Os carros contrabandeados vinham quase sempre de Miami, nos Estados Unidos. Ou já partiam de lá com documentos falsos, ou a quadrilha corrompia funcionários dos portos brasileiros mais usados por ela.
O Fantástico traz imagens exclusivas sobre a operação da Polícia e da Receita Federal que, esta semana, desmontou um esquema de importação ilegal de carros de luxo.
Dezenas de automóveis sofisticados foram apreendidos. Entre os donos, estão cantores e jogadores de futebol. O próximo passo da investigação é descobrir quem foi enganado pela quadrilha e quem sabia que estava fora da lei.
A história dos 40 carros apreendidos esta semana em 14 estados e no Distrito Federal começa na explosão de outros dois automóveis, no Rio de Janeiro, há um ano e meio.
Em abril de 2010, uma bomba foi detonada no carro do contraventor Rogério Andrade, chefe de um dos grupos que exploram caça-níqueis no país. O fogo atingiu também o veículo onde estavam os seguranças dele. Rogério escapou, mas o filho morreu no atentado.
Segundo a Polícia Federal, o israelense Yoram el Al teria sido contratado por inimigos de Rogério Andrade para ajudar a executar o crime. Integrantes de uma máfia internacional da qual o israelense faz parte teriam trazido o material para fabricar a bomba.
A partir desse caso, os passos de Yoram foram seguidos pelos agentes e a investigação mostrou uma ligação estreita entre mafiosos do Brasil e do exterior. A parceria ia além dos jogos ilegais. Havia também contrabando de pedras preciosas e de carros importados usados. A lei brasileira só permite a importação de carros zero quilômetro.
Yoram foi preso na operação de sexta-feira (7) e chegou a sorrir para a câmera. Ele estava na lista dos bandidos mais procurados do mundo, por crimes como tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Não foi a primeira vez que a polícia brasileira prendeu Yoram. Em 2006, ele foi preso por estar em situação irregular no país. Ainda na cadeia, conseguiu autorização judicial para que o sêmen dele fosse recolhido e teve um filho brasileiro. Dois pedidos de extradição, um dos Estados Unidos e outro do Uruguai, foram negados e o israelense ganhou na Justiça o direito de ficar morando no país.
Yoram era um dos contrabandistas que forneciam os carros vendidos na loja de Haylton Escafura, filho de outro contraventor. Escutas gravadas com autorização da Justiça mostram negociações de até R$ 1,7 milhão por um Lamborghini. Quem pode desembolsar, em uma tacada só, quantias de, no mínimo, R$ 200 mil por um carro?
O jogador Emerson Sheik, hoje no Corinthians, não foi encontrado pelos investigadores na sexta-feira. Ele tem dois dias para entregar o carro importado irregularmente, um luxuoso Chevrolet Camaro.
Emerson teria apresentado outro jogador, Diguinho, do Fluminense, aos donos da concessionária. Diguinho aparece ao lado do BMW X-6, poucos dias antes da operação, mas o carro foi apreendido na apresentação.
Kleberson, do Atlético Paranaense, usava um GMC Hummer, também apreendido. E procuradores dizem que também investigam jogadores do Flamengo e do Botafogo. O cantor Latino é outro que não foi encontrado, e tem que apresentar à Receita Federal, até terça-feira, um Cadillac Escalade.
“Eu não posso entrar em detalhes sobre uma ou outra transação. Mas os indivíduos que compraram esses carros sabiam na maior parte, a gente tem certeza disso, sabiam que o automóvel era usado”, garante o procurador.
O Ministério Público Federal também pediu uma investigação sobre o cantor Belo. O motivo: segundo a polícia, vários telefonemas gravados citam o cantor. Em um deles, Haylton, o dono da concessionária, ameaça recolher, por falta de pagamento, dois carros comprados por Belo: eles são dos modelos Audi R-8 e Porsche Panamera.
Procurados pelo Fantástico, Belo, Latino e Kleberson afirmam em nota que agiram de boa fé e que não sabiam de irregularidades ao comprar os carros. Também em nota, Emerson disse que se desfez do carro há quatro meses. Por telefone, o assessor de Diguinho afirmou que o carro do jogador está em situação regular e será devolvido a ele.
Os carros contrabandeados vinham quase sempre de Miami, nos Estados Unidos. Ou já partiam de lá com documentos falsos, ou a quadrilha corrompia funcionários dos portos brasileiros mais usados por ela: Recife, Vitória e Rio de Janeiro.
Na primeira fase da investigação, foram identificados 103 carros que entraram ilegalmente no Brasil: carros usados vendidos como zero quilômetro. “Sejam ou não sejam artistas, esportistas, todos eles responderão pelos delitos de contrabando nesse primeiro momento. E, caso seja comprovado, também responderão pelo delito de sonegação fiscal”, diz o procurador.
FANTÁSTICO
Essa lei de não poder importar carro usado é ridicula
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