domingo, 7 de agosto de 2011

Dez anos do 11 de Setembro são lembrados na TV

Documentários, entrevistas e até reconstituições marcam a programação sobre os dez anos dos ataques às Torres Gêmeas

RIO - As cenas que ganharam todos os canais de TV na manhã de 11 de setembro de 2001 eram mais chocantes do que qualquer filme já produzido em Hollywood. Por um único motivo: elas eram reais. Dez anos depois do atentado que matou milhares de pessoas e destruiu as Torres Gêmeas do World Trade Center, um dos ícones de Nova York, nos Estados Unidos, o trauma permanece vivo não só na memória dos americanos como também na dos telespectadores do mundo inteiro, que acompanharam a tragédia ao vivo. A um mês da primeira década do episódio que mudou os rumos da História do mundo, os canais já dão início a uma programação especial voltada para a data. Documentários, entrevistas, análises e reconstituições tentam esclarecer questões não resolvidas e, ainda, exorcizar uma das imagens mais marcantes do século.

Confira a programação especial

Com um pacote de 29 programas, a Globo News sai na frente em sua grade temática, que estreia já na quinta-feira e segue até setembro (veja quadro na página ao lado). Para César Seabra, diretor do canal, o atentado ao World Trade Center mudou a vida de toda a população, independentemente de sua origem.

- Todo o mundo lembra o que estava fazendo naquele dia, na hora dos ataques dos terroristas. A vida de todo o mundo foi alterada por conta disso. O que vamos mostrar, nesta cobertura especial da Globo News, é como o mundo mudou de lá para cá - explica Seabra, justificando a antecedência: - Nossa ideia foi começar exatamente um mês antes, dia 11 de agosto, com uma grande entrevista. Conseguimos Donald Rumsfeld, secretário de Defesa de George W. Bush, que abrirá nossa cobertura no "Sem fronteiras", na quinta. A partir desse dia, nossa cobertura vai aumentando, crescendo, até chegar ao 11 de setembro.

A entrevista exclusiva com Rumsfeld, conduzida pelo repórter Luis Fernando Silva Pinto, não é o único ponto forte da cobertura. Os repórteres Jorge Pontual, Silio Boccanera, Tonico Ferreira, Geneton Moraes Neto e Sandra Coutinho também apresentam novas histórias sobre o mesmo acontecimento. No dia 14, Pontual levanta a vida do ex-presidente americano em "Procurando Bush", parte do "Globo News especial". A radicalização de militantes islâmicos, os assessores do governo Bush, o aumento do preconceito em relação aos muçulmanos e as estratégias da Al-Qaeda, grupo terrorista responsável pelo atentado, são alguns dos temas investigados pelo canal, de agosto a setembro. Geneton conduz, ainda, a série inédita "Dossiê segredos de Estado", na qual entrevista de pilotos a agentes da CIA, o serviço secreto americano:

- A história sobre o 11 de Setembro nem de longe foi contada na íntegra. Há dúvidas que certamente serão esclarecidas quando documentos, hoje secretos, chegarem ao conhecimento público - avalia Geneton, que percorreu "algo em torno de 20 mil quilômetros" em cinco dias nos EUA, ao lado do cinegrafista Eduardo Torres. - O esforço foi mais do que recompensado. Tivemos a chance de entrevistar, por exemplo, personagens importantes de cenas que o público não viu - relata.

Na semana do 11 de Setembro, André Trigueiro vai ancorar de Nova York, diariamente, as edições do "Jornal das Dez" da Globo News.

- Vou apresentar o jornal por lá com pelo $uma entrevista ao vivo a cada noite, recebendo convidados especiais. Durante o dia, a ideia é registrar em reportagens o que mudou nos EUA e no mundo nos últimos dez anos, a partir da tragédia - conta Trigueiro.

Explorando depoimentos de sobreviventes, reconstituições e imagens de arquivo, canais por assinatura como o Discovery Channel também apresentam uma série de especiais sobre o tema. No Discovery, o destaque é a série "Nova York: O renascer da esperança", produzida por ninguém menos que Steven Spielberg: seis episódios mostram os homens e mulheres envolvidos na reconstrução do que era o World Trade Center. Já "Dez anos depois" fala da ligação emocional entre os sobreviventes. Enquanto isso, o History Channel apresenta o documentário "102 minutos que mudaram o mundo", que será exibido mundo afora, nos horários em que cada local viu o atentado na TV. O especial faz parte de um pacote de oito atrações (duas inéditas).

