Governo japonês admite que nível de radiação está 'perigoso' para saúde.
Ventos podem levar nuvem radioativa para Tóquio.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou nesta terça-feira (15) que a explosão provocada por um incêndio no reator 2 da usina nuclear de Fukushima, no Japão, afetada pelo potente terremoto de sexta-feira (11), seguido por um devastador tsunami, liberou radiação diretamente na atmosfera.
Em comunicado, a AIEA detalhou que obteve a informação das autoridades japonesas.
De acordo com a AIEA, ainda há fogo no depósito de armazenamento de combustível usado no reator 4, na mesma usina atômica, e que o complexo está seriamente danificado pelos fenômenos naturais que provocaram destruição e mortes em parte do país.
No local, foi registrado nível de radioatividade de até 400 microsievert por hora, diz a AIEA.
Além disso, alta na temperatura foi registrada nos reatores 5 e 6 da central nuclear, informou Yukio Edano, porta-voz do primeiro-ministro japonês. “Observamos uma leve elevação de temperatura nos reatores 5 e 6”, afirmou. Segundo ele, o problema é o mesmo que afetou outros reatores do complexo: falha no sistema de refrigeração.
Nocivo à saúde
No meio da tarde (15 horas local), Edano admitiu que o nível de radiação na área da usina nuclear de Fukushima estava "perigoso" para a saúde da população.
Pouco antes, o premiê japonês, Naoto Kan, já havia informado que um incêndio que atingiu o reator 4 fez a radiação subir "consideravelmente". Ele ampliou a área de isolamento radioativo na região da usina para 30 km.
Nuvem radioativa em Tóquio
A prefeitura de Tóquio registrou na manhã desta terça um nível de radioatividade levemente superior ao normal. Mas de acordo com as autoridades locais, a elevação no índice não oferece risco. "Registramos um nível de radiação superior ao normal esta manhã em Tóquio", declarou o responsável da prefeitura da capital japonesa, Sairi Koga, acrescentando que "não se trata de um índice suficiente para afetar a saúde humana".
A capital japonesa vive um dia de expectativa pela eminente possibilidade de ventos estarem soprando da região da usina nuclear danificada radiação à cidade. Os ventos, que podem estar carregados de componentes radioativos, se movem a uma velocidade de 2 a 3 metros por segundo, de acordo com a Agência Meteorológica do Japão. A previsão é de que a velocidade do vento aumente na quarta-feira (16), soprando de 3 a 5 metros por segundo em direção ao Oceano Pacífico.
Mais cedo, a embaixada francesa no Japão alertou que uma nuvem radioativa poderia atingir Tóquio no prazo de 10 horas, levando em consideração a velocidade atual dos ventos. O comunicado pede que os cidadãos franceses na cidade não entrem em pânico e fiquem dentro de suas residências, com as janelas fechadas.
Explosão
Por volta das 6h20 (horário local), uma explosão atingiu o reator 2. Ela pode ter danificado o reservatório de supressão, informou a Agência de Segurança Nuclear e Industrial, citando relatório da Tokyo Electric Power Co., operadora da usina. O teto do prédio do reator foi danificado, e havia vapor saindo dele.
A Tokio Eletric Power informou após a explosão que níveis de radiação quatro vezes mais altos foram medidos na província de Ibaraki, ao sul da usina, entre as províncias de Fukushima e de Tóquio.
O operador da central nuclear de Fukushima 1 anunciou a retirada de seu pessoal da área do reator 2, exceto pelos funcionários encarregados de bombear água para refrigerar o sistema em colapso.
SMS
O premiê Naoto Kan enviou mensagens para todos os celulares do país, um meio de atingir o maior número de pessoas possíveis. No SMS, o premiê pede à população para economizar energia. (G1)
Radioatividade pode entrar em cadeia alimentar no Japão
Reuters/Brasil Online
Por Tan Ee Lyn
Especialistas afirmam que qualquer exposição a material radioativo tem o potencial de causar vários tipos de câncer, e o risco aumenta quanto mais elevado for o nível de radiação.
Mas eles afirmam ser necessário medições mais precisas para o nível de radioatividade no Japão e na região para que se possa ter uma ideia mais clara dos riscos.
"As explosões podem expor a população à radiação por um longo período, o que pode elevar o risco de câncer. Os tipos são câncer da tiróide, câncer ósseo e leucemia. As crianças e os fetos são especialmente vulneráveis", disse Lam Ching-wan, químico patologista da Universidade de Hong Kong.
"Para alguns indivíduos, mesmo uma quantidade pequena de radiação pode elevar o risco de câncer. Quanto maior a radiação, maior o risco de câncer", disse Lam, que também é membro do Conselho Americano de Toxicologistas.
O material radioativo lançado ao ar pode ser diretamente inalado para o pulmão ou ser levado pela chuva ao mar e ao solo, e eventualmente contaminar plantações, a vida marítima e a água consumida pela população.
O leite de vaca também é especialmente vilnerável, segundo especialistas, caso os animais entrem em contato com o pasto contaminado.
Segundo Lee Tin-lap, toxicologista e professor associado da Escola de Ciências Médicas da Universidade de Hong Kong, as águas que banham o Japão precisam ser testadas para saber seu nível de radiação.
"Ninguém está medindo os níveis de radiação no mar", disse Lee à Reuters.
"A névoa que está sendo lançada ao ar eventualmente voltará para a água, e para a vida marítima será afetada... quando houver uma chuva, a água usada no consumo também será contaminada."
A Organização Mundial de Saúde disse nesta terça-feira que o Japão está tomando as medidas corretas para proteger sua população da radioatividade, incluindo a retirada de pessoas e a estocagem de iodeto de potássio, um antídoto à radiação.
(Reportagem adicional de Mayumi Negishi no Japão)
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