domingo, 6 de maio de 2012

Kamasutra, o livro mais antigo dos prazeres

Kamasutra, o mais antigo livro dos prazeres

Sexo é… bem, o que nos dá prazer. O “fazer amor” é o que nos leva em direção ao gozo e à plenitude do toque, à entrega total de corpos sedentos por carícias, beijos, volúpias e aos desejos essenciais, até, da sublime paixão. Sexo. Não dá para explicar o que cada um sente quando pensa em união de corpos. Difícil traduzir em palavras. Porque sexo é desnudar os desejos escondidos (ou escancarados) no corpo de outro.

Ou seja, só mesmo vivenciando as experiências e criando outras tantas que se pode ter certa aproximação com o delicado e apaixonante tema. Agora, quando o assunto é esquentar a cama, não tem nada mais atual do que o Kamasutra. Escrito na Índia por Vatsyayana no século IV d.C., o dicionário tradutor dos desejos sexuais ganha agora uma tradução direta e reta, sem preliminares.

Em outras palavras, trata, sem pudores, daquelas ideias picantes que não se costuma compartilhar muito abertamente, nem mesmo, por incrível que pareça, entre os parceiros. Na recém-lançada tradução do selo Tordesilhas, o Kamasutra é agora compartilhado como o autor indiano o concebeu.

O interessante é que os tradutores da novíssima versão do sânscrito para o português – Daniel Moreira Miranda e Juliana Di Fiori Pondian, especialistas da Universidade de São Paulo (USP) se detiveram, também, no segundo livro.

O Kamasutra original nascido no sul da Ásia há 18 séculos era dividido em sete partes. Os tradutores da novíssima edição trabalharam na segunda parte, o Livro do Sexo:

Vocês conheciam a obra ou a parte que foi traduzida?

Sim, conhecíamos, mas a partir de outras traduções que, como pudemos verificar ao longo do trabalho, às vezes eram muito distantes do original sânscrito.

Para traduzir parte da obra original, vocês tiveram de traduzir/conhecer os sete livros?

Nós estamos traduzindo o Kamasutra desde 2008, então conhecemos os outros livros. O conhecimento do todo não é imprescindível para a tradução, uma vez que cada livro possui certa autonomia, mas é importante e desejável tê-lo para se compreender um pouco desse contexto na cultura indiana, à qual não temos acesso senão por meio da própria obra.

Qual a importância das ilustrações para a tradução? Ou o trabalho é feito em conjunto, digamos assim, para que um complemente o outro (texto ‘casado’ com as ilustrações).
O Kamasutra original em sânscrito não possui ilustrações, elas são um acréscimo de edições de muitos séculos depois. Antes delas temos conhecimento das esculturas no grupo de templos em Khajuraho (cidade localizada no estado de Mahdya Pradesh na Índia) feitas entre os séculos 10 e 12. Tais esculturas mostram cenas sexuais que não são necessariamente parte das posições sexuais contidas no Kamasutra. As ilustrações das cenas do Kamasutra conhecidas foram feitas a partir do século XIV. Desse modo, sobretudo nesta edição, não houve trabalho em conjunto. Traduzimos apenas o texto sânscrito, as ilustrações vêm de outra fonte.

Quantas obras vocês já tiveram a oportunidade de traduzir do sânscrito para o português? Ou esta é a primeira?

As traduções que fizemos foram de poemas, textos religiosos ou fábulas, como exercícos de aula, e depois para manutenção da língua. Esta é a nossa primeira tradução publicada. E, no caso da Juliana, traduziu também poemas visuais na dissertação de mestrado, que serão publicados em livro em 2012.

Quando receberam o convite, o que acharam dessa empreitada? É difícil traduzir tal tema?



Quando recebemos o convite já estávamos trabalhando na tradução do Kamasutra, embora ainda não na do livro 2 que foi publicado. É bastante difícil traduzir o livro, mas a dificuldade não vem do tema, mas da língua sânscrita, que é muito diferente do nosso português, sintática e semanticamente. Assim, quando recebemos o convite, aceitamos como um desafio, pois o prazo da editora era muito curto. Trabalhamos juntos entre quatro e cinco meses diariamente.

Vocês recorreram ao original na língua inglesa em algum momento? Perceberam muitas diferenças da tradução em inglês do original? Pode citar algum exemplo?

Em alguns momentos recorremos a traduções para a língua inglesa (ou mesmo a francesa), mas elas apresentam muitas variações em relação ao original. Por exemplo, os homossexuais são chamados nas traduções de eunucos, em nossa tradução seguimos o que o sânscrito diz ao pé da letra, isto é, pessoas da terceira natureza, o que consiste já por si só em uma gigantesca diferença de significado para um capítulo inteiro da parte traduzida. Em outro momento, ainda, os tradutores modernos falam em aplicar um remédio, quando na verdade o original estava querendo dizer que a mulher poderia utilizar um tipo de pênis artificial. As traduções antigas são ainda enxertadas com os comentários de séculos mais tarde, tornando indistinto o que era texto original do início do milênio e o que era acréscimo de mais de mil anos depois.

Regina de Sá
atarde.com.br


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