quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Abraço da mãe salva criança da morte em grave acidente na BR 101 em Sooretama

Os bombeiros tiveram muita dificuldade para retirar a criança das ferragens. O menino de 2 anos foi o único sobrevivente. Ele sofreu um corte na cabeça e foi encaminhado ao hospital.

"Tio, me tira daqui." Esse foi o pedido dramático de socorro de um garoto de 3 anos de idade que ficou preso às ferragens em um grave acidente ocorrido por volta das 0h20 de ontem, no quilômetro 116 da BR 101, em Sooretama, no Norte do Espírito Santo. Segundo relato do Corpo de Bombeiros, a criança só sobreviveu porque sua mãe, Maria das Graças Celestino, abraçou o menino e absorveu o impacto da batida. Maria das Graças, duas irmãs de Hugo Gabriel e o motorista do caminhão, Deumiro Martins Sipolatti, de 51 anos, morreram na hora. A mãe e as crianças vinham, de carona, do interior da Bahia, onde moravam, para Colatina, no Norte capixaba, onde recomeçariam a vida. 

O trágico episódio teve início por volta das 23h30 de terça-feira, quando dois caminhões bateram de frente em outro ponto, no Km 118 da 101 Norte, perto da entrada que dá acesso à localidade de Jueirana, zona rural de Sooretama. 

Um caminhão carregado de carvão seguia no sentido São Mateus - Linhares quando o motorista invadiu a contramão. O veículo bateu de frente com uma carreta que vinha no sentido contrário. A carga e o caminhão de carvão ficaram atravessados na rodovia, interditando os dois lados da pista. O motorista que transportava carvão, Luís Carlos Stefani, 52, morreu no hospital. O outro, Jocimar Vagmaker dos Santos, 31, ficou ferido, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF).





Logo, um imenso congestionamento formou-se. Cerca de uma hora depois, o caminhão-baú em que estava a família de Hugo Gabriel não conseguiu parar e bateu em cheio na traseira de uma carreta carregada de toras de eucalipto, que estava parada no engarrafamento. Segundo informações da PRF, o caminhão-baú - que transportava gesso - vinha de Pernambuco.


A mesma equipe de resgate do Corpo de Bombeiros que tinha acabado de levar o motorista ferido do primeiro acidente para um hospital de Linhares, voltou ao local do novo acidente. A cena do pequeno Hugo Gabriel, preso às ferragens do caminhão, emocionou até mesmo os profissionais que estão acostumados a lidar com os graves acidentes que ocorrem na BR, a maioria deles envolvendo caminhões. No local, a criança não parava de chamar a mãe.

O resgate de Hugo Gabriel foi dramático. O menino apresentava um corte na cabeça e na perna e estava bastante sujo de sangue. As pernas da criança ficaram presas entre o painel do caminhão e o corpo da mãe, que ainda o abraçava. Após meia hora de trabalho, o garoto foi retirado do veículo e levado para o Hospital Rio Doce, em Linhares. Na manhã de ontem, ele foi transferido para o Hospital Geral de Linhares (HGL), e seu estado de saúde é estável. Os corpos das vítimas foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Linhares.

Cinegrafista: "Em 13 anos, nunca vi uma cena tão forte" 
O cinegrafista Fernando Estevão, da TV Gazeta Norte, 41 anos, conta a emoção de ter ajudado no resgate do menino Hugo Gabriel Celestino de Matos, 3 anos, e de ter chegado primeiro ao local do acidente, ocorrido no final da noite de terça-feira, em Sooretama. Ele registrou com exclusividade toda a ação. "Em 13 anos de trabalho, nunca tinha visto uma cena tão forte", comentou, emocionado.

"Eu gravava as cenas de um acidente que tinha interditado a BR 101, quando uma pessoa chegou correndo e pediu ajuda para salvar uma família que estava em um caminhão que tinha acabado de bater em outro ponto. Quando cheguei, pensei que, pelo tamanho do estrago, ninguém teria escapado com vida. Até que comecei a ouvir a voz de uma criança, gemendo e pedindo socorro. Liguei imediatamente para os bombeiros", disse.

Por causa da escuridão no local do acidente, inicialmente, os bombeiros tiveram que contar com a ajuda da iluminação da câmera. Foram utilizadas tesouras e macacos hidráulicos no resgate para cortar as ferragens. Hugo foi levado para o Hospital Rio Doce, com um corte na cabeça, e transferido para o Hospital Geral de Linhares (HGL). Estado do menino é estável.

