domingo, 23 de janeiro de 2011

Suspeito de matar jovem em balada diz que reza pela família da vítima

Igor Caleman foi morto na madrugada de domingo, 9 de janeiro, dentro de um bar em São Paulo. Acusado do assassinato, Raphael Carvalho falou pela primeira vez sobre o crime.


O estudante de Direito Igor Caleman, que
 morreu após briga em casa noturna de São Paulo
A violência de cada dia. Em 2010, em média, 113 pessoas foram assassinadas, todos os meses, em São Paulo - quase quatro mortes por dia. Nos últimos dias, dois assassinatos chamaram a atenção. Jovens foram mortos em baladas de bairros nobres da cidade.

Os jovens se divertiam em uma das regiões mais chiques de São Paulo, onde ficam os bairros Itaim Bibi e Vila Olímpia, lugar de muitos bares e boates. Na sexta-feira (21) e no sábado (22), produtores do Fantástico estiveram na região com uma câmera escondida. Flagramos muita gente bêbada e disposta a entrar em uma briga.

“Eu pago mil para não entrar. Mas pago R$ 10 mil para não sair”, diz um homem.

“Normalmente, chegam, sim, a vias de fato. Brigas por mulheres, por xingamentos, fila nos banheiros”, comenta a delegada Nilze Baptista Scapulatiello.

Igor Caleman cursava o último ano de Direito e trabalhava em uma empresa de cartões de crédito. Ele estava em um bar quando foi morto. Era madrugada de domingo, 9 de janeiro. Acusado do assassinato, o rapaz de 20 anos falou pela primeira vez com uma equipe de reportagem. Raphael Carvalho não quer mostrar o rosto. Diz que a briga começou depois de um esbarrão.

“Teve bate boca, troca de insultos, e o segurança separou a gente. Depois de uns dez minutos, fui fumar um cigarro com meus amigos. Estava na área de fumante. Ele puxou meu cabelo para baixo. Eu estava com o copo de chope na mão, e eu tentei me soltar. O copo acabou atingindo ele”, descreve Raphael.


O segurança do bar Luiz João Pedro Telles da Costa conta uma versão bem diferente.

“Do jeito que o rapaz que faleceu puxou o cabelo, pus a mão no peito dos dois. Do jeito que os dois foram para trás, o rapaz arremessou bem no pescoço do menino”, lembra o segurança.

“Não estava embriagado naquele dia. Era o meu segundo copo de chope, que eu nem tinha terminado ainda”, se defende Raphael.

Raphael faz faculdade de Administração e é analista de crédito em um banco. Foi preso em flagrante e indiciado por homicídio doloso - quando há intenção de matar. Passou quatro dias na cadeia e foi solto. A Justiça decidiu que ele pode responder em liberdade.

“As investigações precisam ser aprofundadas, porque tudo leva a crer que Raphael agiu em legítima defesa”, avalia o advogado de Raphael, Luciano de Freitas Santoro.

“Se eu tivesse a possibilidade de falar alguma coisa para a família dele, eu diria que eu estou muito chateado com isso. Estou rezando todos os dias, peço pela minha família que está muito mal com isso. Peço pela família do menino, para o próprio menino encontrar uma luz, mesmo porque não foi minha culpa”, diz Raphael.

“O que eu falaria para ele é que ele causou muito mal para mim. Mas eu não posso me furtar como cidadão, de exigir justiça”, declara Gilson Caleman, pai de Igor.

Ruas movimentadas à noite toda e muitos jovens à procura de diversão. Foi na Vila Olímpica, região nobre de São Paulo, em frente a uma boate, que aconteceu outro caso recente de violência na balada paulistana. Uma foto foi tirada pouco antes de Ronald Braum, promotor de eventos, ser morto com um tiro. No último domingo (16), ele e cinco amigos se envolveram em uma briga. Motivo: um deles dançou com uma moça e um rapaz, de óculos, não gostou.

Na saída, um rapaz e outro - que estava de bermuda e aparentemente não tinha entrado na boate - discutiram de novo com Ronald e os colegas. O que estava de bermuda sacou uma arma e atirou várias vezes, matando Ronald e ferindo mais três pessoas. Os criminosos ainda não foram identificados.

“Ele não tinha o costuma de ir nessa balada, era a primeira vez. Primeira vez que ele foi conhecer”, diz Maria Rosa Alfredo Braum, mãe se Ronald.

As roupas dele vão ajudar as vítimas da chuva, no Rio de Janeiro.

“O pessoal que também, infelizmente, está passando pela dificuldade. A gente vai doar”, diz Rafael Alfredo Braum, irmão da vítima.

Na madrugada deste domingo (23), na saída de uma boate da Vila Leopoldina, Zona Oeste da cidade, flagramos o desespero de uma moça. Ela diz que estava com o namorado e que, mesmo assim, um homem levantou o vestido dela. Houve briga e ela acabou levando um soco no rosto.

“Pelo amor de Deus, ele me bateu muito. Eu quero ir embora”, se desesperava a jovem.

Estão na internet vários flagrantes de brigas na saída de baladas paulistanas. Para evitar que cenas assim terminem em tragédia, Gilson Caleman, o pai de Igor - o estudante que morreu ferido por um copo de vidro - faz ainda um apelo emocionado aos pais de jovens.

“Ensinem seus filhos um senso de amor ao próximo, de paz. Se a gente não der esses ensinamentos diariamente para os nossos filhos, as tragédias vão continuar acontecendo”, conclui.

FANTÁSTICO

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