Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas suspeita que 'amigos' do jogador estariam tramando assassinato
Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, abre o jogo: sangue no Land Rover do goleiro Bruno era de Eliza Samudio - Reprodução
As denúncias de irregularidades na Penitenciária de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem (MG), tornaram-se alvos de preocupação da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Além do escândalo de favorecimento de privilégios para o goleiro Bruno Fernandes de Souza, réu no processo de desaparecimento e morte da ex-amante Eliza Samudio, detido na unidade prisional há um ano, há ainda o temor de representantes da comissão de que o braço direito do jogador, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, esteja correndo risco de ser assassinado.
Entre os interessados em ajudar o goleiro, Durval Ângelo citou a juíza de Esmeraldas, Maria José Starling, suspeita de ter cobrado propina de 1,5 milhão como garantia de libertar o jogador, o delegado Júlio Wilke, e os próprios advogados de defesa de Bruno. O risco de um atentado contra Macarrão levou a Comissão de Direitos Humanos a solicitar a transferência do preso para outra cela – antes, ele ficava junto do goleiro. A transferência de cela foi confirmada hoje pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds).
A secretaria afirmou que a transferência do réu de cela é um procedimento normal no sistema prisional, e que não tem relação com as denúncias feitas por Macarrão à Comissão de Direitos Humanos no dia 20. Nessa data, o réu afirmou que estaria sofrendo intimidações de funcionários do presídio, que vinham pressionado para que ele assumisse o crime e livrasse o goleiro Bruno.
O deputado afirmou ainda que há dois anos a Comissão de Direitos Humanos vem denunciando irregularidades na Nelson Hungria. Segundo ele, os principais diretores foram denunciados por agentes penitenciários de estar cobrando propina de presos em troca de privilégios. "Os favorecidos não são presos qualquer. São ricos, famosos e criminosos poderosos. A corrupção era grande e infelizmente não há vantagem política de punir e não existe uma fiscalização eficaz para o sistema de carceragem", afirmou o parlamentar.
Em resposta à denúncia, a SEDS enviou nota informando que em abril deste ano toda a direção da Penitenciária Nelson Hungria foi trocada e a funcionária Márcia Ermelinda Fortes, flagrada em escuta telefônica com a dentista Ingrid, atual namorada de Bruno, foi destituída no dia 21 de abril do cargo de diretora de atendimento da unidade, por incompatibilidade com o cargo. O ex-diretor Cosme Dorivaldo foi substituído na Penitenciária em procedimento rotineiro, assim como acontece em outras unidades. Cosme não estaria exercendo nenhuma função executiva atualmente, mas ainda é ligado a SEDS. Sobre as irregularidades por parte da direção e funcionários, a Corregedoria do Sistema Prisional informou que está apurando as denúncias. [Veja - Andréa Silva, de Belo Horizonte (MG)]
Marcada na pele, amizade de Bruno e Macarrão começou em colégio
Dupla fez parte de projeto social no Caic de Ribeirão das Neves
“Bruno e Maka. A amizade nem mesmo a força do tempo irá destruir. Amor verdadeiro”. A frase eternizada em forma de tatuagem nas costas de Macarrão dá o tom de quão estreita é a relação entre Bruno e seu fiel escudeiro, que hoje protagonizam o caso policial mais famoso do país: o desaparecimento de Eliza Samúdio. Capítulo mais misterioso de uma amizade que nasceu graças a um projeto social em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais.
Entrada do Caic, escola onde Bruno e Macarrão se conheceram (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)
Destaque dos times locais, Bruno nunca escondeu o sonho de fazer sucesso no futebol. Mas, como muitos dos jovens brasileiros, sofreu uma decepção em sua primeira passagem por um grande clube. Dispensado do Cruzeiro quando tinha cerca de 16 anos, o jovem desistiu de realizar o sonho de ser jogador e optou por ganhar a vida de outra forma: como treinador de goleiros do “Projeto Toriba”, uma das ações do Centro de Atenção Integral à Criança (Caic). Foi quando estreitou os laços com Macarrão.
Apesar de precoce, Bruno mantinha a seriedade ao passar sua experiência das passagens pela base do Venda Nova, do Democrata de Sete Lagoas e do Cruzeiro para goleiros em potencial. Um deles era Macarrão. A relação aluno/professor no campo de terra batida, no entanto, ocupava apenas parte do dia da dupla, que permanecia no local para aproveitar as refeições distribuídas gratuitamente, se divertir e paquerar as meninas.
