sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Richarlyson: 'Se fosse homossexual, isso não interferiria em campo'

Volante rebateu a críticas de parte da torcida do São Paulo sobre a sua vida pessoal e preferiu responder com as conquistas dentro de campo

Richarlyson chora na sua despedida
do São Paulo
Durante uma entrevista descontraída que relembrou os bons momentos no Tricolor, Richarlyson também teve que responder perguntas sobre situações delicadas que viveu no clube. Parte da torcida pegou no pé do jogador por causa de sua vida pessoal, mas ele preferiu dar a resposta com o seu desempenho dentro de campo, e disse que não pode ser julgado pelo que faz fora dele.

- Mesmo se eu fosse homossexual, isso não interferiria em campo - disse o volante, logo após a coletiva, em entrevista ao programa "Globo Esporte", da TV Globo.

Richarlyson garante que não dá bola para esse tipo de críticas, e agradeceu aos torcedores que sempre o apoiaram.

- E tão banal para mim falar de coisas fúteis, banais. Fico triste de não ter conquistado 100% dos torcedores do São Paulo, mas feliz de ter conquistado 99%. A pequena parcela de torcedores que não conquistei é como aquela nuvem chuvosa que passa, o que vai ficar marcado é aquele dia de sol. Nem Jesus agradou a todo mundo.

Ao ser questionado sobre qual resposta daria aos torcedores que não o aceitaram, Richarlyson rebateu:

- Conquistei títulos, fui campeão mudial, convocado para a Seleção. Se todo mundo quiser contestar a vida pessoal, fica difícil. Eu trabalho, dou o meu melhor, o que vale é o profissional dentro de campo. Me desculpa se eu não consegui ser aquilo que eles querem, vou viver a minha vida, não vou mudar. Vou continuar sendo esse Richarlyson que meus companheiros amam, adoram - disse o volante.

Richarlyson também garantiu que jamais a diretoria do Tricolor o impediu de qualquer manisfestação pessoal.

- Em nenhum momento o São Paulo me privou de alguma coisa, de fazer o que eu eu quero, falar o que eu tenho direito. As pessoas têm que aceitar as outras do jeito que elas são. Principalmente na parte profissional, tem que ver o que é produzido dentro do trabalho, e não fora dele. Até porque eles não vivem comigo 24 horas por dia.

Polêmica com árbitro

O excesso de expulsões de Richarlyson nesta temporada foi outro assunto comentado nesta sexta-feira. O volante reconheceu o erro em determinadas situações, mas negou a acusação do juiz Heber Roberto Lopes, que afirmou ter sido xingado de 'veado' pelo atleta. A polêmica aconteceu após Richarlyson receber o cartão vermelho na derrota do São Paulo para o Fluminense, por 4 a 1, em Barueri.

- Fiquei muito triste e chateado pelas declarações do Heber. Primeiro, eu não fiz falta. Depois, eu não o xinguei, e terceiro, jamais xingaria de veado, como o quarto árbitro falou para ele. Mas papel aceita qualquer cosia. A justiça do homem, do tribunal, pode até me punir, mas a de Deus é justa. (GLOBOESPORTE.COM)


Confira abaixo trechos da última entrevista coletiva de Richarlyson pelo São Paulo


Relação com a torcida
É complicado falar sobre a torcida. É um momento muito especial para mim, nunca pensei em passar tudo aquilo que a gente passou dentro do clube, por toda história. Mas futebol é assim, é dinâmico, apaixonante, verdadeiro, real. Nem sempre a gente consegue agradar a todos. Mas fico muito feliz porque agradei a grande maioria. Fico feliz por sair na rua e os torcedores pedirem para eu continuar. Os verdadeiros pediram para eu continuar. Aí entra na questão que não depende só de mim, depende de muitas coisas que não estão ao meu alcance, depende de presidente, diretoria. Mas estou feliz como um todo, por dar essa entrevista vitoriosa dentro do São Paulo. Foram muitas conquistas, coletivas, individuais, amigos, muita coisa boa. É tão banal falar de coisas fúteis. Para mim, a pequena parcela de torcedores que não conquistei vai passar como uma nuvem que passa no céu num dia chuvoso, o que vai ficar é o dia de sol. Isso vai ficar marcado: o profissionalismo. Fico triste por não ter conquistado 100% da torcida, mas feliz por ter conquistado 99,9% dela.

