sábado, 9 de junho de 2012

Yoki, o caso do crime com esquartejamento que chocou o Brasil

A polícia de São Paulo vai pedir que Elize Matsunaga, viúva do diretor-executivo da empresa de alimentos Yoki, fique presa até o julgamento, de acordo com reportagem do Jornal da Globo desta sexta-feira (8). Inclusive, o delegado que cuida do caso deu a investigação como encerrada. O advogado de defesa, Luciano de Freitas Santoro, por sua vez, tentou explicar o que levou Elize a matar o marido.

Segundo o advogado, os detalhes da confissão de Elize estão relatados no inquérito. No dia 19 de maio, um sábado, Marcos tinha ido buscar a mulher, a filha e a babá dela no aeroporto. “Elize tinha ido para o Paraná em companhia da babá e de sua filha. Eles retornaram do aeroporto para casa. A babá foi embora, a criança foi dormir e eles pediram uma pizza. Quando a pizza chegou, a Elize contou para o Marcos que sabia que ele estava traindo”, relatou o advogado.

De acordo com Santoro, Marcos teria ficado transtornado. “Eles levantaram da mesa. O Marcos desferiu um tapa na cara da Elize. Ele falou: ‘Eu conheço teu passado, eu vou levar teu passado para Vara da Família.’ Era o caso de ela ter sido garota de programa. Ele usou outras palavras e aquilo foi difícil no momento. Nesse momento, foi desferido o tiro e ceifou a vida do Marcos”.

Depois de atirar, segundo a defesa, Elize pensou em ligar para a polícia, mas desistiu. Ela escondeu o corpo por mais de dez horas num quarto, até tomar a decisão: cometer outro crime. “Ter seccionado o corpo foi porque pura simplesmente ela não conseguiria carregar o corpo. Não era previamente pensando em nada de esquartejar o marido. É porque ela não conseguiria tirar o corpo do apartamento. Foi nesse sentido a ocultação”, disse o advogado.

Segundo a polícia, Elize viajou com o corpo do marido por mais de 200 quilômetros. Ia para o Paraná, mas desistiu e voltou. Em Capão Bonito, no interior do estado, recebeu uma multa por falta de licenciamento. Um policial parou o carro, mas não percebeu que o corpo estava no porta-malas.

Segundo a polícia, as malas utilizadas para transportar as partes do corpo da vítima foram deixadas em uma caçamba na Zona Oeste de São Paulo. Na quarta-feira (6), Elize confessou à polícia ter matado e esquartejado o executivo dentro do apartamento da família, na Vila Leopoldina, na Zona Oeste de São Paulo, na noite de 19 de maio.

A Secretaria da Segurança Pública informou na sexta-feira que a Polícia Civil não vê necessidade de ouvir mais pessoas sobre a morte do empresário. O diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Jorge Carrasco, disse que o caso está encerrado. A conclusão, após a confissão e as provas obtidas pela polícia, em especial durante a reconstituição do crime, é que Elize Matsunaga matou e esquartejou o marido sozinha. No total, foram ouvidas sete pessoas na investigação, segundo a secretaria.

“Nós entendemos que o inquérito está encerrado. O doutor Mauro Dias vai relatar o inquérito e vai pedir a prisão preventiva”, disse o delegado Jorge Carrasco, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Elize está isolada em uma cela da cadeia de Itapevi, na Grande São Paulo. Ela cumpre prisão temporária até dia 28 de junho, mas a polícia quer que ela fique presa até o julgamento. “Acho absolutamente desnecessário. Se ela quisesse ter fugido , ela teria fugido nestes 15 dias. Ela colaborou com as investigações. A regra é o réu responder em liberdade”, disse o advogado de Elize, Luciano de Freitas Santoro.

Filha
A filha do casal Matsunaga estava no apartamento na noite de 19 de maio, quando Marcos foi assassinado. Ela dormia em um dos quartos quando o executivo levou um tiro na cabeça após discutir com sua mulher, a bacharel em direito Elize Araújo Kitano Matsunaga, segundo confissão dela à polícia. Peritos realizaram uma reconstitução do crime na quarta-feira (6).

A babá havia sido dispensada por Elize horas antes do crime. “A nova babá chegou às 5h e não percebeu nada”, afirmou nesta quinta-feira (7) o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Jorge Carlos Carrasco. Em nenhum momento os vizinhos foram procurados pela bacharel em direito, afirma Carrasco.

A criança acordou por volta das 6h30, segundo o advogado da família da vítima, Luiz Flávio D’Urso. Neste horário, a nova babá já havia chegado e estava no quarto para cuidar da menina. “No momento em que houve o disparo, estavam os três no apartamento”, disse D’Urso, referindo-se ao casal e à filha.


“Depois que chegou essa babá, na manhã do dia seguinte, é que a Elize foi para o quarto onde estava Marcos [diretor da Yoki]. Foi aí que, até segundo a própria confissão, ela começou o esquartejamento”, disse D’Urso.