Polícia investiga excesso de carga 
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) investiga se o caminhão-baú carregado de gesso estava com excesso de peso. De acordo com o chefe da Delegacia da PRF do Norte do Estado, inspetor Marcos Antônio Ferreira, há possibilidade de o caminhão estar com quatro toneladas a mais do que o permitido em lei.

"Pelos cálculos que fizemos, há sim excesso de peso. O caminhão-baú está apreendido, à disposição da polícia. Não conseguimos encontrar a nota fiscal da mercadoria no veículo", explicou o inspetor.

A PRF tentou levar o caminhão-baú ontem à tarde até uma balança do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), mas não obteve sucesso. 

Velocidade 
A polícia acredita, ainda, que o motorista do caminhão-baú carregado de gesso, Deumiro Martins Sipolatti, 51 anos, poderia estar em alta velocidade. "Como ele estava bem pesado e, possivelmente com excesso de carga, não conseguiu parar", ressaltou Ferreira.

Segundo o inspetor da PRF, Deumiro havia carregado o caminhão em Pernambuco e estava vindo para a Barra do Jucu, em Vila Velha, onde morava. Um funcionário da empresa de gesso que receberia o carregamento esteve em Linhares ontem e confirmou a identidade do motorista.

Bombeiro conta emoção de resgate 
"Acredito que a mãe, ao perceber que o caminhão iria bater, abraçou o filho e ficou de costas para o painel do carro, absorvendo a pancada. Isso foi fundamental para que a criança pudesse sobreviver", afirmou o cabo Paulo Roberto Rodrigues Nascimento, um dos primeiros bombeiros a chegar ao local da tragédia que matou quatro pessoas, na BR 101 Norte, no início da madrugada de ontem.

Nascimento, que tem 18 anos de profissão, emocionou-se ao contar que pretende rever o menino, assim que ele estiver em condições de receber visitas. "Sou pai e, quando vi a criança naquela situação, foi uma sensação muito difícil. A gente acaba se colocando no lugar do pai do menino e percebemos que o garoto está completamente desprotegido e que precisa de um socorro, o mais rápido possível. Tivemos muita dificuldade para retirar a criança das ferragens, mas o empenho de toda a equipe foi muito grande, pois precisávamos salvar a vida daquele garoto", explicou.

Ainda de acordo com o bombeiro, o fato de Hugo ter escapado com vida foi um verdadeiro milagre. "Pelo que vi no local do acidente, houve uma proteção muito grande por parte da mãe da criança. Ela estava em posição contrária ao impacto", contou Paulo Roberto. 

Ultrapassagem causou colisão minutos antes 
O motorista Luís Carlos Stefani, de 52 anos, que dirigia o caminhão carregado de carvão no primeiro acidente registrado em Sooretama, também estava próximo de seu destino. Assim como o caminhoneiro Deumiro Martins Sipolatti, ele saiu do Nordeste - só que do Piauí - e entregaria a carga em Ibiraçu.

Uma ultrapassagem em local proibido, no entanto, tirou a vida de Luís Carlos. No quilômetro 118 da BR 101 Norte, ele invadiu a contramão e bateu de frente com uma carreta de eucalipto, que estava vazia e seguia no sentido contrário da rodovia.

De acordo com o chefe da Delegacia da Polícia Rodoviária Federal de Linhares, no Norte do Estado, inspetor Marcos Antônio Ferreira, o motorista do caminhão de carvão pode ter cochilado ao volante. 

"Esse trecho não é um local onde costuma ocorrer acidentes. Com o impacto da batida, a carga ficou toda espalhada pela pista, fechando a rodovia", explicou Ferreira.

Com a paralisação do trânsito, longas filas de carros se formaram em ambos os sentidos da BR 101 Norte. Cerca de 40 minutos depois, o caminhão-baú carregado de gesso, dirigido por Deumiro Sipolatti, acabou batendo na traseira de uma carreta carregada de eucalipto, onde estava menino Hugo Gabriel.  (A Gazeta - Fabricio Marvila e Anny Giacomin )

2 comentários:

  1. Fiquei muito comovida com essa estória. Aqui estou conseguindo saber até mais detalhes do que tinha visto no Fantástico. Queria muito ajudar esse menino mas não sei como fazer isso. Se fosse do interesse da família, eu até adotaria para confortá-lo com muito amor e carinho meu e de meus filhos....(o mais novo se chama Gabriel e tem 4 anos).
    Cynthia Delgado - Rio de Janeiro

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  2. Neste dia eu estava terminando o plantão da empresa que eu trabalhava e estava vendo o noticiário, ao rever essa tragédia me emocionei novamente...tem alguma informação sobre o menino? Onde vive ou como está hoje?

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