sábado, 10 de dezembro de 2011

Brasileiro com diagnóstico errado vira mundo após ouvir que viveria 2 anos


O que fazer quando lhe dão dois anos de vida? ter uma filha com a namorada, vender tudo, comprar um barco, cruzar oceanos (e manter os planos mesmo depois de descobrir que o diagnóstico estava errado)


O Santa Paz, visto a partir do seu mastro na
 ilha de Fatu Hiva (Polinésia), virou a residência do casal
O diagnóstico soava definitivo: um câncer na próstata daria a Lucas Freitas menos de dois anos de sobrevida. A doença vinha em um momento de serenidade – prestes a cruzar a barreira dos 30 anos, ele estava apaixonado pela publicitária Sandra Chemin e esperava uma filha, a primeira de ambos. Era necessário remanejar os planos, tentar encaixar em dois anos o que se imaginava fazer em uma vida inteira. Em uma noite, os dois deitados na banheira do apartamento que dividiam, ela perguntou o que ele faria com tão pouco tempo. Lucas falou de seu desejo de escrever ficção, mas confessava-se pouco inspirado para a tarefa. Deveria acumular certa experiência e, para isto, queria navegar pelo mundo. Eles não eram totalmente ignorantes no assunto – já haviam velejado em monotipos, aqueles barcos pequenos que não se afastam muito da praia. Mas manejar um barco capaz de atravessar mares durante tempestades era outra história. Não havia problema – eles aprenderiam.


Nas semanas seguintes, o casal se ocupou em “empacotar” a vida que levava em São Paulo e procurar o tal barco, ao mesmo tempo em que enfrentava a dura rotina de exames e consultórios médicos. Até que o resultado de uma nova biópsia trocou o câncer por uma infecção cabeluda, mas reversível. Em um mês, Lucas estava curado. “Nesta altura, a cabeça já havia mudado.” O câncer ficara para trás. O desejo de rodar o mundo de barco, não. Sandra e Lucas voltaram ao trabalho – ela como vice-presidente da Ogilvy Interactive (braço da agência de propaganda Ogilvy), ele como jornalista. Quando a filha Clara completou 1 ano, o casal bancou a experiência. “Fizemos a despedida no meu aniversário. Brincamos que era a festa do ‘triplo T’: trinta de julho, meus trinta anos e tchau”, diz Lucas.

Nas Ilhas Jersey, mais conhecidas por oferecer benesses fiscais do que vender produtos náuticos, Lucas e Sandra compraram um barco usado de 39 pés. Deram o sugestivo nome de Santa Paz, exatamente o que sentiam agora. Com a ajuda de comandantes contratados, zarparam da costa francesa, passaram pela Espanha e alcançaram Portugal. Era o momento de arriscar a primeira viagem-solo, sem tutores e com Clara a bordo. Antes, porém, a família decidiu voltar (de avião, claro) ao Brasil para romper os últimos laços: o apartamento foi alugado e o carro, vendido. A partir dali, a vida seguiria de porto em porto.

De Portugal à Grécia foram meses de viagem. A família aportou em Ítaca, ilha nas águas calmas do mar Jônico, onde reinou Ulisses – ou Odisseu, para a mitologia grega. “Por coincidência, fiz a viagem lendo a Odisseia [o épico de Homero que descreve o regresso de Ulisses a sua terra natal]”, diz Lucas.

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