Sai contra a vontade?
Há muitas coisas que envolvem uma contratação. Envolve diretoria, presidência, conversa com meu empresário, minha família, muita coisa. (Neste momento, Zé Vitor, Carleto, Bruno Uvini, Lucas, Lucas Gaúcho, Alfredo, Jorge Wagner e Wellington "invadem" a coletiva e o abraçam. Richarlyson chora e, depois de um tempo, prossegue). É por isso que, muitas vezes, minha vontade não é posta na mesa, por essas pessoas e outras pessoas que queriam que eu continuasse. É muito difícil estar se despedindo depois de cinco anos, onde conquistei as maiores vitórias. Muito difícil para mim. Futebol a gente nunca conquista tudo que a gente quer, porque tem pessoas que não estão no mesmo caminho, pessoas que não estão no mesmo rumo. Temos de seguir nosso rumo. Recordo do que Rogério Ceni sempre diz, que, quando a gente conquista um título, pode passar anos e anos, mas fica minha foto. Todos vão ver. É difícil, é contra minha vontade? É! Queria permanecer, tenho uma identificação muito grande. (Neste momento, Cleber Santana e Alex Silva chegam, se juntam aos companheiros e cantam a música "Amizade", do grupo Fundo de Quintal).

Destino é o Fluminense?
Não, ainda não tem nada decidido.

Argumento da diretoria
Entendo. A justificativa foi que, na nova filosofia de trabalho, eles vão privilegiar a base. E até por não ter alcançado o objetivo maior, a Libertadores, ou um título de expressão, entendo que a diretoria queira trazer meninos novos da base. Conversei com o Juvenal várias vezes, falei que gostaria de continuar, mesmo se fosse uma coisa diferente da minha vontade em termos financeiros. Mas a filosofia é diferente e a gente tem de aceitar. Futebol é assim. O mais importante é que saio pela porta da frente.

Pensa em voltar ao São Paulo?
Até ficaria lisonjeado de voltar. Mas a gente sabe que futebol é momento, eu posso dar um até logo ou posso dar um adeus, e daqui a três anos vocês me verem dando entrevista como jogador do São Paulo. Gosto de viver o momento, que é dificil, de felicidade, com mix de tristeza. Passa muita coisa na cabeça, pessoas importantes, muitas coisas legais. Tenho de lembrar que foram cinco anos e meio aqui dentro, em que conquistei muita coisa. Fora do profissional, conquistei muitos amigos, muitos. Não é só os que tiveram dentro de campo. Vocês precisam conhecer o presidente Juvenal Juvêncio como ser humano. Até brinco com meu pai e falo que ganhei mais um pai. O que esse cara fez por mim aqui dentro, e não preciso falar, porque ele sabe da minha gratidão. O que eu poderia ter feito para agradecer não só ele, como o saudoso Marcelo Portugal Gouvêia, é brilhante e fascinante, coisa de pai para filho. Não é só coisa de atleta para presidente, e é isso que vou sentir muita falta. Por isso que eu falava que queria encerrar no São Paulo, porque tenho alegria de trabalhar aqui. E sei que isso vai me fazer falta, talvez em outro clube que eu vá, eu não tenha essa liberdade, de conversar com todo mundo, de ser o que fui aqui dentro. Só tenho a agradecer, as pessoas que merecem, lógico que se eu citar aqui, posso esquecer de alguém, mas as pessoas sabem. Chegou o momento de dizer adeus, até logo, não sei. Passa um filme na minha cabeça e queria agradecer a tudo isso.

Após a entrevista, o superintendente de futebol Marco Aurélio Cunha pegou a palavra e fez um discurso de agradecimento ao volante.

Confira
"Gostaria de deixar uma mensagem para o Richarlyson. Em 1990, também deixei o São Paulo, não com a grandeza do Richarlyson, mas voltei em 2000 para reconstruir uma história. Você fará falta para a gente, é parte de nós, você fará muito sucesso em qualquer lugar, fará muitos amigos lá fora também. Você vai estar sempre conosco. Eu queria agradecer tudo que você fez pelo São Paulo, nós estaremos juntos. (os dois se abraçam e choram). TERRA

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