domingo, 10 de julho de 2011

Bueiros explosivos. Bomba-relógio carioca

Bomba-relógio carioca
Light deixou bueiros sem manutenção por pelo menos 10 anos e agora vai fechar 700 na cidade do Rio. Toda a tubulação da CEG no Centro está obsoleta
Copacabana é o bairro campeão de problemas em rede de distribuição da Light na cidade

Rio - No Rio de bueiros-vulcão, a explicação para tantas explosões pode estar num procedimento básico de segurança que ficou no escanteio por quase dez anos: a manutenção dos equipamentos. No Centro, transformadores da década de 50, sucateados, cabos com emendas com prazo de validade vencidos, ratos, baratas e infiltrações compõem o inventário das caixas subterrâneas da Light.

É também nesta mesma região da cidade, onde aconteceu a maioria das explosões, que a CEG concentra ainda parte da tubulação antiga — de ferro batido, segundo o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico e Energia, Júlio Bueno. Isso aumenta ainda mais o risco de novos incidentes: “Noventa e cinco por cento de toda a rede subterrânea da CEG já foram renovadas. Faltam 5%, que estão no Centro”.

Mas não é só no Centro que a situação é precária. Num relatório de 2009, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), são apontados problemas nos bueiros da Light no Leblon, Lagoa, Ipanema e Copacabana. Na ocasião foram inspecionadas nove câmaras de transformação, onde foi constatado: corrosão na caixas, vazamento de óleo e transformadores operando a temperaturas elevadas, em final de vida útil e em mau estado de conservação.

Questionada sobre o assunto, a Light disse que não sabia informar se os equipamentos já haviam sido trocados. No momento, reafirmou que a meta de substituição de transformador para este ano era de 500. Até junho, só 218 haviam sido substituídos.

Um dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Energia do Rio (Sintergia-RJ), Tercio Amaral, afirmou que a Light antes de privatizar tinha 14,5 mil funcionários. Número que já chegou a 3,4 mil e que, hoje, fica, em média, em 4,1 mil.

“Houve um tempo em que a empresa ficou sem investimento. Existia uma turma de manutenção que ficavam em Triagem, que foi diluída. Precisamos de manutenções preventivas, pois os funcionários estão com medo de trabalhar e morrer numa explosão”.

Especialista acusa ‘política do tatu’

Para o especialista em gerenciamento de riscos e planejamento de emergências da Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe/UFRJ) Moacyr Duarte, uma causa do problema é a ocupação desordenada do subsolo, o que chama de “política do tatu”.

“Cada um faz o seu buraco e ninguém sabe direito o que há lá embaixo, nem mesmo as próprias concessionárias”, afirma. Outra falha é a falta de padronização nas atuações das empresas. A proximidade até 50 m entre câmaras da Light e tubulações da CEG, passíveis de vazamento, seria suficiente para levar gás à rede elétrica.

Furos em cinco mil galerias

A Light já está eliminando as 700 caixas de junção do Rio. Há 10 dias, o presidente da Light, Jerson Kelman, disse que elas “servem apenas para assustar a população”. Foi uma delas que se incendiou e destruiu orelhões no Flamengo, dia 28.

Cinco mil caixas de inspeção vizinhas a bueiros da CEG serão furadas até dezembro para dissipar gás. Mas, segundo o coordenador do Crea Luiz Consenza, os buracos nas tampas são insuficientes: “São pequenos e entopem com a sujeira. Tem que haver manutenção diária”.

Reportagem de Christina Nascimento, Daniela Dariano e Felipe Freire
O Dia




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