Um policial militar da reserva foi assassinado, e pelo menos dez pessoas foram mantidas reféns numa ótica no Centro de Vitória, após uma tentativa de assalto, na tarde de ontem. Houve troca de tiros e muita correria. A Avenida Jerônimo Monteiro, uma das principais avenidas da Capital, parou por quase três horas.
A confusão começou por volta das 16 horas, quando a proprietária de uma casa lotérica localizada na Jerônimo Monteiro seguia a pé para um banco escoltada pelo PM Vanderly Santana, 56 anos, que trabalhava como segurança do estabelecimento havia mais de dez anos. Num malote, a mulher levava R$ 47 mil.
A dona da lotérica e o militar andavam pela Avenida Princesa Isabel quando foram rendidos pelos criminosos, que, segundo a polícia, eram dois - no local, a informação era de que se tratava de três ladrões. Eles logo anunciaram o assalto. Ao entrar na frente da dona da lotérica para impedir que o malote fosse levado, Vanderly foi baleado. Outro militar - que fazia patrulhamento pela região - viu a cena e disparou. Começava a troca de tiros, em plena Princesa Isabel.
Vanderly levou três tiros - 2 no abdome e um abaixo da garganta - e caiu na porta de um bar. A proprietária da lotérica correu para se proteger dentro de uma lanchonete. Ela não ficou ferida, mas teve de ser amparada, devido ao estado de choque.
Os bandidos também correram, sem levar o malote. Um deles - identificado depois como Ricardo Alves Pereira, 35, o Cadinho - virou a esquina e entrou, com arma em punho, na Ótica Diniz, na esquina da Jerônimo Monteiro com a Rua Arariboia. Nesse momento, havia cerca de 80 pessoas nos três andares do comércio. Um eletricista que estava no local contou que, na hora em que o bandido entrou na loja, havia cerca de 15 pessoas naquele ambiente.
Já a polícia estima em dez o número de clientes mantidos sob a ameaça do criminoso. Uma dessas pessoas foi uma estagiária da loja, que ficou sob a mira da arma por cerca de três horas.
Vinte minutos após o crime, a região foi cercada pela PM, e viaturas foram utilizadas para impedir a aproximação de pedestres e carros. O trânsito foi totalmente desviado para as avenidas Princesa Isabel e Beira-Mar.
PMs iniciaram a negociação, e os reféns começaram a ser libertados aos poucos, sendo que mulheres e crianças foram soltas primeiramente. Cadinho exigiu a presença de familiares, de advogado e da imprensa para se entregar. Ele também pediu um colete à prova de balas. A namorada dele foi levada ao local, e pouco após as 18h30, o assaltante se rendeu. Após ser algemado, ele foi colocado numa viatura e levado para o DPJ de Vitória, sob aplausos de pessoas que assistiam à cena.
Vitor Jubini - NA. Policiais militares prendem assaltante que usou refén na Óticas Diniz
Atiradores de elite a postos
Além do bloqueio da Avenida Jerônimo Monteiro, a Polícia Militar atuou em várias frentes até que a situação nas Óticas Diniz, no Centro de Vitória, fosse resolvida. Atiradores de elite ficaram posicionados sobre prédios próximos à loja para agir caso fosse necessário.
Eles também usaram escadas de incêndio dos edifícios e ficaram na escadaria bem em frente à ótica, de forma que não pudessem ser vistos pelo criminoso, que estava próximo à porta de vidro do estabelecimento.
Policiais também fizeram o trabalho de negociação com Ricardo Alves Pereira, o Cadinho. Dos cerca de 15 reféns, quatro foram liberados pelo bandido por volta das 17h20. Três mulheres e uma criança saíram. Elas estavam sem ferimentos, mas visivelmente abaladas e foram atendidas em uma das viaturas do Corpo de Bombeiros.
Dentro da ótica, formou-se três grupos de reféns: clientes e funcionários de atendimento ficaram no mesmo ambiente do bandido. Nos fundos dessa área, há o laboratório de lentes e óculos do estabelecimento, onde outro grupo de funcionários e clientes que correram do tiroteio se trancaram. O local é cercado de vidro, o que permitiu que muitos funcionários assistissem a toda a ação criminosa.
"O homem estava nervoso com a arma na cabeça da menina (a estagiária). Ele ficou sem saber o que fazia direito", disse um funcionário do laboratório, de 32 anos.
No segundo andar, funciona a área administrativa. Mais de dez pessoas aguardavam para participar de uma seleção de emprego para trabalhar na ótica. "Eu participava da entrevista de emprego quando ouvi os tiros. Todos correram para uma sala e aguardamos em silêncio", contou um jovem de 25 anos.
Pânico e fuga
X. - Eletricista de 39 anos que também foi rendido por criminoso dentro de ótica, no Centro de Vitória, ontem
"Vi quando ele chegou à ótica, aparentemente calmo, com a arma na mão"
Os números que servem para conferir se o grau está certo ainda estavam nas lentes dos óculos de X., um eletricista de 39 anos, quando ele dava entrevista sobre a ação do assaltante dentro das Óticas Diniz, no Centro de Vitória.
X., que havia ido à loja para pegar os óculos novos, foi um dos primeiros a conseguir deixar a ótica. Mas, para isso, teve de se arrastar pelo chão até chegar à garagem.
O assaltante estava agressivo?
Vi quando ele chegou ao local, aparentemente calmo, com a arma na mão. Ele já foi anunciando o assalto. Todo mundo se levantou, desesperado. Havia umas 15 pessoas na loja.
O que o senhor fez?
Corri, como todo mundo. A maioria das pessoas foi para o banheiro. Vi muita gente indo também para o laboratório, e fui atrás deles, me arrastando pelo chão. Nós nos abaixamos atrás de um balcão e esperamos um funcionário procurar as chaves da porta do fundo e o controle do portão. Isso tudo durou de oito a dez minutos.
Como foi essa saída?
Pela garagem, numa passagem de serviços. Lá de dentro, um funcionário ligou para a polícia. Uma funcionária da ótica ficou bem nervosa, e uma outra mandou água para ela através do balcão. Eu estava com uns oito funcionários escondido no laboratório. Foram realmente momentos de muita tensão, de que não me esquecerei.
Testemunhas
"Estava atendendo quando ouvi os tiros. Bifão tentou puxar a arma, mas ela ficou agarrada.
Com a confusão, corremos para atrás do balcão do bar." Y., 19 anos, vendedor
"Não deu tempo de Bifão reagir. Ele ficou caído na porta do bar e agonizava. Quem agiu foi um PM que passava pelo local." X., 47 anos, funcionário público
"A funcionária da lotérica entrou no bar, desesperada. Ficamos com medo de os bandidos virem atrás dela. Ouvi mais de dez tiros." Z., 31 anos, comerciante
"Estou grávida de 4 meses e tive medo de perder o bebê e de não ver mais minha filha de
3 anos." T., 28 anos, laboratorista da ótica
"Fazia entrevista de emprego, no 2º andar da loja. Ouvimos os tiros e nos trancamos em uma sala. Fiquei preocupada com minha mãe, que estava no 1º andar." D., 26 anos,desempregada
Fonte: A Gazeta www2.gazetaonline.com.br (Deborah Hemerly, Glacieri Carraretto e Almir Neto )
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