A criança ficou com a babá no apartamento durante as 12 horas em que Elize esteve fora do prédio, no dia 20 de maio, afirma o advogado. A bacharel, que também é técnica em enfermagem, saiu levando três malas contendo as partes do corpo do diretor-executivo.

Nesta quinta-feira (7), ainda de acordo com o advogado D’Urso, a filha do casal estava no apartamento onde ocorreu o crime, na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo. “Como já houve a perícia, o apartamento foi liberado”, disse. A criança estava no local sob os cuidados de uma tia materna e passava bem.

O advogado afirmou que os familiares de Marcos ainda não pararam para discutir se irão pedir a guarda da criança. Segundo D’Urso, eles estão aguardando o final das investigações policiais para pensar no assunto.

Reconstituição
Após prestar depoimento durante oito horas na sede do DHPP e ter confessado ser autora do homicídio e esquartejamento, Elize foi levada ao edifício onde morava com Marcos e a filha. Ela chegou ao local por volta das 20h55 de quarta-feira (6). Peritos já estavam no apartamento para seguir com o trabalho iniciado na noite de segunda (5), quando utilizaram o luminol, um reagente químico, para procurar manchas de sangue na cozinha, no quarto do casal e na área de serviço. Desta vez, os reagentes foram utilizados nos cômodos apontados por Elize.

Os peritos levaram um boneco para auxiliar na reconstituição do crime, que teve início pouco depois das 21h e terminou às 0h30, de acordo com o delegado do DHPP, Mauro Dias. Aos peritos, Elize indicou o local onde alvejou o marido, por onde o arrastou e onde realizou o esquartejamento. Em todos os pontos indicados, os peritos encontraram vestígios de sangue humano, segundo o perito criminal Ricardo da Silva Salada.

“Todos os locais estavam coerentes com os vestígios encontrados. Ela atirou nele na sala e depois o arrastou até um quarto de hóspede, uma distância de 15 metros. O luminol indicou por onde ela foi arrastado e depois onde o esquartejou, no banheiro da empregada. A versão dela foi comprovada com reagentes. Um destes reagentes comprovou que se trata de sangue humano. Agora o exame de DNA deverá comprovar que é o sangue do Marcos. Com a simulação, temos a comprovação de toda a dinâmica do crime”, disse Salada.

Segundo o perito criminal, a arma utilizada no crime, uma pistola .380, estava em uma gaveta na sala onde ocorreu o homicídio. Elize teria se emocionado em alguns momentos da reconstituição. “Mas creio que muito mais por preocupação do que vai ocorrer com a filha. Em termos de arrependimento, não me pareceu”, disse. Pouco antes da 1h da madrugada de quinta, Elize saiu em um carro da Polícia Civil e foi levada para a delegacia de Itapevi, na Grande São Paulo.

O delegado do DHPP Mauro Dias acompanhou a reconstituição e a conclusão do trabalho da perícia, finalizado totalmente às 2h30, no apartamento. “Ela apontou e detalhou tudo sobre o que ocorreu no dia dos fatos. Inclusive, carregou malas com pesos aproximados com os dias do crime. Agora vamos em busca de provas que confirmem ou não a versão dela”, disse Dias.

A polícia retirou do apartamento 30 armas, entre elas pistolas, fuzis e até submetralhadora, que faziam parte da coleção do diretor-executivo da Yoki, por uma medida de segurança. “É para a tranquilidade dos moradores. As armas vão ser guardadas no cofre do DHPP e consultaremos o Exército sobre qual o procedimento a ser tomado. As armas são todas regularizadas e autorizadas para uso de colecionador”, afirmou Dias. Informações do G1.


Ex-chefe de Elize Matsunaga no Paraná diz que ela era agressiva

O ex-deputado Mário Sérgio Bradock contratou Elize, em 2004, para ser secretária de seu gabinete na Assembleia Legislativa. À época, ela disse que os dois tiveram um romance e o acusou de agressão. Ele nega

Em julho de 2004, três meses depois de ter sido contratada pelo então deputado estadual Mário Sérgio Bradock (PMDB) para ser secretária de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Paraná, Elize Araújo foi demitida. Seria uma demissão como outra qualquer se não tivesse ido parar nas páginas do jornal Folha de Londrina do dia 25 de julho de 2004. Ela acusava o então deputado de agressão. Ele negava e dizia que ela agia “por vingança, por ter sido demitida”. Em sua versão, Elize espalhava aos quatro ventos que os dois estavam tendo um caso há dois meses e que, por ciúme, numa sexta-feira à tarde, Bradock a agrediu com um tapa no rosto.

O relacionamento extraoficial, dizia ela, ia bem até o dia em que o então deputado descobriu que ela havia passado uma noite fora de sua casa. Discutiram no gabinete de Bradock na frente de um assessor do deputado. Ele exigia que ela lhe devolvesse o carro, com os documentos que estavam no nome dela. Era um presente dele. Elize resistiu e ele partiu para a agressão, contou ela. “Consegui fugir e chamei a PM para me ajudar a sair dali porque sozinha ele ia me encontrar e não ia me deixar sair”, declarou ela à Folha de Londrina. À época, a Polícia Militar do Paraná não confirmou o atendimento.

