual também tinha atletas israelenses de atletismo, tiro ao alvo e esgrima), pois provavelmente achou que os primeiros poderiam fisicamente ser mais capazes de deter os terroristas.

Na luta após invadir o apartamento 3, no qual todos os seis atletas dormiam, o halterofilista Yossef Romano, foi assassinado ao tentar render um dos atacantes. Weinberg tentou novamente atacar os invasores mas foi metralhado e também morreu. Na confusão, o igualmente halterofilista Gad Tsobari conseguiu fugir para o estacionamento.

Os nove reféns restantes, incluindo o técnico de esgrima André Spitzer (que tinha acabado de chegar à Vila Olímpica), foram detidos pelos terroristas. Eles exigiam a libertação de 234 prisioneiros da OLP detidos pelo governo israelense além de dois radicais alemães, Andreas Baader e Ulrike Meinhof (do extremista grupo alemão Baader-Meinhof). "Não negociamos com terroristas", foi o retorno da Primeira-Ministra israelense Golda Meir.

A foto abaixo, do fotógrafo Kurt Stumpf, imortalizou o incidente.

O chefe da delegação egípicia A.D. Touny e membros da Liga Árabe negociaram com os terroristas palestinos, prometendo "muito dinheiro" em troca da libertação dos reféns, algo rejeitado por eles. Em um impasse diplomático, os alemães-ocidentais organizaram uma pífia tentativa de resgate na tarde do dia 05 de setembro.

Quando os policiais, vestidos de abrigo esportivo, estavam quase entrando no prédio, os terroristas avisaram que estavam vendo tudo pela televisão e que qualquer tentativa de invasão resultaria na eliminação imediata dos reféns.

Um novo plano, enfim, foi definido pelos alemães-ocidentais, após as exigências dos palestinos de irem para o Cairo, capitão do Egito.  As especializadas forças armadas alemães não podiam intervir, pois a Constituição Federal pós-guerra impedia o uso do Exército contra civis. Sobrou para a Polícia de Munique e o Governo da Baviera resolverem o incidente terrorista.

Era melhor que não tivessem feito, pois foi uma sucessão de equívocos trágicos. Nem de propósito, as autoridades alemãs-ocidentais cometeriam tantos erros graves de planejamento, estratégia e operacionais.

O primeiro passon foi posicionar um Boeing 727 na pista militar de Fürstenfeldbruck. Bizarramente, as autoridades alemãs-ocidentais prepararam uma tentativa de resgate com apenas cinco atiradores mal-treinados e pessimamente equipados, sem rádio e comunicação centralizada, tampouco tropas de assalto. Aliás, nem atiradores de elite os policiais eram:apenas oficiais que estavam em um torneio de tiro naquele final de semana.

Apenas no transporte da vila Olímpica de ônibus para dois helicópteros, se percebeu que, além dos nove reféns haviam mais terroristas do que o inicialmente observado: oito ao invés de cinco. Para piorar, os helicópteros ao descerem em Fürstenfeldbruck ficaram mal posicionados e impediram dois dos atiradores de poderem atacar.

No Boeing haveriam dezesseis policiais alemães, que iriam atacar os terroristas assim que eles subissem na aeronave. Ao invés disto, este agentes desistiram da ação sem comunicar o comando central da crise, pois achavam que a ação não estava bem planejada. O comando central (composto por 2 políticos e 1 chefe de polícia), por sua vez, 'esqueceu' de pedir apoio terrestre blindado e, quando o fez, o mesmo ficou preso no tráfego, chegando somente à meia-noite, depois de ter começado o tiroteio.

Dois terroristas subiram na aeronave, totalmente vazia, e viram que tinham sido enganados. Um tiroteio começou e dois palestinos foram mortos. Logo depois, outro saiu correndo na direção de um dos atiradores, o único tiro disparado por ele em todo o incidente. No meio do caos, os oficiais israelenses do MOSSAD (serviço de inteligência de israel) tentaram negociar mas levaram tiros em sua direção.

Com a chegada dos blindados, os terroristas se apavoraram e um deles metralhou o helicóptero com quatro reféns, jogando uma granada que explodiu a aeronave. Morriam Berger, Friedman, Halfin e Springer. Depois, outro terrorista metralhou os reféns do outro helicóptero, matando Gutfreund, Shapira, Shorr, Slavin e Spitzer.

Um dos atiradores alemães e um dos pilotos ficaram feridos por 'fogo amigo', já que não conseguiam se comunicar com seus companheiros. O policial alemão Fliegerbauer morreu de bala perdida (ele estava na torre de controle aéreo) e cinco terroristas foram mortos, um fugiu e três foram presos. O fugitivo restante foi morto 40 minutos depois em um combate com as forças de segurança alemãs-ocidentais.

AS VÍTIMAS:

Kehat Shorr, atirador
Yossef Romano, halterofilista
David Berger, halterofilista
Ze'ev Friedman, halterofilista
Jacov Springer, juiz de halterofilismo
Mark Slavin, lutador
Eliezer Halfin, lutador
Moshe Weinberg, técnico de luta
Yossef Gutfreund, juiz de luta
Andre Spitzer, técnico de esgrima
Amitzur Shapira, técnico de atletismo
Anton Fliegerbauer, policial alemão


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