Com uma pegada semelhante, o A&E traz dois especiais: um deles, "Disaster diary: The photos of 9/11" mostra 9 mil fotos e 40 horas de filmagem feitas pela fotógrafa Andrea Booher.

Na TV aberta, a bancada da TV Globo também vai a Nova York. Âncoras do "Jornal da Globo" e do "Jornal Hoje", respectivamente, William Waack e Sandra Annemberg embarcam para a Big Apple para produzir matérias. A equipe dos telejornais terão o reforço dos correspondentes Rodrigo Bocardi, Flávio Fachel, Giuliana Morrone, Elaine Bast e Marcos Uchôa, além de parte dos repórteres da Globo News. Waack promete reportagens mais analíticas:

- Nossa intenção é estabelecer algumas linhas do que mudou nos Estados Unidos e de que maneira sociedades muçulmanas, árabes e não árabes, estão reagindo ao desafio do radicalismo religioso.

Já Sandra pretende mostrar a volta por cima que marcou Nova York nos últimos anos:

- Vamos focar no renascimento, contar como está a cidade. Já temos algumas boas histórias.

Seguindo uma linha mais leve, o GNT vai apresentar documentários nos quais as relações pessoais e a cidade de Nova York são o foco. Um dos filmes, produzido pelo ator e diretor americano Sean Penn, mostra três famílias cujas vidas foram afetadas por atentados semelhantes aos de 11 de Setembro.

- Praticamente todos lembram onde estavam nesse dia. Não poderíamos, então, deixar de tratar do tema dez anos depois. O canal resolveu homenagear a cidade e relembrar os fatos. E, por isso, montamos um amplo leque de opções de documentários, séries e matérias que mostrarão Nova York sob vários ângulos - explica Tiago Worcman, gerente de programação do GNT. [Tatiana Contreiras - O Globo]


Atualizado em 11/09/2011 10h51

Jornalistas da Reuters relembram dia com Bush em 11 de setembro de 2001
'Estávamos presenciando a história em tempo real', diz Arshad Mohammed.Bush se transformou em líder de guerra em 14/9, diz Steve Holland


Dois jornalistas da Reuters viajaram com o então presidente norte-americano George W. Bush em 11 de setembro de 2011, em uma jornada que começou como uma mera visita à Flórida para promover a educação.