Em 2008, Macarrão esteve no local a convite da reportagem e recordou a época em que conheceu o melhor amigo (assista ao vídeo ao lado).
- Quando foi mandado embora do Cruzeiro pelo Ney Franco, o Bruno resolveu que não ia jogar mais futebol e veio ser nosso treinador de goleiros no projeto Toriba. Ele sempre foi muito determinado. Só pensava em trabalhar, trabalhar, trabalhar... E o pessoal só queria olhar para as meninas. Fico até emocionado por voltar a este campinho. Passamos muita coisa boa aqui. Vínhamos por causa do suco, do leite com achocolatado, mas valia muito a pena. O Bruno merece estar onde está porque sempre foi muito determinado e diferenciado – disse na ocasião.
Na reportagem, Bruno também falou com carinho dos momentos vividos no Caic.
- O que não esqueço é quando nos reuníamos no projeto Toriba que o governo fez. Me lembro que saíamos cedo, 7h, e íamos para o treino. A parte mais engraçada era aquela zoação, um brincando com o outro. Tínhamos que tomar café lá porque não havia nada para comer em casa. Um pegava o biscoito do outro.
Do Caic, a amizade entre Bruno e Macarrão ganhou o país. Onde um estava, era fácil encontrar o outro. Tanto que o goleiro deixava a cargo do amigo a administração de suas coisas. Figura constante em treinamentos e jogos do Flamengo, “Maka”, como é chamado, tinha livre acesso no clube e bom relacionamento com todos.
- Não tenho palavras para descrever o Bruno. Fez e faz muito para mim – dizia.
Frequentadores do Caic lamentam prisão
Bruno, a esposa e Macarrão em momento de lazer
(Foto: Arquivo pessoal)
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- A cidade inteira está muito triste com isso que está acontecendo. Por onde você passar em Ribeirão das Neves só se fala nesse assunto. O Bruno era um exemplo para todo mundo aqui, tratava todo mundo bem. Nas poucas vezes em que estive com ele, sempre foi uma pessoa tranquila. Nunca teve pose só por ser famoso. É difícil acreditar nisso tudo – disse Íris Matias Júnior, um dos frequentadores do local.
Sem Bruno e Macarrão, o Caic segue recebendo diariamente centenas de crianças, construindo “amizades que nem a força do tempo irá destruir” e observando à distância o desfecho de uma polêmica na qual está presente sua maior referência.
Por Cahê Mota
Direto de Ribeirão das Neves, MG
Noiva de Bruno: juíza e ex-advogado cobraram por liberdade
Eles teriam pedido R$ 1,5 mi para tirar o atleta da cadeia
Do Portal Terra
Para Dalledone, o "plano" para extorquir o goleiro e a família dele começou quando Maria José Starling, em uma das audiências no caso no fórum de Esmeraldas em outubro de 2010, afirmou que Bruno já deveria estar solto. Para justificar a ideia, a magistrada comparou o caso ao assassinato da advogada Mércia Nakashima, em São Paulo, cujo corpo foi encontrado em uma lagoa e o ex-namorado dela estava solto à época. Para ela, o fato do corpo de Eliza Samudio não ter sido localizado pela polícia mineira seria um dos motivos para o goleiro estar livre.
À comissão de Direitos Humanos da Assembleia de Minas Gerais, Ingrid afirmou que o acerto entre a juíza e o advogado Robson Pinheiro foi registrado em um contrato. O documento garantiria que, ao ingressar com o pedido de liberdade no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Bruno seria solto em 48h. Ingrid revelou ainda que, na semana em que o advogado deveria entrar com o pedido, foi cobrado um adiantamento. O advogado de Bruno, Claudio Dalledone Júnior, disse que tomou as medidas necessárias com relação ao caso e que, a história fere "a dignidade se seu cliente". "Deixem o Bruno se defender, chega de gente oferecendo serviço e vendendo vantagens", disse.
Em nota, o advogado Robson Pinheiro disse que sua conduta sempre obedeceu "às normas éticas, legais e contratuais" e que rescindiu o contrato em fevereiro deste ano, quando o pedido de habeas corpus estava prestes a ser apresentado no TJ-MG. Procurado, o Tribunal de Justiça informou que o advogado da magistrada, Getúlio Barbosa Queiroz, se pronunciaria sobre o caso. Queiroz negou que sua cliente tenha tido qualquer participação no contrato. E disse que a responsabilidade do caso é somente do advogado Robson Pinheiro.
O caso Bruno
Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.
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