Justiça fixou fiança de R$ 300 mil para motorista, que teve de ser internado.
Acidente envolvendo um Porsche em alta velocidade matou advogada de 28 anos em São Paulo
As imagens foram registradas pelas câmeras de um prédio da via.
A Justiça concedeu liberdade provisória com fiança fixada em R$ 300 mil ao empresário Marcelo Malvio Alves de Lima, de 36 anos, que dirigia o carro de luxo. A assessoria do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) confirmou na tarde desta segunda-feira (11) a decisão da juíza Ana Carolina Della Latta Camargo Belmudes, designada para atuar no plantão judiciário.
Especialista: dirigir Porsche a 150 km/h é insanidade mental
Terra
Em outubro do ano passado, o diretor-presidente da concessionária Toyota Car House de Porto Alegre (RS), o empresário Paulo de Tarso Teixeira, 53 anos, morreu carbonizado após perder o controle de um Porsche que dirigia em alta velocidade. No mês passado, o comediante Ryan Dunn, um dos astros do programa Jackass, morreu vítima de um acidente com seu Porsche, nos Estados Unidos. Na madrugada do último sábado, em São Paulo, a advogada Carolina Menezes Cintra Santos, 28 anos, morreu após ter seu carro, um utilitário modelo Tucson, atingido por um Porsche a 150 km/h, segundo a perícia, na rua Tabapuã, no Itaim Bibi, zona oeste da capital paulista. Os dois veículos foram parar em um poste, um em cima do outro. O motorista do Porsche, um empresário de 36 anos, ficou ferido e foi levado ao hospital. Para o especialista em segurança de trânsito Mauri Panitz, dirigir veículos superpotentes a 150km/h em vias públicas é "uma insanidade mental".O noticiário mostra que acidentes com carros de luxo têm como característica o alto nível de violência, o que engrossa as estatísticas de mortes no trânsito. A tecnologia desse tipo de veículo pode ser um dos principais fatores para a perda de controle da direção. Para se ter uma ideia, um Porsche modelo 911 GT2 RS faz de 0 a 100 km/h em 3,5 segundos e sua velocidade máxima pode atingir 330 km/h. São carros de corrida disfarçados.
"A culpa não é do carro"
A superpotência do veículo, no entanto, não é a causa dos acidentes, afirma o especialista em segurança de trânsito e professor aposentado da Faculdade de Engenharia da PUCRS. Ele exemplifica que um Gol ou um Fiat Mille são "muito mais perigosos" em situações de ultrapassagem exatamente por falta de potência.
"Tecnicamente, a tecnologia (dos carros de luxo) pode ajudar numa situação difícil. Esse excesso de potência, quando bem utilizado, pode salvar vidas. Inocentado o veículo, a culpa é de quem estava dirigindo. Esse cidadão estava fora da casinha. Ele demonstrou que não tinha controle emocional nenhum. Atingir essa velocidade significa que ele enlouqueceu", argumentou Panitz, que critica o uso de carros com superpotência nas ruas.
Para o especialista, o Porsche não é um carro urbano, é um carro de estrada. Colocar um modelo como esse nas ruas é estragar o veículo. "Usar dentro da zona urbana é uma insanidade mental. Seria mais coerente o motorista dirigir, mesmo que seja para se exibir, em baixa velocidade, andar devagarinho. A pessoa que ultrapassa o limite de uma via pública, com limites de velocidade entre 40 km/h ou 60 km/h, essa pessoa se considera acima da lei. Deve ser uma pessoa que não está preparada para viver em sociedade. Ela tem que ser trancafiada num manicômio", disparou.
Licença especial para dirigir
Considerando as más condições das estradas brasileiras, de acordo com Panitz, o País não comportaria o tráfego de veículos superpotentes. Para ele, além da infraestrutura das estradas, deveria existir um ampla discussão sobre a circulação desse tipo de veículo também nas vias públicas. Uma de suas propostas é uma carteira de habilitação diferenciada, com uma categoria que permitisse o motorista a conduzir determinado veículo com alta potência, além da exigência de um curso especial que poderia ser oferecido pela própria concessionária.
"Assim como é necessário uma categoria especial para pilotar uma motocicleta, um ônibus, um caminhão, seria preciso uma autorização para circular com carros de altíssima potência. Isso é como uma arma. O motorista teria de ter o porte dessa arma", afirmou o especialista.
Câmeras flagram socorro a vítimas de acidente com carros de luxo em SP
Batida violenta entre Porsche e Tucson matou uma advogada.
Acidente ocorreu no dia 9 de julho, em um cruzamento na Zona Sul de SP.
Na Tucson prata, destroçada no poste, a advogada Carolina Cintra Santos, de 28 anos, está presa nas ferragens. Naquela madrugada, Carolina comemorava o aniversário de uma amiga em um prédio. Às 2h20, a advogada decidiu ir embora. De lá até o lugar do acidente, ela dirigiu cerca de 1 km.
O mapa da região nobre da Zona Oeste de São Paulo mostra o caminho de Carolina. O taxista Celso Bispo da Silva vinha logo atrás, quando o sinal fechou.
“Ela parou. Eu parei logo atrás dela. Acredito que ela tenha olhado, porque ela parou em cima da faixa, deu aquela olhadinha e seguiu”, conta Silva. Segundo o taxista, a advogada atravessou o cruzamento lentamente com o sinal fechado. Em sua direção, vinha o Porsche de Marcelo. O choque foi brutal. O carro de Carolina foi lançado a 20,5 metros dali.
“O carro subiu, saiu do chão, as quatro rodas. Ele veio voando, literalmente voando, em diagonal, e colidiu com o poste”, conta o taxista.