Leia algumas das memórias dos dois repórteres naquele dia e nos seguintes.
Arshad Mohammed:'Senhor presidente, o senhor tem conhecimento das notícias de que um avião bateu em Nova York?'
Eu fiz essa pergunta para Bush em uma sala de aula na Flórida, onde, sem eu saber, ele tinha acabdo de ouvir que a segunda torre do World Trade Center tinha sido atingida por um avião.
Esses minutos na escola Emma E. Booker ilustraram as alegrias e tristezas de fazer parte da mídia que viaja a todos os lugares com o presidente.
De uma lado, estávamos presenciando a história em tempo real, vendo o chefe da Casa Branca Andrew Card cochichar no ouvido de Bush o ataque, e tendo acesso direto ao presidente para perguntar à vontade.
De outro lado, o fluxo de informações é extremamente controlado e nossas perguntas com frequência não são respondidas.
Sabíamos que a primeira torre tinha sido atingida, mas não sobre a segunda, e nã tínhamos ideia de que Bush tinha sido alertado por Card.
Bush não respondeu minha pergunta, e pouco depois surgiu na biblioteca da escola para dizer: 'Hoje nós tivemos uma tragédia nacional. Dois aviões bateram no World Trade Center, em um aparente ataque terrorista ao nosso país'.
Pego de surpresa pelo ataque, Bush deu uma resposta inicial e passou o restante do dia voando no Força Aérea Um fugindo de um inimigo incerto ao invés de retonrar imediatamente para Washington, um movimento que levantou dúvidas sobre sua liderança em meio a uma crise.
Apenas dias depois, quando ele visitou os destroços do World Trade Center, ele se recuperou com um discurso dramático e improvisado, prometendo punir quem tinha feito aquilo.
Air force 1Na escola, antes de entrarmos no Força Aérea Um, uma equipe da segurança e cães farejadores checaram os jornalistas, uma medida não habitual, uma vez que já havíamos passado por uma triagem, o que sugeria que o Serviço Secreto não queria arriscar.
Poucos minutos após a decolagem, ficou claro que não estávamos voltando para casa, pois não passamos de novo pela costa, como havíamos feito um dia antes ao chegar à Flórida. Ao invés disso, voamos por cima da terra, a uma altitude bem acima da normal.
Estávamos vendo imagens ao vivo dos ataques em uma televisão a bordo.
Não tínhamos ideia de para onde estávamos indo, até que um assessor de imprensa nos disse que nosso destino era a Base da Força Aérea Barksdale, na Louisiana, onde Bush iria fazer um comunicado, e que poderíamos noticiar o que ele diria, mas não o lugar onde estava.
Em terra, não havia toda a pompa e cerimônia que normalmente aguardam o presidente.
Em vez disso, Bush desceu do Boeing 747, com soldados ao redor, e um oficial em um momento ordenou bruscamente a outro 'vai para aquela asa, agora!'
Foi como se os militares, com toda a sua força, temessem que o avião do presidente não estivesse seguro em meio a uma grande pista em uma base onde sua presença era um segredo.
Proibidos de usar nossos telefones celulares para que as ligações não fossem rastreadas e 'entregassem' a localização de Bush, repórteres foram levados a uma sala de entrevistas sem janelas. Assessores correram para montar um pódio com duas bandeiras para Bush fazer um comunicado que poderíamos depois divulgar como realizado em uma 'localização não conhecida.'
Enquanto esperávamos, alguém afirmou que notícias da chegada de Bush foram dadas em uma emissora de TV local. Rapidamente confirmando essa informação com um oficial da Força Aérea, um assessor nos disse que podíamos ligar para nossos editores.
Após prometer 'caçar e punir aqueles responsáveis por esses ataques covardes,' Bush voltou ao Força Aérea Um com muito menos pessoal, deixando para trás assessores, agentes do Serviço Secreto e membros da imprensa, incluindo eu, que voariam a Washington em um avião reserva da Força Aérea.
Steve Holland:A maioria dos membros da imprensa da Casa Branca que estavam na Flórida para cobrir Bush se encontraram abandonados. A aviação civil foi bloqueada e apenas no dia seguinte desistimos de voltar para casa, fretamos ônibus e nos enchemos de petiscos para uma viagem durante a madrugada de volta a Washington.
Presos no trânsito na manhã seguinte, a primeira sensação que tivemos além das imagens de TV foi uma vista do Pentágono a partir da rodovia I-395. Fumaça ainda subia aos céus em uma grande escoriação no edifício, feita por um avião sequestrado.
A Casa Branca estava cercada por um cordão militar. Helicópteros sobrevoavam. Soldados carregavam rifles e confrontavam os transeuntes. Havia uma sensação de que os Estados Unidos estavam em guerra.
Anos depois, os norte-americanos reparariam na habilidade de Bush de estudar os fatos e tomar rapidamente uma decisão - rápido até demais, diriam alguns. Mas esse líder, o que decide, ainda não tinha aparecido até setembro de 2001.
No final, foi um presidente que demorou meses para decidir sobre sua política em relação às células-tronco e, após obter um grande corte de impostos do Congresso na primavera passada, parecia mais aplicado em se definir em relação aos assuntos internos.
Fumaça
Bush completou sua transformação em líder de guerra em 14 de setembro, em uma visita ao Marco Zero, no Sul de Manhattan.
O Força Aérea Um pousou em Nova Jersey, em vez de Nova York, por medidas de segurança, e Bush e seus assessores voaram de helicóptero para Manhattan. Sentia-se o cheiro de combustão das torres gêmeas a quilômetros de distância, e um rastro de fumaça que passava a Estátua da Liberdade, símbolo da abertura dos EUA ao mundo, era uma dolorosa imagem.
No chão, uma grossa camada de pó cobria as calçadas e as ruas a quarteirões do Marco Zero. Uma fileira de bombeiros, com seus casacos cobertos por poeira, estava em silêncio ao longo da carreata, em uma breve pausa na procura para encontrar os restos mortais de seus colegas. A estabilidade dos edifícios próximos era incerta, o que aumentava a preocupação.
Onde uma vez estavam as torres, havia apenas morte e destruição. Vigas subiam em ângulos estranhos. Pilhas de escombros estavam por toda a parte.
Bush não tinha planos para discursar para os bombeiros enquanto ele andava com o então prefeito de Nova York, Rudy Giuliani, mas gritos de 'EUA, EUA' da multidão o fizeram mudar de ideia.
Ele escalou os restos de um caminhão de bombeiros, colocou sua mão no ombro de um deles, chamado Bob Beckwith, e falou em um alto-falante as palavras que definiriam o restante de seu mandato na Casa Branca.
'Posso ouvir vocês! O restante do mundo ouve vocês! E as pessoas - e as pessoas que derrubaram esses edifícios nos ouvirão em breve.'


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