domingo, 29 de julho de 2012

Morte do empresário Ricardo Prudente de Aquino. 'Achamos que o satanás ia sair do carro', diz policial


'Achamos que o satanás ia sair do carro', diz policial

"Foi uma tragédia, mas a gente achou que o satanás ia sair de dentro do carro." A frase é de um dos policiais militares que participaram da ação que culminou na morte do empresário Ricardo Prudente de Aquino, 39, no dia 18, após perseguição por ruas de Alto de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.

PMs acusados de matar empresário em São Paulo são soltos
Advogado diz que não deu tempo de PMs mexerem em cena do crime

Antes de morrer, Aquino, segundo a polícia, não obedeceu a uma ordem de parada de um PM e trafegou em alta velocidade em seu Ford Fiesta com películas escuras nos vidros laterais.

Esse PM que falou à Folha pediu para não ser identificado, pois não tem autorização da corporação para conceder entrevistas. Ele não é um dos três policiais que foram presos sob a acusação de homicídio doloso (intencional).

O cabo Robson Tadeu Paulino, 30, e os soldados Luis Gustavo Teixeira Garcia, 28, e Adriano Costa da Silva, 26, ficaram nove dias presos. Eles foram soltos anteontem por decisão judicial.

Reconstituição da morte
À Folha, o policial afirmou que o publicitário agiu de maneira errada ao fugir da polícia e seu comportamento era similar a de um criminoso.

"Se tivesse parado, nada de errado ia acontecer."

Na opinião do policial, a morte de Aquino deve ser avaliada dentro do seguinte contexto:

1) oito policiais foram mortos e cinco bases da PM foram atacadas desde junho;
2) o cabo Robson, um dos policiais envolvidos na ação, foi baleado em junho do ano passado numa tentativa de roubo na avenida Pacaembu;
3) a ação aconteceu em uma rua com pouca iluminação, e Aquino, agitado, fez um movimento brusco com o celular na mão, o que levou os PMs a acharem que ele estava armado e iria atirar.

"Vivemos um momento de tensão muito grande", disse.

Mesmo assim, ele conclui que a ação foi um erro. "Foi uma 'cagada'. O cerco foi correto. Errado foram os tiros. Bastou um policial atirar para os demais o seguirem."

O advogado da família de Aquino, Cid Vieira de Souza Filho, disse que nada justifica a ação dos policiais.

"Ainda que o Ricardo estivesse fugindo, a ação dos policiais foi errada. Se não estão preparados psicologicamente, não deviam ser PMs."

Sobre o movimento brusco, o advogado disse que essa tese não está comprovada.

"O celular dele estava há quase duas horas sem bateria. Ele não tinha para que pegar o celular", afirmou.

O processo foi relatado pela Polícia Civil e está agora com o Ministério Público, que deverá oferecer a denúncia (acusação formal) à Justiça nos próximos dias.

Nesta semana, o Tribunal de Justiça deverá decidir se os três PMs aguardam o julgamento presos ou livres. [FOLHA]


Promotor diz que vídeo mostra PMs alterando local de assassinato em SP
Promotor Rogério Zagallo diz que PMs recolheram cápsulas. Três policiais estão presos por matar a tiros Ricardo Aquino.

O Ministério Público Estadual de São Paulo informou nesta sexta-feira (27) que vai denunciar à Justiça os três policiais que mataram o empresário Ricardo Prudente de Aquino, após abordagem na noite do dia 18, na Zona Oeste de São Paulo, pelos crimes de homicídio doloso qualificado e fraude processual. De acordo com o promotor Rogério Leão Zagallo, agentes executaram uma vítima desarmada e ainda foram flagrados por câmeras de seguranças mexendo na cena do fato.

“Cenas gravadas por câmeras de segurança que estão com a Polícia Civil e que eu vi mostram os policiais militares recolhendo as cápsulas deflagradas. Isso é crime chamado fraude processual. Eles alteraram a cena do crime. Mexeram onde não devia”, afirmou Zagallo. A polícia não forneceu o vídeo ao G1

Procurado para comentar o assunto, o delegado Dejair Rodrigues, da 3ª Delegacia Seccional Oeste, informou que possui o vídeo citado pelo promotor.

A cena deveria ser mantida inalterada para a análise de peritos. Zagallo alega também que o crime ocorreu por volta das 22h e só foi comunicado à delegacia quatro horas depois, por uma advogada dos policiais. A denúncia será feita assim que o promotor receber o inquérito da Polícia Civil.

O cabo Adriano Costa da Silva e os soldados Robson Tadeu do Nascimento Paulino e Luís Gustavo Teixeira Garcia são investigados pela Polícia Civil estão detidos preventivamente no Presídio Romão Gomes, na Zona Norte da capital. O empresário, de 39 anos, foi morto com dois tiros na cabeça dentro de seu Ford Fiesta. A defesa dos policiais alega que seus clientes atiraram porque acreditavam que o motorista estava armado após ter supostamente furado um bloqueio policial.

Zagallo afirmou ainda que os policiais devem responder pelo fato de terem supostamente colocado dentro do veículo de Aquino 50 g de maconha.

O advogado Aryldo de Oliveira de Paula, que representa os policiais presos, afirma desconhecer a existência do vídeo. “Se estão escondendo essas provas, é cerceamento de defesa. Fiquei na quinta-feira da reconstituição e saí de lá perto das 23h. Até esse horário não fui informado nem vi essas imagens”, disse. Ele diz ainda que o fato de não conhecer a possível prova fere a súmula vinculante 14 do Supremo Tribunal Federal, que diz que é direito de todo advogado ter acesso a todas as provas produzidas.


Soltura

Nesta quinta (26), o desembargador Willian Campos, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), concedeu habeas corpus em caráter liminar solicitado pelo antigo defensor dos policiais. No dia 19 de julho, a juíza Lizandra Maria Lapenna, da 5ª Vara do Júri, do Fórum da Barra Funda, tinha convertido a prisão em flagrante dos PMs em preventiva.

De Paula afirmou que deverá fazer o pedido de liberdade ao juiz-corregedor da Polícia Militar, Alberto Cavalcante, ainda na tarde desta sexta-feira (27). Apesar da decisão do TJ-SP em soltar os três, eles continuavam detidos na manhã desta sexta porque respondem a um processo no Tribunal de Justiça Militar (TJM). Um juiz militar decretou a prisão preventiva deles por conta da conduta dos agentes.

“Crimes dolosos contra a vida são de atribuição do Tribunal de Justiça, não dos militares. O juiz militar não tem competência para decretar prisão.

O desembargador do TJ já mandou soltar meus clientes. Acredito que o juiz militar seguirá a decisão do magistrado da Justiça comum”, afirmou de Paula ao G1, nesta sexta.
Já o promotor Zagallo alega que a existência do vídeo é motivo suficiente para que os policiais continuem presos preventivamente.


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