Uma câmera de segurança gravou o momento da colisão. O pára-choque do carro da advogada é arrancado com o impacto.
“A imagem foi muito forte de se ver, tanto é que na hora, eu fiquei até sem reação. Estacionei e vim ver se eu podia fazer alguma coisa para poder ajudar. Chegou um bombeiro também, voluntário”, lembra o taxista.
Carros ficaram destruídos após batida em cruzamento (Foto: Helio Torchi/Futura Press)
O soldado bombeiro é Sinval Braz da Silva, uma das testemunhas do acidente. Ele estava parado em um semáforo, em um carro ao lado do Porsche, pouco antes da colisão. “Quando o sinal verde apareceu, ele partiu em alta velocidade. Velocidade que eu nunca tinha visto assim, de perto, um carro atingir em tão pouco tempo”, conta o bombeiro.
É Sinval quem aparece nas imagens do cinegrafista amador. Foi ele quem praticamente salvou Marcelo.
“Assim que eu desci do carro, parti em direção ao carro Porsche, que era o que estava mais perto de mim. Eu posicionei a cabeça dele de uma forma a proteger a coluna cervical. Ao fazer essa manobra de desobstrução das vias aéreas, eu percebi que ele voltou a respirar melhor”, lembra Sinval.
Carolina estava desmaiada, presa ao cinto de segurança. Seu estado era muito grave. “Verifiquei os sinais vitais dela, ela não tinha pulso. Ela tinha uma grande hemorragia também”, diz Sinval.
Minutos depois, Marcelo retoma a consciência e desce do carro. “Ele estava bastante confuso. Ele me perguntou por várias vezes o que tinha acontecido, onde ele estava, inclusive, se ele estava com mais alguma pessoa”, conta o bombeiro.
Os bombeiros chegaram para retirar a advogada das ferragens. Marcelo pega o telefone celular e faz uma ligação e se ouve: “Fala que é uma emergência, é um amigo dele. Fala que é uma emergência, por favor.”
Ele diz: “Bateram no meu carro”.
“Eu vi ele telefonando, foi a hora que tiraram ele do carro, que ele não se quebrou, ele estava inteiro, fisicamente, então foi a hora que ele pegou o celular e ligou para alguém. Ele não perguntou quantas pessoas tinham no outro carro, se tinha machucado alguém, ele não perguntou nada disso. No momento, acho que a preocupação maior dele era com o bem material dele”, diz o taxista.
O resgate chega, e começa uma luta para salvar Carolina. Os socorristas tentam reanimar a moça. A advogada não reage. Marcelo é colocado na maca e levado para o hospital.
Segundo o boletim de ocorrência, Marcelo apresentava sinais de embriaguez. Cinco testemunhas confirmaram que o Porsche estava em altíssima velocidade. Marcelo tinha comprado o carro há um mês. Um carro esportivo alemão avaliado em R$ 600 mil. Ele é tão veloz que acelera de 0 a 100 km/h em pouco mais de três segundos.
As imagens mostram a velocidade do carro. O Porsche dirigido por Marcelo corre tão rápido que só é possível acompanhar em câmera lenta. A gravação foi feita segundos antes do acidente.
Para mostrar a velocidade estimada em que Marcelo dirigia, o Fantástico fez um teste. O carro da reportagem passa em frente da mesma câmera que registrou a imagem do Porsche. A reportagem segue na velocidade máxima permitida na rua: 60 km/h.
Fiança
Os advogados de Marcelo entraram com um pedido de liberdade e a Justiça concedeu. Ele foi beneficiado pela nova lei do Código de Processo Penal, que entrou em vigor no dia 4 de julho. Com as novas regras, a partir de agora, só pode ser preso sem condenação, quem cometeu crimes mais graves, com penas superiores a quatro anos, ou quem estiver envolvido em violência doméstica e familiar.
Para ficar em liberdade, Marcelo pagou R$ 300 mil de fiança. Por ordem da Justiça, não pode frequentar bares à noite nem sair do país. Marcelo não tem passagem pela polícia, trabalha e mora em São Paulo, com a família.
“Se ele for condenado, e assim esperamos no futuro, esse dinheiro vai ser usado como forma de indenização para a família da vítima. Será encaminhado como forma, entre aspas, de reparação pelo dano”, explica o promotor Rogério Leão Zagallo.
Marcelo foi indiciado por homicídio doloso, por assumir o risco de matar. Para o promotor, ele dirigia em alta velocidade em uma via em que o máximo permitido é de 60 km/h.
“Na maneira que ele utilizava aquele carro, ele se tornou sim, uma arma na mão do Marcelo”, diz o promotor.
A velocidade exata com que Marcelo dirigia seu Porsche só será conhecida com o laudo do Instituto de Criminalística. A conclusão deve sair em 30 dias.
A advogada Carolina foi cremada em Salvador, onde mora a família, que preferiu o silêncio. O engenheiro Marcelo, que sofreu apenas ferimentos leves, já voltou à vida normal. Ele também não quis dar entrevista. O advogado do engenheiro, Celso Vilarde, contesta a tese de que Marcelo estaria embriagado e correndo muito.
“É um homem de bem, é um homem trabalhador, não tem nenhum histórico de acidente, de embriaguez ao volante. Não se pode condenar e julgar uma pessoa antes que a perícia se manifeste”, diz o advogado Vilarde.
“Eu não consigo ver pela prova que eu já li até agora, qualquer mínima responsabilidade dessa moça num acidente que infelizmente provocou a sua morte”, aponta o promotor.
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