terça-feira, 13 de março de 2012

Aguinaldo Silva fala sobre o desfecho de Fina estampa


Sabatinado no Roda vida, Aguinaldo Silva fala sobre o desfecho de Fina estampa
Convidado do programa da TV Cultura, autor conta que Tieta foi a novela que mais gostou de fazer
O autor de Fina estampa, Aguinaldo Silva
foi sabatinado no programa Roda viva,
da TV Cultura Divulgação / Agência O Globo
 
RIO - Na reta final de Fina estampa, uma certeza o telespectador já pode ter: Tereza Cristina, personagem de Christiane Torloni na trama das 21h da TV Globo, não vai morrer, nem ser presa. Sabatinado nesta segunda-feira no Roda viva, da TV Cultura, o autor da trama, Aguinaldo Silva, falou sobre os últimos capítulos da novela. Ele ainda relembrou momentos de sua carreira, também como jornalista e escritor, e afirmou que, mais do que tudo, gosta de se divertir ao escrever seus folhetins.

- As pessoas vão ficar sem saber o que vai acontecer até a última cena, que só entrego no último dia. Em novela, chega sempre o momento em que você esquece o mote inicial e começa a criar tramas que envolvam o telespectador. Então, em Fina estampa, três anos depois, Griselda (Lília Cabral) é escolhida para ser paraninfa da formatura do filho Antenor (Caio Castro) e faz um belo discurso sobre ética e trabalho, retomando o tema da trama - revela.


Outro desfecho aguardado - afinal, quem é o namorado misterioso do mordomo Crô (Marcelo Serrado)? - pode não ser contado às claras.

- Mesmo sabendo que vai acontecer, o telespectador quer saber como vai acontecer. Só posso dizer que Tereza Cristina não vai morrer nem ser presa. Não sei se ela vai se dar bem - desconversa, para, em seguida, dizer que a novela que mais gostou de fazer foi Tieta, de 1989. - Foi a primeira escrita depois do fim da censura, então me permiti algumas coisas. Houve o mistério da caixa da Perpétua (Joana Fomm), e no final não revelei o que tinha lá dentro. Estou pensando em não revelar quem é o namorado do Crô. É a caixa da Perpétua de Fina estampa.

O sucesso do personagem, acredita Aguinaldo, tem a ver com a proximidade do mordomo gay com o universo dos desenhos animados:

- As crianças adoram o Crô porque todo o seu gestual é do Pica-Pau. Já Tereza Cristina é o Tom, de Tom & Jerry, aquele gato horroroso que faz tudo errado e que nunca dá certo. Sempre penso em figuras de desenho animado quando faço estes personagens.

No começo de uma novela, você entrega uma sinopse de 80 capítulos e depois é seja o que Deus quiser, completou o novelista no programa, conduzido por Mario Sergio Conti.

- Eu me divirto, gosto de escrever, minhas novelas são bem humoradas por causa disso. ,Quero que as pessoas riam da caricatura de vida que faço nas novelas. Sou o primeiro a rir, mas sempre choro - afirmou Aguinaldo, que disse se preocupar em escrever para o telespectador médio, evitando polêmicas como o beijo gay na TV. - Se depender de mim, beijo gay só na minha casa. Não é todo mundo que vai aceitar ideias libertárias na novela. Você escreve para pessoas do Oiapoque ao Chuí. Nem todo mundo pensa como pensam as pessoas de Ipanema; você tem que falar para o (telespectador) médio.

O advento da chamada classe C na TV não é exatamente uma novidade para ele:

- Minhas novelas são muito populares e sempre atraíram este público. Em função da criação desta ascensão da chamada nova classe média, decidiram que temos todos que escrever para eles. Mas não sei se vai funcionar.

Leitor compulsivo - leio três jornais por dia e recorto matérias que possam render tramas, contou - Aguinaldo é fã de séries americanas como Família Soprano e A sete palmos. No entanto, no Roda vida, afirmou que o gênero ainda tem muito a evoluir no Brasil. Em 2011, o autor lançou o seriado Lara com Z, um spin-off da minissérie Cinquentinha, que ele definiu como uma tentativa de se fazer algo diferente.

- Não temos bons seriados no Brasil. Ainda estamos na primeira fase, das sitcoms, coisas mais leves. E o seriado americano hoje não é mais isso. E precisamos entrar nesse mercado. Para fazer séries temos autores bastante interessantes. O que é preciso fazer é aprender o jeito de se fazer - acredita.

No entanto, ele se mostra descrente em relação à tão comentada renovação dos autores de novela.

- Escrever novela exige uma disciplina absurda. Tem que acordar todo dia, produzir 37 laudas e não pode falhar. A primeira leva de grandes profissionais da novela saiu do rádio, como Dias Gomes e Janete Clair. A segunda saiu do jornalismo, que também exigia uma disciplina terrível. O que hoje dá senso de disciplina às pessoas? Nada. Dificilmente surgirão novos bons novelistas - dispara, dizendo que sua obra é muito pessoal. - Não escrevo ao acaso, sei o que tem que acontecer. Meu trabalho é quase científico. Nunca me deixo levar pela novela.

13/03/2012  | O Globo

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