Bradock negou que os dois tenham tido um caso, negou que havia dado um carro de presente a Elize e negou tê-la agredido. ''Como é que eu ia ter um caso se sou casado? E você acha que eu tenho cara de papai noel para dar carro assim?'', disse ao jornal.

Na versão do então deputado, Elize fazia as acusações porque sua equipe na Assembleia havia descoberto que ela era garota de programa e que “furtou documentos da sala do chefe de gabinete”. Ele, no entanto, confirmou a discussão.

Ela tinha apenas 22 anos e acabara de deixar sua cidade natal, Chopinzinho, interior do Paraná, para tentar a vida em Curitiba. Filha mais velha de uma família simples e humilde da cidade que hoje tem pouco menos de 20.000 habitantes, ela deixou os pais e a irmã mais nova para trás logo que se formou no Ensino Médio. Viajou cerca de 400 quilômetros até a capital paranaense. Conseguiu emprego na Assembleia Legislativa graças à indicação de um dos funcionários do deputado Bradock, que havia sido eleito em 2002 e cumpria seu primeiro mandato.

Em 2008, Bradock foi candidato a vereador em Curitiba. Sem conseguir se eleger, em 2010 tentou uma cadeira na Câmara dos Deputados, mas também não foi eleito.  Em dezembro de 2011, então delegado titular da Delegacia de Ortigueira, foi transferido para o município de Reserva, a 63 quilômetros de Ortigueira. À época, ele alegou que sua transferência havia sido motivada por pressão de um grupo político da região que “não concordava com a forma enérgica de seu trabalho”.  A portaria que determinou sua transferência colocava, no entanto, como justificativa, a instauração de um procedimento preliminar na Corregedoria contra o delegado.

“Esse crime não me surpreende”, afirmou Bradock ao site de VEJA na tarde desta sexta-feira. Aos 59 anos, hoje ele apresenta o telejornal Boa Tarde, Paraná, em Curitiba. Não tinha notícias de Elize até a última terça-feira, quando ela chocou o país ao assumir ter matado e esquartejado o marido, o executivo Marcos Kitano Matsunaga.

“Essa menina foi sempre muito estranha. Sempre agressiva e muito fechada. Era muito individualista”, disse ele. Bradock negou o caso com Elize e disse “certeza” de que o “crime foi premeditado”. Afirmou ainda que Elize “está mentindo a idade. Ela deve ter 32 anos no máximo”. Em seu depoimento, ela disse ter 38. “Quem conviveu com ela, sabia que sua história não ia terminar bem.”


Mulher apaixonada - Aos olhos do reverendo Aldo Quintão, no entanto, Elize Matsunaga era uma mulher apaixonada “em busca de realizar seu sonho de casar de branco”. Ao lado do então namorado Marcos, que conhecera pouco tempo antes em um site de relacionamentos, quando ela ainda era garota de programa, Elize foi à Catedral Anglicana de São Paulo, na Zona Sul da capital paulista, que sob o comando do discurso liberal do reverendo atrai cada vez mais fiéis. Homossexuais, desquitados e pessoas vindas de outras crenças são aceitas sem discriminação.

Ela queria que sua união com Marcos fosse abençoada por Aldo Quintão. Mas, com a agenda de casamentos lotada, ele pediu que o reverendo Renê celebrasse o matrimônio. A cerimônia e festa, em outubro de 2009, aconteceram no Buffet Torres, um dos mais tradicionais de São Paulo.

Desde o casamento, Marcos e Elize passaram a frequentar regularmente as missas. Mas preferiam frequentar a unidade que fica na Vila Brasilândia, na periferia da Zona Norte da cidade. “Estamos todos muito abalados porque eram um casal como outro qualquer”, disse o reverendo Aldo Quintão ao site de VEJA. “O Marcos era mais reservado, nunca ostentava nada, tanto que ninguém sabia de sua relação com a Yoki.”

Ao lado da capela da Vila Brasilândia, o reverendo mantém uma creche. “Eles sempre traziam presentes para a população mais carente da região”, disse.

Chopinzinho - A cidade natgal de Elize está chocada. A mãe de Elize, Dilta Araújo, não sai de casa desde que, pela televisão, soube do crime. Em tratamento contra um câncer, ela havia encerrado uma licença médica e estava animada com a volta ao trabalho, dedicando-se como antes à limpeza do Ginásio de Esportes Dionisto Debona. Para preservá-la do assédio da imprensa e dos moradores da cidade, a prefeitura lhe deu licença.

Foi a irmã de Dilta, Roseli – que trabalha como auxiliar de enfermagem em um hospital de Chopinzinho – quem viajou para São Paulo para ficar temporariamente com a filha de Marcos e Elize. (VEJA)

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